Reflexão litúrgica: Sexta-feira, 06/10/2023,
26ª Semana do Tempo Comum
Na Liturgia desta sexta-feira, 26ª Semana do Tempo Comum, na 1a Leitura (Br 1,15-22), os fiéis dispersos relembram os horrores da queda de Jerusalém e falam de sua própria dor, para confessar seus pecados, cujo castigo estava descrito no livro do Deuteronômio (Dt 28,15-68). Meditando sobre sua história, a geração presente reconhece o pecado das gerações passadas e se solidariza com elas. É importante que o povo de Deus reconheça seus próprios erros e pecados, a fim de proclamar a inocência e justiça de Deus.
A prece de confissão que os exilados dirigem a Deus é a sentida expressão da conversão sincera da comunidade israelita. A aliança com Deus, laço vital entre Deus e seu povo, foi dilacerada com o pecado. Aos muitos benefícios concedidos por Deus antes do exílio e na terra prometida, e depois com os profetas, Israel respondeu com leviandade, desobedecendo à palavra do Senhor e rebelando-se contra o seu amor com culto idolátrico. A triste experiência do exílio e do sofrimento reconduz o povo, confiante no novo pacto a Deus, que salva e perdoa.
No Evangelho (Lc 10,13-16), vemos que os discípulos são organizados por Jesus para anunciarem a Boa Notícia no caminho e começarem a realizar os atos que concretizam o Reino. Aqueles que não quiserem aderir à Boa Nova ficarão fora da nova história.
Jesus também lamenta que cidades de Israel que puderam contar com sua presença tenham rejeitado a mensagem do Reino e da justiça de Deus, mensagem essa concretizada na atividade de Jesus junto aos pobres. Por isso serão julgadas mais severamente que outras cidades estrangeiras, denunciadas em textos proféticos, pois afinal estas não tiveram a mesma oportunidade dada às cidades de Israel.
A recusa à palavra dos enviados de Jesus é recusa e desprezo a Cristo e ao Pai que o enviou. O Concílio Vaticano II ensina que “os Bispos receberam, com os seus colaboradores os presbíteros e diáconos, o encargo da comunidade, presidindo em lugar de Deus ao rebanho de que são pastores como mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado, ministros do governo… os bispos, por instituição divina, sucederam aos apóstolos como pastores da Igreja, e quem os ouve, ouve a Cristo; mas quem os despreza, despreza Cristo e aquele que enviou Cristo” (LG 20). O que dizer, então dos católicos que desprezam o Papa, alguns, em suas orações assim se expressam: “Senhor, iluminai-o ou eliminai-o! Desprezam a CNBB e muitas dos nossos líderes de Movimentos Sociais, acusando-os de comunistas, esquerdistas etc. O mesmo Concílio na Constituição Dogmática Lumen Gentium, Sobre a Igreja, assim se expressa sobre estas pessoas que estão na Igreja, mas só de corpo e não por inteiro:
“São plenamente incorporados à sociedade que é a Igreja aqueles que, tendo o Espírito de Cristo, aceitam toda a sua organização e os meios de salvação nela instituídos, e que, pelos laços da profissão da fé, dos sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão, se unem, na sua estrutura visível, com Cristo, que a governa por meio do Sumo Pontífice e dos Bispos. Não se salva, porém, embora incorporado à Igreja, quem não persevera na caridade: permanecendo na Igreja pelo ‘corpo’, não está nela com o coração. Lembrem-se, porém, todos os filhos da Igreja que a sua sublime condição não é devida aos méritos pessoais, mas sim à especial graça de Cristo; se a ela não corresponderem com os pensamentos, palavras e ações, bem longe de se salvarem, serão antes mais severamente julgados” (LG, 14).
Também o Papa São João Paulo II, na sua Carta Encíclica Veritatis Splendor, sobre algumas questões fundamentais do ensinamento moral da Igreja, rejeita as mentalidades que usam as redes sociais para depreciar os ensinamentos dos seus representantes constituídos:
“O ensino da doutrina moral implica a assunção consciente destas responsabilidades intelectuais, espirituais e pastorais. Por isso, os teólogos moralistas, que aceitam o encargo de ensinar a doutrina da Igreja, têm o grave dever de educar os fiéis para o discernimento moral, para o empenhamento no verdadeiro bem e para o recurso confiante à graça divina.
Se a convergência e os conflitos de opinião podem constituir expressões normais da vida pública, no contexto de uma democracia representativa, a doutrina moral não pode certamente depender do simples respeito por um tal processo; ela, de fato, não é absolutamente estabelecida, seguindo as regras e as formas de uma deliberação de tipo democrático. A discordância, feita de interesseiras contestações e polêmicas através dos meios de comunicação social, é contrária à comunhão eclesial e à reta compreensão da constituição hierárquica do Povo de Deus. Na oposição aos ensinamentos dos Pastores, não se pode reconhecer uma legítima expressão da liberdade cristã nem da diversidade dos dons do Espírito” (VS, 113).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.