Reflexão litúrgica:
Quarta-feira, 08/09/2021
Festa da Natividade de Nossa Senhora
Toda família festeja o aniversário da mãe. Às vezes, essa festa reúne apenas os filhos, outras vezes, abrimos as portas para amigos e vizinhos, ou até para toda comunidade. É o que fazemos hoje para o dia natalício de nossa Mãe do Céu. No Oriente essa festa foi celebrada desde o início do cristianismo, na Igreja latina foi introduzida pelo Papa São Sérgio I, no fim do século VII. Originariamente era a festa da dedicação da atual basílica de Santa Ana em Jerusalém. A tradição indicava esse lugar como a sede da humilde morada de Joaquim e Ana, descendentes de Davi, pais de Nossa Senhora. Devemos buscar neste culto da Natividade de Maria uma verdade profunda: a vinda de Jesus à terra foi longamente preparada pelo Pai no decurso dos séculos. De fato, Maria nasce, é amamentada e cresce para ser a Mãe do Rei dos séculos, isto é, de Deus. Somente de Maria, além de João Batista e Jesus, se celebra não somente o dia da morte, como acontece com os outros santos, mas também a vinda a este mundo.
A pessoa divina do Salvador supera infinitamente tudo o que a humanidade podia gerar, porém a história da humanidade foi como um lento e difícil parto das condições necessárias à Encarnação do Filho de Deus. Quis por isso a devoção cristã venerar as pessoas e os acontecimentos que preparavam o nascimento de Cristo no plano humano e no plano da graça: sua Mãe, o nascimento dela, sua concepção, seus pais e antepassados. Crer nos preparativos da Encarnação significa crer na realidade da Encarnação e reconhecer a necessidade da colaboração do ser humano na efetivação da salvação do mundo. A verdadeira devoção a Maria leva sempre a Jesus.
Na Liturgia desta quarta-feira, Festa da Natividade de Nossa Senhora, vemos, na 1a Leitura (Mq 5,1-4), que o profeta Miquéias fala do ambiente humilde onde irá nascer o Messias, fala da pequenina cidade de Belém, cidade natal do Rei Davi, cidade que representa o lugar teológico, isto é, o lugar social onde Deus se emana. “Ele será a Paz” (Shallon). Será um mundo novo, será um reino de paz e de amor, não construído com a força das armas, mas construído e acolhido nos corações dos humildes.
Vemos em todo o Antigo Testamento que Deus fez opção pelos pobres: viúvas, órfãos, estrangeiros, isto é, os mais fragilizados da sociedade. Ao longo de toda a revelação, é-nos mostrado um Deus que se inclina sobre os pobres, os aflitos, os abandonados e aqueles que não são nada aos olhos do mundo. Tudo isso contém uma lição atualíssima. Nossa tentação, com efeito, é a de fazer exatamente o contrário do que Deus fez: querer olhar quem está acima, não a quem está abaixo; quem está bem, não quem es encontra em necessidade.
Penso que esta palavra de Deus nos pede, hoje, que sejamos humildes, ao menos de coração. A Basílica da Natividade, em Belém, só tem uma porta de entrada, e é tão baixa que não se pode passar por ela senão inclinando-se profundamente. Há quem diz que foi construída assim para impedir que os beduínos entrassem montados em seus camelos. Mas a explicação que sempre se deu é outra. Essa porta devia recordar aos peregrinos que para penetrar no significado profundo do Natal, é preciso abaixar-se e tornar-se pequenos. Que olhando para cada um de nós e de nossas atitudes, Jesus possa novamente exultar de alegria e dizer: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11, 25).
Na 2ª Leitura (Rm 8,28-30), o apóstolo Paulo nos diz que, em nossa existência, todos passamos por situações difíceis, mas elas são chances para o nosso crescimento, em todos os sentidos. Não podemos ser vencidos pelos problemas, lembremos que “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”. Onde a dor foi grande, maior foi a misericórdia.
No Evangelho (Mt 1,1-16.18-23), vemos que em Jesus, continua e chega ao ápice toda a história de Israel. Sua árvore genealógica apresenta-o como descendente direto de Davi e Abraão. Como filho de Davi, Jesus é o Rei-Messias que vai instaurar o Reino prometido. Como filho de Abraão, ele estenderá o Reino a todas as pessoas, por meio da presença e ação da Igreja.
Jesus não é apenas filho da história da humanidade. É o próprio Filho de Deus, o Deus que está conosco. Ele inicia nova história, em que as pessoas serão salvas de tudo o que diminui ou destrói a vida e a liberdade. Deus intervém na história humana a partir dos marginalizados e dos que têm a vida ameaçada. Abre os olhos para sensibilizá-los às necessidades dos outros. A conversão de José a uma justiça que supera o que está escrito na Lei torna possível o nascimento do Messias.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, atualmente é professor do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá.