“A tua palavra é lâmpada para os meus passos e luz para os meus caminhos.”

No dia 12 de dezembro de 2021, às 10h, no Mosteiro da Sagrada Face, acontecerá a minha ordenação Diaconal pelas mãos consecratórias de Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida. Essa data tem uma tonalidade um tanto paradoxal em minha vida, pois ela é começo de uma nova etapa – na qual poderei servir a Deus dentro desse ministério ordenado -mas, ao mesmo tempo, é também um desfecho de longo período de formação e amadurecimento.

 O lema que escolhi traduz bem o que sinto em meu coração. O Salmo 118 traz, no versículo 105, as palavras lâmpada e passos que, para mim, revelam o relacionamento que estabelecemos com Jesus Cristo. Penso que, desde o primeiro momento em que senti o chamado de Deus em meu coração, Ele, de alguma forma, me fez sair de mim mesmo para viver a lógica do amor. O chamado ao amor que Deus faz ao nosso coração é diferente do “amor de novela”, porque requer investimento pessoal e espiritual para a entrega total da vida.

 Lembro que o primeiro passo foi a família, no ano de 2007: deixei o ambiente tranquilo de casa para poder aventurar-me na vida religiosa. Não é fácil renunciar toda a segurança que o ambiente natural proporciona, para conseguir dar resposta a partir de nós mesmos. No seminário, aprendemos que “vida” é assumir responsabilidade para a liberdade. Não significa sair de casa por sair, simplesmente; mas para assumir uma nova etapa da vida, como os pássaros que deixam o ninho da mãe para viver sua própria vida. Os padres mais antigos, na sua sabedoria, sempre diziam: “quando um rapaz deixa sua casa para entrar no seminário, um anjo de Deus vem para cuidar daquela família de modo todo especial”.

 Outro passo importante é a aventura do amadurecimento humano. Recordo-me sempre de quem eu era quando iniciei minha caminhada vocacional: um rapaz tímido, com um grande desejo no coração, que sonhava mudar o mundo. . .  Ao longo da vida, aprendemos que a principal mudança, que podemos fazer ao mundo, começa dentro de nós mesmos. Quando somos capazes de vencer as nossas pequenas misérias e medos, é, então, que percebemos a força interior que pode mudar o mundo ao redor, exalada pela nossa capacidade de amar, dada por Deus. Assim, a cada dia, vai-se assumindo uma identidade própria a tal ponto, que um rapaz, que entra no seminário para se tornar homem de Deus, inteiro, sem reserva, depara-se com as palavras da mãe: “Lucas, tenho orgulho do homem que você é hoje”.   

Mais um passo, a se destacar de muitos, é a vida espiritual. Quando nos deparamos com os votos religiosos de castidade, pobreza e obediência, pode-se dizer que “é coisa de louco” um jovem oferecer sua vida dessa maneira, pois o mundo hedonista – que valoriza ter, poder, e o prazer – não é capaz de compreender isso. Hoje, com alegria, posso dizer que é possível, sim, no âmago de uma vida espiritual, viver tais votos.

Essa vida consagrada tem um elemento primordial – a FÉ – que nos permite conhecer a Deus mais profunda e intimamente. Somente na experiência da fé, descobrimos que os votos religiosos tornam-se um passo livre para o amor sem reserva, dentro da nossa humanidade, pois esse amor é uma resposta a um Amor Sobrenatural que Deus tem por cada um de nós; está presente no Evangelho de Mateus: “Felizes os pobres no espírito porque deles é o reino dos Céus” (Mt 5,3). Portanto, o Reino dos céus se torna possível de visualizar – no mundo de hoje – pela aventura, radicalidade e oferta da própria vida em razão de uma Vida Eterna.

Diante dessa pequena partilha sobre alguns passos na vida espiritual, o que significa, então, a data de 12 de dezembro? Significa um marco na minha vida. Significa uma pessoa que resolve caminhar com Cristo e se aventurar no amor gratuito: não limitado consigo mesmo.

Quero, assim, partilhar a alegria – que invade meu coração – com todos que, de alguma forma, contribuíram para que esse sublime sentimento hoje se eternize em minha vida. Fica, pois, o CONVITE para minha ORDENAÇÃO DIACONAL que é, na verdade, UM ATO DE AMOR!  

Irmão Lucas Calbi de Oliveira Costa – OCS