São mais de 70 poços de água espalhados no interior do Paraná, comumente chamados de “Olho d’água de São João Maria”. Diariamente essas nascentes são visitadas por devotos do monge, em busca de água. Segundo a crença essas têm poderes curativos, capaz de proporcionar saúde às pessoas que beberem com fé.
Esses poços surgiram quando o monge São João Maria caminhava pelo interior do Paraná. Na verdade trata-se de três monges distintos, mas devido à semelhança as pessoas identificaram como uma única pessoa. A história de vida deles é envolta em lendas. Todavia, sabemos que o primeiro teria andando no sul do Brasil e no Paraná, no final do século XIX. Valendo-se da fama do primeiro monge, no início do século XX apareceram outros dois, quando acontecia a revolta de Contestado (1912), momento em que eram travados conflitos armados na divisa do Paraná e Santa Catarina.
Os monges eram andarilhos que levavam uma vida simples, o que causava admiração dos colonos. Não eram ordenados pela Igreja Católica, mas se diziam enviados de Deus para fazer o bem. Politicamente defendiam a monarquia e criticavam a República brasileira. Na ausência dos padres davam conselhos ao povo e faziam profecias curiosas sobre o fim do mundo. Como método de cura indicavam ervas medicinais e água benta.
Na memória do povo as nascentes abençoadas ou frequentadas pelos monges se tornaram fontes de água benta até hoje. Foi assim que surgiram muitos olhos d’águas de São João Maria. Os mais conhecidos estão nos municípios de Ponta Grossa, Lapa, Guarapuava, Cantagalo e no Pinhão. Centenas de devotos visitam esses poços em busca de água benta. É uma tradição religiosa popular muito forte em nosso estado.
Esses olhos d’águas são lugares simples, geralmente no campo. O acesso para as pessoas retirarem água é sempre facilitado. O local costuma ter um quadro ou uma imagem do monge e muitas imagens de santos. Os devotos costumam deixar estatuetas, fotos e outros objetos que lembram graças recebidas.
Existem muitos relatos de cura e graças alcançadas por pessoas que tomam dessas águas. Mas como acontecem essas curas? Deixo uma reposta possível, embasada no cientista da religião, Wellington Zangari, que é pesquisador de curas milagrosas. Segundo ele, conforme as evidências, a fé é capaz de disparar nas pessoas gatilhos que muitas vezes facilitam as curas e proporcionam bem estar na vida da pessoa de fé. Afinal, o próprio Jesus costumava elogiar os enfermos pela atitude de fé: “Vai, a tua fé te salvou” (Mt 9,22; Lc 7,36-50; Mc 5,34; 10,52).
Certamente a atitude de fé de quem busca as águas de São João Maria estimula uma força interior que corrobora na saúde, em alguns casos produzindo curas. Mas fica o recado: nunca se deve proclamar uma cura, sem antes consultar o especialista de saúde, habilitado.
Mas qual a orientação da Igreja sobre as águas do monge? No passado era comum, logo após a morte, as pessoas aclamar alguém como santo e render culto, surgindo assim muitos santos, cujo histórico de vida era de caráter duvidoso. Para pôr fim nesses abusos, em 1588 o papa Sixto V criou a Congregação dos Ritos, com a tarefa de estudar a causa dos santos, restringindo a proclamação do santos apenas aos peritos da Igreja. Pouco depois, em 1634, o papa Urbano VIII proibiu qualquer manifestação de culto de santos que não fossem aprovados pela Igreja.
Mas independente da orientação da Igreja, o povo continua até hoje aclamando algumas pessoas como santas. Esse é o caso do monge São João Maria. Ele é tido como santo para o povo do interior, embora nunca foi reconhecido como tal pelo Vaticano. A Igreja Católica respeita a tradição do povo, mas não orienta pedidos de oração ao monge.
Para aprofundar, leia livros que tratam sobre a história do Paraná e sobre a revolta de Contestado
Portal do Peregrino
Foto capa: Acervo Casa da Memória – São Mateus do Sul PR