Nas suas andanças por Jerusalém Jesus costumava estar em vários lugares e em cada um deles, procurava transmitir, aos que o acompanhavam uma mensagem, geralmente, um ensinamento que eles deveriam guardar para que pudessem continuar em suas trajetórias de vida. No evangelho deste sábado, o vemos, indo até o Templo de Jerusalém. Entre outras coisas que vira lá, aparece uma situação comum, quando os grandes e poderosos vão fazer a sua oferta. Evidentemente, dando vultosas ofertas para o templo. De repente, eis que surge uma viúva que também, faz a sua oferta: “Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. Jesus chamou os discípulos e disse: esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”. (Mc 2, 42-44). Jesus aproveita o gancho para enaltecer a atitude daquela pobre mulher.
Este ensinamento do qual Jesus se refere, também serve para todos nós, na nossa vivência hoje. Sim, porque também nós, somos chamados a exercer a solidariedade com aqueles que mais necessitam. No passado se falava muito na palavra caridade. Entretanto, esta palavra se desgastou com o tempo, pois as pessoas viam neste gesto, uma forma de dar esmolas às pessoas, numa atitude de pena. Não é isso que o texto quer nos dizer, ao contrário. A viúva, com o seu gesto de dar tudo o que tinha, deu-nos também uma demonstração de que a solidariedade não é dar daquilo que me sobra. Enquanto os outros deram do que lhes sobrava, a viúva tira da sua pobreza, e dá tudo o que possuía para viver, podendo até passar necessidade.
Neste gesto simples e desapegado desta mulher, podemos compreender a essência pura da verdadeira solidariedade, sendo aquela em que o ser humano, pensa no outro antes de pensar em si. É um gesto de despojamento de sair de si mesmo e ir até o outro, colocando-se na mesma condição em que ele se encontra. Neste sentido, este gesto se concretiza na medida em que agimos, sem qualquer interesse ou pretensão.
Nestes tempos em que ora estamos passando, vi muitas pessoas fazendo seus gestos de solidariedade muito concretos. Também vi pessoas fazendo da mesma forma, mas com o propósito de enaltecimento do seu gesto, filmando ou fotografando os seus gestos e postando nas redes sociais. Isto pode até ser algo interessante para estas pessoas, mas não devemos nos esquecer que do outro lado, há um pai de família, uma mãe de família, que estão sendo expostos neste momento de vulnerabilidade. Sem sombra de dúvidas, que expõem as pessoas que recebem os tais gestos, ao desnecessário constrangimento. Como cristãos, não devemos nos esquecer daquela máxima do cristianismo que se encontra na narrativa de Mateus: “Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. (Mt 6, 3)
Na hagiografia, que é um tipo de biografia, que consiste na descrição da vida de algum santo, encontramos o histórico de um dos santos, que tinha o costume de sair pelas ruas, pedindo doações (esmolas) para os pobres, com os quais convivia. Numa destas suas peregrinações, deu de cara com a seguinte situação. Um senhor muito rico, assim que ouviu a voz deste santo pedindo esmolas para os pobres, cuspiu-lhe no rosto. Calmamente, o tal santo disse ao senhor: isto é o que o senhor está dando para mim, agora eu gostaria de saber o que o senhor vai dar para os pobres. Pena que não recordo o nome do referido santo.
Somos desafiados cotidianamente a não pagar na mesma moeda, aquilo que vem em nossa direção e nos atinge em cheio. É o que podemos chamar de lei de causa e efeito ou de ação e reação, como uma das maiores provas da justiça de Deus. Mesmo quando, aparentemente, estamos entregues à própria sorte, como é o caso deste momento que estamos passando, sem saber muito bem o que fazer. ELE jamais nos abandona! Desta forma, os nossos gestos de desprendimento e de amor, em benefício de alguém, que está necessitado, pode trazer benefícios inesperados a quem age assim. Certamente a viúva tinha uma confiança inabalável em Deus, por isso foi capaz de dar tudo aquilo que tinha.