Tenho o hábito de rezar todas as manhãs. Enquanto vou degustando uma boa cuia de chimarrão, aproveito então para rezar. Nesta manhã fui agraciado com uma suposta briga de três tucanos, (não os da política, mas o da natureza) no meu quintal. Dois deles batiam animadamente os seus bicos enormes. Um terceiro ficava de lado. Presumi que aquela briga estava acontecendo porque deve ter rolado um clima da dona tucana com um daqueles que estavam ali brigando. Certamente uma relação extraconjugal. O amor tem destas coisas.
Quando li pela primeira vez o romance modernista deste paulistano Mário de Andrade, fiquei fascinado pelo autor. Um romance de 1927, do modernismo, que trata, basicamente, de uma família burguesa que contrata uma governanta alemã de 35 anos de idade, para, entre os afazeres da casa, fazer também a iniciação sexual do filho adolescente. Lá pelas tantas, a família descobre que o que estava acontecendo entre o garoto e a governanta, era algo mais sério que uma possível iniciação sexual. Coisas do amor. Recomendo a leitura. Muito bom!
“O coração tem razões que a própria razão desconhece,” nos diria Pascal. O amor é lindo! Um coração cheio de amor é tudo de bom. Dificilmente haja alguém que ainda não viveu u grande amor em sua vida. Encanto cantado em versos e prosas. Nestes tempos de isolamento social, ficamos com os sentimentos à flor da pele. A sensibilidade é visível em cada um de nós. Mais do que razão, o coração é quem vai ditando o ritmo das nossas vidas. Sinal de que estamos bem vivos.
A cantora e compositora Argentina Mercedes Sosa, numa de suas canções, “Volver a Los 17,” canta divinamente o que é o amor quando se tem 17 anos de idade. Tudo é tão bonito! Um mundo de sonhos e fantasias. Muitos destes amores vividos são amores platônicos, idealizados. Há quem diga que, nesta canção, Mercedes retrata a sua própria realidade, já cinquentona, apaixona-se por um jovem de apenas 17 anos.
Ninguém melhor do que o Poetinha, Vinícius de Morais para cantar o amor. Viveu intensamente cada um de os seus amores. E não foram poucos. Numa de suas canções, em parceria com Toquinho, “Para Viver um grande amor,” ele nos diz:
Para viver um grande amor, primeiro
É preciso sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro
Seja lá como for
Há de fazer do corpo uma morada
Onde clausure-se a mulher amada
E postar-se de fora com uma espada
Para viver um grande amor
O amor é tão lindo até o dia que se perde o encanto frente a realidade tristemente descoberta. Me lembro daquela professora de um pequeno lugarejo. Todos os dias as crianças lhe traziam flores. Os dias iam passando, mas as crianças não esqueciam as tais flores. Uma relação de amorosidade a toda prova. Até o dia que a professora descobre que, antes de chegar à escola, as crianças passavam pelo cemitério e dali colhiam as flores das sepulturas, que eram posteriormente levadas com maior carinho à professora.
O amor é um dos sentimentos mais afáveis que o ser humano pode ter. Jesus também falou muito sobre o amor. E não de um amor qualquer. No evangelho de João o vemos se referindo ao amor da seguinte maneira: Quem me ama, será amado por meu Pai. Eu também o amarei e me manifestarei a ele.» (Jo 14, 21). Quem ama quer também ser amado. Todavia, apesar de ser este sentimento tão nobre, muitos há entre nós que não tem este sentimento em seus corações. Neste momento que estamos vivendo, estas pessoas não são capazes de demonstrar este sentimento. Estes armados desalmados são capazes de rir das desgraça alheia. Vi gente comemorando a morte de algumas pessoas, vítimas do coronavírus. Triste! Muito triste! Não acham?