A vida pede passagem

Iniciando a semana com muita preocupação. No dia de ontem (30), ficamos perplexos com a fala do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus. Segundo ele, a situação da pandemia de Covid-19 no Brasil é “muito, muito preocupante”. Esta sua fala foi pronunciada durante uma entrevista coletiva em Genebra, na Suíça. Ainda segundo esta autoridade, o Brasil deveria levar mais a sério, pois a evolução do coronavírus no país, já levou a morte de 173.000 pessoas. Sendo que a tendência é que estes números aumentem ainda mais nos próximos meses.

Todavia, a despeito deste alerta preocupante, o presidente Jair Bolsonaro, continua negando a gravidade da doença e não traçou nenhum plano estratégico para o enfrentamento desta terrível crise sanitária. Como se não bastasse, ainda anunciou alto e bom tom que não pretende se vacinar contra a Covid-19, quando a imunização estiver disponível, e não vê com bons olhos a decisão da Suprema Corte (STF), da obrigatoriedade da vacinação em massa da população brasileira.

Que situação, estamos todos nós vivendo! E para completar, houve um relaxamento geral por parte de alguns setores da sociedade. As “catedrais do capitalismo” (shoppings centers), por exemplo, estão escancarando as suas portas, recebendo os menos prevenidos, para o exercício de suas taras consumistas. É até compreensivo que os cardeais destas catedrais, até queiram implementar os seus comércios de lucros fartos, posto que as vidas humanas, pouco lhes importam, conquanto ganhem mais dinheiro. O que não dá para compreender é o porquê das pessoas, colocarem as suas vidas e as dos outros em risco, no afã de realizar os seus desejos consumistas.

Por outro lado, na linha de frente desta realidade, estão os profissionais de saúde: exaustos, doentes, amedrontados com o risco de serem infectados, numa situação desesperadora, frente ao pouco caso, a que está se dando à problemática da pandemia. Mediante este contexto, vi dia desses, uma cena que me cortou o coração. Um determinado médico, vestido a caráter, voltando para a sua casa, depois de um dia estafante de trabalho, tentava acessar a um dos vagões do metrô, na cidade de São Paulo, quando um turbilhão de pessoas, o impediram de entrar, enlouquecidamente gritando, que ele poderia estar infectado, e passaria assim a doença para todos aqueles outros passageiros que ali estavam dentro do vagão.

Os profissionais de saúde estão sendo vistos como verdadeiros heróis, quando estão na linha de frente de seus abnegados trabalhos. E o são, de fato. Entretanto, quando se trata de saber reconhecer o seu valor de verdade, isto não acontece, seja pelas autoridades constituídas, seja pela própria população que se julga no direito de excluir um passageiro médico, pelo simples fato de que ele estava retornando de seu trabalho e poderia estar infectado pela doença. Durma-se com um barulho destes!

Fico daqui comigo pensando e me perguntando: O que diria Jesus, numa situação como esta? De saber que aqueles que se dizem seguidores seus, tendo atitudes como estas. Pessoas que, provavelmente, juram de pé junto, que são cristãs fervorosas. Pessoas de bem, afinal, que não permitem que um médico, possa voltar para a sua casa, depois de um dia extenuante. A cena em questão termina, com o referido médico chorando copiosamente a um canto, entre as paredes do metrô e, sendo consolado, pelos e funcionários da instituição.

A vacina precisa vir com urgência, para nos dar um novo alento de vida. Ela será a nossa maior segurança. Pelo menos é o que desejamos Mas além da vacina especifica para a prevenção desta terrível doença, também precisamos ser imunizados urgentemente, contra outras doenças não menos graves, tais como: o egoísmo, a indiferença, a omissão, o descaso, o preconceito, a intolerância e o ódio. Nossa sociedade é uma sociedade de pessoas doentes, sem saber ao certo que o somos. O vírus da covid-19, já nos tirou centenas de milhares de vidas indefesas, mas continuamos morrendo e também matando a cada dia, pelas outras doenças, que cultivamos com a nossa forma de ser e viver em sociedade. Que Deus tenha misericórdia e compaixão de todos nós e também nos cure destas outras doenças tão graves quanto!