Acolhida com misericórdia

 

Quinta feira da trigésima primeira semana do Tempo Comum. A primeira semana do mês de novembro vai se desenhando. Depois de três dias (31, 01 e 02) mais amenos, retomamos a nossa caminhada. Ainda trazendo em nós os efeitos e reflexos do último pleito eleitoral: a baderna promovida por um grupo de anestesiados, em nome da “democracia”, pedindo a intervenção militar. Mal sabem eles que, em assim acontecendo, estes atos de cercear o ir e vir das pessoas seria reprimido violentamente, caso estivéssemos em estado de exceção. Democracia é também saber reconhecer a vitória do outro, numa eleição livre, democrática e transparente. Respeitar a soberania popular advinda das urnas é um dos pilares básicos da democracia.
O filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella nos diz que: “A tragédia não é quando um homem morre. A tragédia é o que morre dentro de um homem quando ele está vivo”. Penso que a frase deste educador resume bem o momento sócio-histórico-político que ora estamos vivendo. Ainda no Dia de Finados, em que reverenciamos os nossos entes queridos que partiram, assistimos estarrecidos a um bando de “mortos vivos” promovendo a desordem, tendo a “democracia” como a sua falsa bandeira de luta. E o que mais dói é ver alguns profissionais da educação, sem nenhuma consciência de classe, aderindo a tais maluquices. É de ficar preocupados: o que será da nossa educação, tendo no meio dela personagens grotescos tão alienados como estes?
O Papa Francisco tem direcionado o seu pontificado no sentido de ir ao encontro dos pobres e marginalizados. Em meio a esta cizânia que se transformou a vivência eclesial da Igreja Católica, teremos que ajuntar os cacos sobraram. Uma Igreja divida entre aqueles que se dedicam à Pastoral Social, seguindo as inequívocas orientações da Doutrina Social da Igreja – DSI; e aqueles que se fecharam em seu casulo, promovendo uma eclesiologia sacramentalista de ritualismos alienados, desvinculados da prática, promovendo a manutenção do “status quo”, de uma sociedade estratificada e injustamente desigual, fruto da ganância e da exploração de alguns poucos sobre a imensa maioria de empobrecidos. Alguma coisa está errada.
“Temos que derrubar muros e construir pontes”, vai nos dizer o Bispo de Roma, Papa Francisco. Como o resultado das eleições nos mostrou que o amor venceu o ódio, a esperança brotou das cinzas de um Brasil de terra arrasada, vamos voltar a ser felizes de novo! Para isso, teremos que aparar as arestas, através do dialogo sadio, uma vez que somente ele (o diálogo), pode nos ajudar a construir tais pontes e vínculos. O Projeto de Deus revelado por Jesus nos conclama a valorizar cada pequeno gesto, cada ação feita como tijolo assentado na construção deste Reino. De esperança em esperança, vamos edificando a nossa caminhada de fé, fundamentada nos ideais de Jesus de Nazaré. O Reino de Deus está no meio de nós! Cuidar para que ele se instaure de vez, é a nossa grande missão e desafio, como discípulos e discípulas do Mestre. Acolhedores na misericórdia.
Mestre que mais uma vez está às turras com os fariseus e os mestres da Lei, que o criticavam severamente, como nos mostra a liturgia desta quinta feira. Para estas lideranças religiosas, Jesus é mesmo um incorrigível: “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles”. (Lc 15,2) Onde já se viu, aquele que se diz enviado de Deus, se fazer junto com pecadores, cobradores de impostos, prostitutas, mulheres, doentes, pagãos. Para estas lideranças, Jesus nada mais é que um transgressor da Lei. Na concepção delas, Deus não podia estar no meio daquela ralé. Estamos falando das lideranças religiosas e não dos políticos dominantes, atrelados ao poderio romano. Estas lideranças nos fazem lembrar de uma das frases ditas também pelo nosso Papa: “Não adianta nada sermos bispos, cardeais ou papa se não formos discípulos do Senhor”. Dito e feito!

O texto que refletimos hoje faz parte do capítulo 15 do evangelho lucano. Este capitulo é considerado como o coração de todo o Evangelho (Boa Notícia). Nele vemos toda a amorosidade do Pai, como reflexo direto nas ações de Jesus. Amorosidade que nos mostra o quanto Deus é pleno de misericórdia para com os seus. Misericórdia que nos faz enxergar que maior do que o pecado é a pessoa humana e que Deus prefere muito mais o pecador que o justo que se fecha na sua hipocrisia. O Pai, na sua rica amorosidade, se alegra em acolher o pecador arrependido que muda a sua trajetória de vida, se fazendo um com Ele. A grandeza do amor de Deus vai ao encontro do necessitado, a pessoa perdida, para levá-la à alegria da comunhão no amor. Pena que alguns dos nossos não consigam assim enxergar e se acham mais cristãos que o próprio Jesus. Além de se escandalizarem com a solidariedade para com os pecadores, desprezam os mais necessitados, carentes do cuidado fraterno. Espero que você não seja um destes.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.