Hoje, diferentemente dos outros dias, iniciei o meu dia a beira do Araguaia. Quis fazer a minha oração deste dia (03), contemplando este belo rio. Fazer a mesma experiência de nosso bispo Pedro, que manifestou o seu desejo em vida, de passar sua eternidade, contemplando o Araguaia, sendo sepultado na margem deste, num cemitério que já foi dos indígenas Iny, mas que hoje está desativado. Veio-me a mente uma das frases atribuídas ao médium espírita Chico Xavier: “Lembra-te sempre, cada dia nasce de um novo amanhecer”. Um amanhecer de esperança de vida nova.
Sou feliz no Araguaia! Apaixonei-me por este rio, desde a primeira vista. Moro muito próximo a ele. Costumo dizer que sou um ser privilegiado, pois estou no Mato Grosso e vejo o sol nascer todos os dias no Tocantins, vindo da Ilha do Bananal. A cada dia este cenário prefigura um espetáculo maravilhoso, que a maioria das pessoas que aqui habitam, deixam passar despercebido. Eu, ao contrário, me encanto com cada uma das manhãs. Elas são únicas e de uma beleza divinamente natural. Só Deus mesmo para nos proporcionar algo tão grandioso.
Fechei o dia de ontem (02) com chave de ouro. Atendi ao chamado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que promoveu o Dia de Oração diante da pandemia da Covid-19. Segundo dom Joel Portella Amado, a data foi escolhida para pedir a intercessão da Virgem Maria e de São José para fortalecer a esperança dos brasileiros frente às incertezas provocadas pelo contexto imposto ao mundo pelo novo coronavírus. Iniciativa louvável por parte dos nossos bispos, antenados com o sofrimento dos mais pobres.
Antenado também estava ontem o padre Júlio Renato Lancellotti, como sempre. Diante da política necrófila, higienista e desumana do prefeito de São Paulo, o padre foi até a Zona Leste e, numa atitude simbólica, de marreta em punho, destruiu alguns paralelepípedos, colocados sob um dos viadutos. O mais curioso é que um destes viadutos leva o nome de Dom Luciano Mendes de Almeida. Justamente ele que dedicou vários anos de sua vida, convivendo e atendendo a população das pessoas em situação de rua, na região Belém. Tinha, inclusive, o hábito de tomar o seu café da manhã, com estas pessoas. Júlio herdou de dom Luciano tamanha dedicação.
A iniciativa do padre Júlio surtiu efeito. Assim que o caso ganhou repercussão nas redes sociais e nos telejornais, o prefeito tratou de retirar os tais paralelepípedos, que foram propositalmente colocados, ali numa atitude clara de impedir que as pessoas em situação de rua, dormissem embaixo daqueles viadutos. Como se não bastasse a vulnerabilidade destas pessoas, ainda tem gestores públicos que não são capazes de sensibilizar com as dores daqueles que estão padecendo, vítimas de toda uma desigualdade social. Ainda que a sigla partidária do prefeito seja Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Imagina se não fosse?
Estamos vivendo por aqui um grande dilema. Nossos indígenas, orientados por alguns pastores evangélicos, e pelas redes de fake news, estão se recusando a ser vacinados pelos profissionais de saúde. Ouvi de um dos indígenas que não tomaria a tal vacina porque seria implantado nele um chip com o número da besta fera 666. Que desserviço promovem estes “homens de Deus”. Mas eles não estão sozinhos. Na Igreja Católica também há aqueles padres e bispos que estão fazendo uma verdadeira campanha contra a vacina. Numa atitude de total irresponsabilidade. Fazendo afirmações sem nenhum cunho cientifico. Contrariando ao Papa Francisco e a própria CNBB. Estas pessoas precisam ser denunciadas urgentemente, antes que o estrago seja ainda maior.
Insanidade tem nome e sobrenome. Como conviver com situações como estas, de pessoas que falam e atuam em nome de Deus, como verdadeiros porta-vozes d’ELE. Rejeitam assim, estar conectados com a proposta do Filho de Deus. Jesus também passou por situação semelhante. No texto da liturgia de hoje (Mc 6,1-6), vemos o mesmo sendo rejeitado pelos seus. Marcos apresenta para nós uma situação inusitada, em que Jesus afirma categoricamente que: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares”. (Mc 6, 4) Ou seja, os próprios conterrâneos de Jesus, se recusam a admitir que alguém do meio deles e como eles, possa ter sabedoria superior à das lideranças religiosas de seu tempo. O pobre que não é capaz de acreditar no pobre como eles. Esta situação nos faz lembrar da grande poetisa goiana Cora Coralina que nos dizia: “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes”. Falta-nos humildade suficiente para caminhar com os pequenos e aprender com eles no dia a dia e assim, fazer acontecer novos amanheceres, permeados pela esperança.