Na Liturgia deste IV Domingo da Quaresma, veremos, na 1a Leitura (2 Crônicas 36,14-16.19-23)), que os pecados, as infidelidades, a falta de responsabilidade e o não ouvir a orientação divina por parte dos líderes políticos e de grande parte do povo, são as causas das maiores desgraças pessoais, sociais, estruturais, eclesiais e mundiais. Mas Deus é misericórdia e busca o ser humano para resgatar sua Aliança de amor. Vejamos alguns exemplos:
– “Adão, onde estás? Ouvi a tua voz!” (Gn 3,9).
– “O Senhor disse a Caim: onde está teu irmão? Caim respondeu: não sei! Sou porventura eu o guarda do meu irmão? O Senhor disse-lhe: Que fizeste! Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra” (Gn 4,9-10).
– “Abraão, Abraão? Chega de pensar só em ti, deixa tua terra, teus bens, tua segurança…” Consequências desse diálogo: “Em ti, toda a humanidade será abençoada”. Toda humanidade receberá as bênçãos. “Os justos viverão para sempre”. Deus é a segurança: “Sai da tua terra”, daquilo que te impede de crescer, do fechamento. “Se a semente não aceitasse sair não teríamos frutos” (Jo 12,24). “Abraão sacrifique teu filho! Ele relutou, mas disse: Deus está acima de minhas convicções” (Gn 12,1-3).
– Moisés (1250 a.C): No Egito, o povo era escravo e Deus ouviu a dor, o grito de libertação de seu povo e chama Moisés para colaborar. Quando a pessoa colabora, acontece o maior milagre de Deus na história que é o de mudar os seus próprios rumos. No livro do Êxodo, capítulo três, Moisés vai à montanha e vê um extraordinário espetáculo: a sarça ardia, mas não se consumia, e lá ele ouve, na consciência, a voz de Deus: “Eu vi e ouvi a aflição de meu povo”. Moisés reluta e diz: “Quem sou eu”. Deus lhe diz: “Eu estarei contigo e quando tiveres tirado o povo do Egito, servirei a Deus nesta montanha” (Ex 3, 12). Na terra prometida, Deus sempre renova a Aliança: “Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo” (Ex 19 e Ez 36, 25-28).
– “Samuel, Samuel? O que queres de mim? Eis-me aqui Senhor! (1Sm 3,1-10). Deus me quer com minha sabedoria, com meus erros, meu pecado, com aquilo que sou. “Eu sou o bom Pastor e conheço as minhas ovelhas pelo nome. Carrego no colo aquelas que não conseguem se levantar e andar” (Jo 10). “Não mandarei embora os que vierem a mim” (Jo 6,37). O nome significa aquilo que sou, minha história, realidade.
– Apóstolo Paulo: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” (Perseguia homens e não Jesus). Uma luz o cercou (do Espírito) e ele caiu por terra: “Senhor que queres que eu faça?” (At 9,4ss).
– Paulo a Filêmon: “Peço-lhe em favor de Onésimo – ele é como se fosse meu próprio coração, assim, se você me considera como irmão na fé, receba Onésimo como se fosse eu mesmo” (Fl 1, 17). Como Jesus, Paulo agora se identifica com o oprimido: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.
– A vivência dos Apóstolos: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (At 4,32).
– Francisco de Assis: “Reconstrua a minha Igreja” (Igreja viva).
Enfim, podemos dizer, a partir deste texto, que, onde foi grande o pecado, maior foi a graça. Deus não abandona o seu povo, apesar das infidelidades. Voltemos nosso coração a Deus, a Quaresma é um tempo oportuno para purificar ideias e atitudes de nossa vida cristã.
Na 2ª Leitura (Ef 2, 4-10), o Apóstolo Paulo nos exorta a manter viva a nossa fé. Deus nos ressuscita com Cristo e nos garante a vitória. Nossa fé deve ser forte e imperecível. O amor salvador e libertador de Deus é incondicional e atinge o homem, mesmo quando ele continua a percorrer os caminhos de pecado e de morte. Somos sempre filhos amados, a quem Deus oferece a vida plena, a salvação.
No Evangelho (Jo 3,14-21), percebemos que Deus continua nos chamando, chama Nicodemos, chama a cada um de nós. Deus não elimina o mal do mundo, mas nos fornece o remédio de que precisamos que é sua graça infinita. Basta crer em Jesus seu Filho amado, luz que veio ao mundo. Esta Luz está presente na comunidade, nos bons projetos, nas políticas públicas, enfim em todas as ações sociais que visam o bem do ser humano. Seremos julgados pelas nossas ações, nossas opções: a morte sela o que foram nossas opções. A salvação acontece na história, é a pessoa que escolhe viver ou não em comunhão com Deus. A pessoa do futuro não será tão diferente de como se apresenta no presente.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.