A vida como dádiva maior

Estamos apenas no segundo domingo do ano (10). Dia em que nós católicos celebramos em nossas comunidades a Festa do Batismo do Senhor. A liturgia trás para nós o batismo de Jesus, realizado por João Batista nas águas do rio Jordão. Ocasião em que Jesus de Nazaré vai se manifestar como o Filho de Deus e, cheio da força do Espírito Santo, cumprirá plenamente a vontade do Pai. Vontade esta que se resumirá na força do Bem, na Justiça do Reino e na Paz para toda a humanidade. Vida plena para todos e todas.

A vida é Dom de Deus. Este é o presente que d’ELE recebemos como dádiva maior. É desta forma que devemos nos ver como obra do Criador, diante da nossa existência no dia-a-dia. Ou seja, Deus é o autor da vida. É desta forma que vemos na primeira narrativa bíblica da criação no Livro do Gênesis: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança” (Gn 2, 26) E, por mais que alguém possa não acreditar, somos pessoas imagem e semelhança do Criador. É ELE quem gera a vida para nós, como um organismo vivo, dotado de alma, que o vivifica, e o torna como uma “Obra Prima” de toda a Criação. Cada um de nós é único.

A cada dia vivido é mais um dia somado em que devemos ser gratos por esta benevolência de Deus. Agradecer por mais um dia de vida, num cenário em que a morte está presente em cada esquina. Estar vivo significa que a vida está em mim e eu posso ainda dar continuidade aos meus projetos. Viver, sonhar, acreditar! Diferentemente daqueles que se foram e também dos que, enlutados, choram a perda dos seus entes queridos. Hora, portanto de dar Glória a Deus, pois não fui o escolhido desta vez para ser mais uma vítima do vírus letal.

A vida é muito importante. É o dom mais precioso que temos. Fomos criados para viver e viver em plenitude. (Jo 10, 10) A vida em si é o maior talento que Deus dá a cada um de nós. Nas nossas vidas, encera uma infinidade de graças, de talentos, de potencialidades. Cada um de nós é chamado a desenvolver-se, crescer, experimentar todas as nossas capacidades e, desta forma, contribuir para o crescimento de si mesmo e da humanidade toda. Esta é a dimensão que deve alcançar a nossa vida neste mundo em que vivemos.

Num dos documentos da Igreja chamado de “Catecismo da Igreja Católica”, cuja última edição foi publicada em 1992, há uma passagem que define a nossa vida como algo sagrado: “A vida humana é sagrada porque desde sua origem ela encerra a ação criadora de Deus e permanece para sempre numa relação especial com o Criador, seu único fim. Só Deus é o dono da vida, do começo ao fim; ninguém, em nenhuma circunstância, pode reivindicar para si o direito de destruir diretamente um ser humano inocente”. (§2258)

A nossa vida é sagrada! Ela nos veio de Deus. Cuidar da vida é cuidar do próprio Deus que há em nós. Cuidar da vida do outro é também cuidar do mesmo Deus que nele habita. Atentar contra a vida é atentar contra o próprio Deus, autor da vida. Ninguém pode tirar a vida de quem quer que seja. Em assim fazendo, fere o coração do próprio Deus que é a vida. É por este motivo que as mais de 200 mil mortes, vítimas da Covid-19 são uma afronta ao Deus que Jesus veio nos revelar. Um genocídio, promovido por mãos humanas ensanguentadas, daqueles que não foram capazes de cuidar, de gerir e criar condições para que vidas inocentes se perdessem. Esta afronta chega aos ouvidos de Deus de uma maneira ou de outra.

Vivamos a vida intensamente. A cada amanhecer e, diante das circunstâncias mais adversas possíveis, devemos nos olhar e procurar admirar a beleza da criação, a presença de Deus na criatura e respondermos de forma carinhosa e com gestos de carinho a todos com os quais conviveremos naquele dia. Revestidos de humildade saibamos reconhecer que não somos nada sem ELE, mas com ELE podemos tudo, pois foi Ele que nos criou. O nosso Deus é o Deus da vida! Ele ama a vida. Quer a vida. Ele é a fonte geradora e conservadora da vida. Deus nos cria porque ama muito e nos cria para Ele, para o amor e para amar. Quem vive intensamente, ama. Quem ama quer a vida. Vida como dom maior. Como João Batista, tenhamos a humildade suficiente para dizer: “Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias”. (Mc 1, 7) Mas Ele é tudo e tudo pode. E eu “Tudo posso naquele que me fortalece”. (Filipenses 4, 13)