A semana segue o seu percurso. Entretanto, precisamos ainda voltar os nossos olhares e o pensamento para o domingo que passou (25). Neste dia há 45 nos atrás, o jornalista Vladimir Herzog (Vlado), fora assassinado nos porões da ditadura militar. Uma pagina de nossa história que jamais poderemos nos esquecer. “Brasil Nunca Mais” bradou Dom Paulo Evaristo Arns, através de uma coletânea de textos, relatando as crueldades feitas pelos algozes da ditadura em nosso país. O cardeal Arns enfrentou corajosamente, juntamente com o rabino Henry Sobel e o reverendo Jaime Wright. Que não volte nunca mais este período sombrio vergonhoso, ainda que insanos desequilibrados, enalteçam torturadores sanguinários.
No dia de ontem (26) nosso grande antropólogo, educador e escritor Darcy Ribeiro, se vivo fosse, faria 98 anos de idade. A boa nova deste dia ficou por conta da Fundação Darcy Ribeiro (FUNDAR), concedendo o Prêmio Darcy Ribeiro ao Cacique Raoni Metuktire. Ele que é o símbolo da luta pela preservação do meio ambiente e dos direitos dos povos indígenas. Sem dúvida, uma grande decisão por parte da FUNDAR, fazendo jus ao nome deste mineiro de Montes Claros, minha cidade natal.
A noticia boa, que enche os nossos olhos de alegria, foi a iniciativa proposta pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para o Dia de finados (02). Ao invés das tradicionais aglomerações nos cemitérios, que cada um plante uma árvore, em memória dos entes falecidos. Com este gesto de cada brasileiro, estaremos lembrando daqueles e daquelas que nos deixaram, e também prestando uma grande contribuição no cuidado com a nossa Casa Comum, tão castigada pelos incêndios criminosos nestes últimos tempos. Sem dúvida, uma atitude louvável por parte da CNBB, cujo slogan tem tudo a ver com o momento atual: “É tempo de cuidar da saúde e da Casa Comum”.
Algumas das etnias que conheço já fazem este exercício de plantar uma árvore. A diferença é que este plantio se dá quando nasce uma criança. A família daquele novo membro da comunidade tem por missão fazer este plantio e correlacionar o mesmo com o filho que chegou. A criança cresce sabendo que aquela determinada árvore é como se fosse um prolongamento da sua própria vida. Criança e árvore crescem juntas paulatinamente, sendo que a mesma tem um cuidado especial, pois aquela árvore simboliza a sua própria existência. Uma forma de colocar o novo ser em sintonia com o meio em que ela está interligada. Alguns destes indígenas fazem questão de nos mostrar a árvore frondosa de suas vidas.
A vida pede passagem. A vida em primeiro lugar! Não somente a vida humana, mas a vida de todos os demais seres que habitam o planeta. Todas as vidas são importantes e determinantes para um habitar saudável de todos e todas na Casa Comum, afinal estamos todos interligados. Se mantivermos esta postura de equilíbrio, a vida vai acontecendo de forma que cada um, ocupando o seu espaço, vai construindo a sua história.
Como falar das vidas humanas num contexto em que predomina a morte? Em meio a uma pandemia, muitos dos nossos representantes políticos, estão com os seus olhos fixos, voltados para o cenário político que se avizinha, com as eleições municipais ou mais alem, em 1922. De olhos arregalados, ao ponto de não ter muita preocupação com as mais de 170 mil vidas perdidas. A vacina que poderia ser uma tábua de salvação, depois de politizada, agora está sendo judicializada. Precisou que a Suprema Corte do país, entrasse em cena, assegurando direitos adquiridos desde a Constituição Federal de 1988.
Lutamos incansavelmente pela vida. Ela é o dom maior que nos foi dada pelo Criador. Vida para ser vivida na sua intensidade e integralidade. Como já nos dizia Santo Agostinho, vida que tem que ser vivida em toda a sua magnitude, sempre preparados para morrer, mas vivendo como se nunca fossemos morrer. Contrapondo a esta realidade, vemos, por outro lado, o mandatário maior da nação, vociferando seus impropérios rotineiros, transbordante de ódio. Seus olhos dizem tudo, pois eles são as janelas de um coração, vazio de generosidade e compaixão pelas vidas que se foram.
Mas sigamos a nossa caminhada. Nem tudo está perdido. Os nossos vizinhos do Continente estão a nos dizer que há um jeito de sair desta, sendo construtores de nosso próprio destino. Tomando pelas mãos as rédeas de uma nação que quer voltar a ser soberana. Situação está que será possível a partir dos pequenos gestos que formos edificando. Cada qual fazendo a sua parte e buscando a lucidez para enxergar outra sociedade possível, pois a atual está nos levando ao abismo profundo, aprisionando os nossos sonhos e acorrentando a nossa esperança. Que sejamos o fermento do qual nos fala Jesus (Lc 13, 21), para fazermos acontecer entre nós o REINO DE DEUS, tão desejado por nós e querido pelo PAI que é nosso. Vida que te quero vida!