Terça feira da Trigésima Segunda Semana do Tempo Comum. A criação dos Anos Litúrgicos A, B e C, surgiu da necessidade de termos um conhecimento maior da caminhada de Jesus com a sua Encarnação no meio de nós. Estamos nos últimos momentos do Tempo Comum, encerrando o Ano A. Há toda uma simbologia representada nas cores litúrgicas. Se bem observarmos, a cor verde simboliza o Tempo Comum, tempo de Graça e esperança. O vermelho significa o martírio de Jesus e dos os Mártires da Caminhada, que entregaram suas vidas por causa de Cristo. E, por fim, a cor branca representa a paz, a pureza e a Ressurreição de Cristo.
Caminhamos para os finalmente de mais um ano, mas ainda em tempo de celebrarmos uma data significativa para as nossas vidas. No dia de hoje, celebramos o “Dia Nacional da Alfabetização”. Esta data foi criada em 1966. A escolha desse dia faz menção ao decreto que criou o Ministério da Educação, em 1930. Uma data pensada para nos ajudar a refletir acerca da importância da alfabetização e dos desafios de nosso país para erradicá-la. A alfabetização é fundamental para o desenvolvimento de nossa sociedade e o combate às desigualdades sociais. De lembrarmos que a taxa de analfabetismo do Brasil, em dados de 2019, era de 6,6%. Estima-se que existam mais de 30 milhões de analfabetos funcionais no Brasil: leem, escrevem e não conseguem interpretar.
Há uma grande preocupação com a nossa educação de qualidade social. Como o meu campo de atuação sempre foi o da educação, lutar por uma alfabetização de qualidade permite que uma pessoa se coloque como um cidadão que luta por seus direitos. O desenvolvimento educacional da população também permite a formação de profissionais de grande importância para a nossa sociedade. A semente semeada por meio da alfabetização retorna para a sociedade através de profissionais qualificados e cidadãos preocupados com o desenvolvimento de nosso país como um todo. Lembrando que a alfabetização vai além do ato de aprender a ler e escrever, é uma forma de compreender a vida, ler o mundo, e a realidade que se descortina.
Traduzindo esta realidade para o campo litúrgico, vamos perceber que a temática para o dia de hoje é aquilo que aparece no último versículo do Evangelho no dia hoje: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”. (Lc 17,10) Este trecho nos faz lembrar de uma tradição da Igreja Católica em relação ao papado, que se fundamenta numa expressão em latim: “Servus Servorum Dei”, que significa “Servo dos Servos de Deus”. Tal insígnia é um dos títulos oficiais do Papa, como demonstração de humildade e referência ao papel do Papa e sua função colegial, em que ele serve os bispos do mundo inteiro.
O texto que nos é apresentado pela liturgia de hoje sempre gerou uma grande discussão entre os exegetas, no que diz respeito à hermenêutica acerca do versículo final dele: “Somos servos inúteis;…” Conforme a nossa interpretação, a impressão que se pode ter é a de que não valemos nada, e que estamos aqui apenas para fazer a nossa parte. Certo é que todos nós temos uma missão a cumprir e um dever aqui neste plano: cumprir bem nossa obrigação. Apesar de ser uma simplificação muito fácil, esse modo de dizer ensina que somos eternamente responsáveis por aquilo que somos e fazemos. Fazer a nossa parte arcando com todas as consequências daí decorrentes. Ser o que somos, fazendo aquilo que precisa ser feito, sem muito alarde.
A vocação do servo é servir! Somos chamados a sermos servidores de todos. Servir como Jesus, o “Servo Sofredor” que o profeta Isaías descreveu (Is 52,13-53,12). Jesus é este servo sofredor, justo e inocente, mas sofre as consequências de uma estrutura injusta da sociedade onde vive, e por isso morre esmagado sob o peso dos erros de todos. Todavia, é através do seu aparente fracasso que o projeto de Deus vai triunfar: o Servo é glorificado e traz a salvação para todos e todas. Ao narrar a paixão de Jesus, os Evangelhos praticamente retomam esta visão do profeta Isaías, uma vez que na sua vida paixão e morte, Jesus se identificou completamente com o povo pobre que, em todos os tempos e lugares, é vítima da injustiça e exploração, da opressão.
Os Evangelhos aplicam a Jesus a figura do Servo Sofredor (Mt 3,17; 12,17-21; 17,5). Viver a nossa experiência de fé engajada e comprometida com as causas do Reino é fazer este mesmo caminho percorrido por Jesus. Pelo batismo, todos e todas recebemos a missão de fazer que surja uma sociedade nova, conforme a justiça e o direito. Como Jesus, não submeteremos os fracos ao nosso domínio, mas o nosso agir deverá produzir uma transformação radical: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia”. (Mt 11,5) Fazer o que precisa ser feito, os pobres e oprimidos sendo libertados pela ação do Servo que serve a todos.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.