A vida é tão rara!

Começo a minha semana (07) em estado de graça. A generosidade de algumas pessoas é infinitamente superior às ações individualistas, egoístas e egocêntricas de outras. A título de exemplo, o casal de amigos Edwiges e Gladistônio, me fez chorar na noite de ontem, diante de seu gesto solidário, ao longo destes meses que passaram. Gestos como estes, nos mostram que nem tudo está perdido. Há pessoas que, de tão grande são os seus corações, que não cabem dentro do peito. Batem no compasso das outras vidas, pelas quais são capazes de doarem-se generosamente.

Por outro lado, nosso homem de Deus, apronta mais uma das suas. Acaba de sair a nova publicação do Papa Francisco. “Vida Após a Pandemia” é o mais novo livro deste papa das letras. Prefaciado pelo cardeal Michael Czerny, SJ, jesuíta canadense cujo trabalho na América Latina, África e Roma promoveu a justiça social. É o atual secretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Sem dúvida, Uma publicação importante e que nos coloca diante do desafio de pensar a vida da humanidade com novos valores, como em dado momento, Francisco assim nos alerta: “A nossa civilização […] precisa de uma mudança, de um balanço, de uma regeneração. Vós sois construtores indispensáveis desta mudança que já não pode ser adiada”. file:///C:/Users/Prof%C2%BA%20Chico/Downloads/1_5055349379825664283.pdf[

A vida é tão rara! A vida de cada um de nós é muito especial e rara. Viver é tudo o que queremos no momento. Rezei esta manhã, ao som do cantor, compositor, arranjador, multi-instrumentista, letrista, ator, escritor, produtor musical, engenheiro químico, e ecologista Lenine. Sua canção “Paciência” é uma das pérolas da nossa MPB. Uma das mais belas canções, produzidas nos últimos tempos. Parece que o compositor a escreveu, refletindo diretamente sobre o contexto que ora vivemos, quando num dos versos de sua canção, ele assim se expressa: “Enquanto todo mundo espera a cura do mal. E a loucura finge que isso tudo é normal. Eu finjo ter paciência”. https://www.youtube.com/watch?v=SWm1uvCRfvA

A vida não pára não! Ela segue a sua rotina na caminhada que vamos trilhando na nossa história de vida pessoal. Cada qual fazendo o seu próprio percurso. Mesmo cada um fazendo o seu percurso, este está ligado ao percurso de outros. Não há como dissociar esta trajetória que fazemos das demais. O filósofo inglês Thomas Morus (1478 a 1535) já nos dizia: “Nenhum homem é uma ilha”. Ou seja, nós não somos apenas indivíduos, pertencemos a um determinado grupo. Somos membros de uma família/sociedade e nos relacionamos com os outros demais seres. Sejam humanos ou não. Estamos interligados. Interagimos no nosso quotidiano, não só por necessidade, mas porque precisamos estabelecer relações interpessoais, as quais proporcionam ligações também emocionais

Transformação é talvez a palavra de ordem que precisamos incorporar às nossas vidas. Transformar para viver. Viver para transformar o espaço que ocupamos. Não como seres superiores aos demais seres. Não basta viver simplesmente, mas viver fazendo a diferença pelas nossas ações transformadoras. A crise sanitária provocada pela Pandemia nos mostra que, ou sairemos juntos e diferentes dela, ou sucumbiremos todos. Todos anseiam pela volta da normalidade, mas esta dita normalidade é também algo doentio, pois as nossas ações individualizadas são geradoras de morte. E o mundo da pós-pandemia, deverá ser um mundo pensado para todos e todas, sem distinção. No lugar da alta concentração de renda nas mãos de uns poucos, a vida deverá ser pensada na sua coletividade, onde todos/as possam ter o suficiente para viver com dignidade e integralidade.

Transformação com o imperativo de mudança que sonho acordado com o profeta Isaías, neste belo texto da liturgia de hoje: “Os olhos dos cegos vão se abrir, e se abrirão também os ouvidos dos surdos; os aleijados saltarão como cervo, e a língua do mudo cantará, porque jorrarão águas no deserto e rios na terra seca. A terra seca se mudará em vargens, e o chão seco se encherá de fontes. E onde viviam os lobos, a erva se transformará em taboa e junco. Haverá aí uma estrada, um caminho, que chamarão de caminho santo. Impuro nenhum passará por ele, e os bobos não vão errar o caminho. Aí não haverá leão, nenhum animal selvagem poderá alcançar esse caminho. Por ele só andarão os que foram redimidos e os que foram resgatados por Javé. Cantando, irão voltar e chegar até Sião: carregarão uma alegria sem fim e serão acompanhados de prazer e alegria; a tristeza e o pranto fugirão”. (Is 35, 5-10)