A postura da Igreja frente as aparições de Nossa Senhora

As aparições de Nossa Senhora geram especulação em todo mundo católico. Mas o que realmente devemos entender quando falamos de aparição? Primeiro, devemos distinguir entre aparição e visão. Fala-se de aparição quando alguém aparece fisicamente, de modo que todos ao redor podem ver. Portanto aparição se trata de uma realidade objetiva, que se dá fora da pessoa. De modo diferente, visão indica uma experiência interna pela qual apenas o místico vê, mas as pessoas ao redor não veem.

Por exemplo, se alguém fala que está um boi dentro da casa, se for aparição todos que estão próximo deverão ver. Porém, se alguém afirma que está vendo um boi dentro de casa, mas ninguém ao redor consegue ver, se trata de uma visão e não aparição.

As pessoas seguem falando impropriamente de aparições de Nossa Senhora, quando se tratam de visões, pois apenas os místicos relatam vê-la. O Cardeal Próspero Lamberini (1675-1758), papa Bento XIV, preferia falar em visões, o que seria mais condizente. A própria Bíblia relata uma visão de Judas Macabeu, o qual em oração viu o sacerdote Onias e o profeta Jeremias, ambos falecidos, intercedendo pelo povo judeu (2Mc 15,12-15). Na palavra de Deus as visões são aceitas, mas as aparições não, “Pois é posto um selo (com a morte) e ninguém volta” (Sb 2,5; Lc 16,26).

Muitos perguntam se devemos admitir as visões de Nossa Senhora. Qual é a orientação? A Igreja admite que toda revelação necessária para nossa salvação está na Escritura. A Revelação Divina, pública e oficial foi encerrada com a geração dos apóstolos, de modo que não há que se esperar uma nova revelação pública. Assim sendo, os católicos são livres para acreditarem nas visões de Nossa Senhora e santos.

Os evangélicos criticam as visões de Maria, dizendo que falta respaldo bíblico. Obviamente que não há aparições marianas na Bíblia nem de outros justos falecidos. Mas as visões são possíveis, como vimos acima. Embora muitas visões resultam da subjetividade do místico, movido pelas crenças e estado psicológico, Deus pode permitir que Maria se utilize da subjetividade do místico para se manifestar.

Dos milhares de visões, ao longo da história, apenas algumas foram aceitas. Nsra do Escapulário a São Simão Stock (1251); Nsra do Caravágio a Joaneta (1432); Nsra de Guadalupe a Juan Diego (1532); Nsra das Graças a Santa Catarina de Loubouré (1830); Nsra de La Salette a Melânia e Maximino (1846); Nsra de Lourdes a Santa Bernadete (1858); Nsra de Fátima a Lúcia, Jacinta e Francisco (1917).

Ao aprovar uma visão a Igreja está apenas aprovando a invocação de Nossa Senhora, relacionado a determinado local, fatos ou pessoas. Mas com isso não está impondo que se deve crer que a visão ocorrida naquele lugar foi provocada por Deus. São quatro os critérios que a Igreja adota para avaliar a veracidade de uma visão.

  1. O conteúdo da mensagem. O conteúdo da mensagem está em sintonia com a verdade cristã? Está em sintonia com a moral e com o Credo católico? Não há expressões de fantasias dos místicos, fascinados por maravilhas? Ora, é de conhecimento que pessoas de boa fé podem propor coisas pessoais, como se fosse revelação divina.
  2. A saúde mental dos místicos. Os videntes possuem boa saúde mental ou são vítimas de alguma alucinação ou estado patológico? Isso acontece com certa frequência, de modo especial quando envolve a religião, pois a temática religiosa sugere “intuições”, dado o peso da espiritualidade no cotidiano das pessoas.
  3. A honestidade dos místicos. Da parte dos videntes, há amor, honestidade e compromisso com a verdade? É possível identificar cobiça por dinheiro, busca de prestígio ou status dos videntes? Não há charlatanismo ou desejo de autopromoção dos místicos?
  4. Bons frutos. A Igreja procura saber se aquela mensagem resulta em benefícios espirituais como conversão, mudança de vida, amor a oração, progresso nas virtudes, etc. Também se pergunta pelos benefícios corporais (graças no plano físico ou material).

Depois de avaliar o relato de uma pretensa visão são três as posturas possíveis da Igreja: condenação, silêncio, ou aceitação.

  1. Postura de condenação. A Igreja assume essa postura quando os místicos agem com má fé, seja consciente ou de modo inconsciente; charlatanismo, interesses econômicos, desequilíbrio psicológico, fanatismo e propagação de mensagens contrárias a fé cristã.
  2. Postura de silêncio. Quando a pretensa aparição tem favorecido a oração, a conversão, compromisso social, fervor espiritual, a Igreja observa com calma, podendo um dia permitir que Nossa Senhora seja invocada com o título do local ou do fato relacionado a visão.
  3. Postura de aceitação. Depois de acompanhar o relato de uma aparição, rica em frutos espirituais, como em Fátima, em Lourdes, Guadalupe, entre outras, a Igreja se pronuncia aprovando o culto a Maria, com a invocação do título relacionado a devoção.

Como vimos acima, as visões são frequentes na vida dos místicos e até mesmo na Bíblia, de modo que podemos concluir que algumas vezes a mãe de Jesus se valeu dessas visões para animar nossa caminhada de fé. Portanto, os católicos devem optar por falar em visões de Nossa Senhora, uma vez que a Bíblia não admite a possibilidade de aparições de justos falecidos. A única exceção é Jesus ressuscitado que apareceu aos seus por um período de 40 dias.

Imagem: Pìxabay

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