Quinto domingo da quaresma (21). Caminhamos firmes rumo ao horizonte próximo que se desponta na esperança da Páscoa do Cristo Ressuscitado. Ali, ELE vencerá a morte e nos abrirá a porta gloriosa da vida plena, possibilitando aos mortais, sermos acolhidos por Deus no seu Reino, na parusia, onde haverá a fonte de esperança e de alegria em paz e verdade.
Enquanto isso, vamos caminhando, tentando viver um dia de cada vez neste cenário em que a morte veio nos fazer companhia. Somos absorvidos pela angústia e pela dor de chorar a morte prematura dos nossos amigos, parentes, vizinhos. O coração dolente, enche de tristeza por não podermos nada fazer, a não ser nos precavermos para não sermos os próximos a infectados, cumprindo os protocolos propostos e rezar para que Deus tenha misericórdia de nós, já que fomos abandonados a mercê da própria sorte. Estamos perdendo a alegria de viver e de ter também uma morte com o mínimo de dignidade, já que ela acontece longe de tudo e de todos.
Perdemos a alegria de viver, mas não perdemos a esperança de lutar contra os anjos da morte e os seus mandarins orquestrados. Neste espírito de luta, vamos fazendo a nossa caminhada juntos com o Nazareno, que segue firme no seu propósito de denunciar a estruturas de morte e anunciar a Boa Nova do Reino. ELE é fiel e não arreda o pé. Conclama-nos a todos a fazer a mesma experiência da semente, que precisa passar pelo processo doloroso e solitário da morte, para ser geradora de uma nova vida, de uma nova perspectiva. “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto”. (Jo 12,24) Vençamos a tristeza e nos coloquemos nesta estrada com Jesus.
A prédica de Jesus está intimamente associada à sua prática. Ou seja, a sua palavra vai nos conduzindo rumo a este encontro com o Reino. Uma prédica que é permeada pela sua prática coerente. Um Messias predito pelas Escrituras, mostrando, porém sua verdadeira missão: dar a vida para salvar e reunir o seu povo. Uma prédica que conclamava os que o ouviam a converter-se “pois o Reino estava próximo” (Mt 3,2), tendo por fundamento o anúncio do “Evangelho do Reino”. Mesmo não compreendido num primeiro momento. Um Reino que estava próximo no espaço/tempo porque ELE, através da sua prática libertadora, ia fazendo acontecer os sinais deste Reino.
Assim, com esta sua prédica Jesus anunciava por todo lado, começando pela Galileia, ensinando em suas sinagogas, passando pela Samaria, Judeia, Jerusalem. Uma prédica que se expandia para todos os lugares, nas praças, nas ruas, nas estradas, nas montanhas, no lago e, inclusive no Templo de Jerusalém, lá onde estavam as serpentes venenosas. Não só de falar, mas sobretudo, de ações concretas em favor dos pobres para serem libertos do jugo da escravidão a que estavam submetidos. Uma prédica que Mateus a define da seguinte forma: “O evangelho do Reino será proclamado em todo o mundo, para que seu testemunho seja dado a todos os povos” (Mt 24,14).
Juntos com Jesus somos todos e todas, sementeiras de esperança do Reino. Cada um é uma sementeira. A terra fértil de nosso coração deve estar sempre pronta a acolher a semente das boas idéias, dos bons pensamentos e das energias positivas que brotam das nossas ações cotidianas. A nossa vida, de maneira geral, foi constituída pelo próprio Deus que injetou em nós, o sopro divino da criação e do amor que se faz semente a produzir na esperança. É o que nos propõe Jesus no evangelho deste domingo (Jo 12,20-33), quando nos abrimos à possibilidade de transformamos em sementes para que nasça outra realidade a partir da semente que somos.
Numa das frases atribuídas a Roger Stankewski, ele assim afirma: “Confie na chuva, mas prepare a terra e plante a semente. Isto vale para a vida, confie em Deus, mas não fique de braços cruzados”. Desta forma vamos compreendendo que Deus pede que façamos a nossa parte. ELE, com certeza, fará a parte d’Ele, mas nós precisamos arregaçar as mangas e nos pormos ao trabalho. Afinal de contas, nunca nos esqueçamos de que: “ELE é a videira; nós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. (Jo 15, 5)
Em meio a um clima de morte é pertinente falar da vida e da semente da qual brota o fruto. Somos desafiados sermos portadores de boas sementes e que delas possam brotar muitos frutos bons. Acaso você já parou para pensar, quanto aos tipos de frutos que você tem produzido? Que tipo de terra, tem sido preparada em seu coração, para acolher as sementes lançadas pela vida? As suas relações cotidianas são marcadas por bons frutos? Quais são os frutos que você está sendo capaz de produzir, no seio da sua família? Contribuímos assim, cada qual a seu modo, com as sementes do Reino que vamos fazendo acontecer entre nós aqui e agora.