Sexta feira da Décima Semana do Tempo Comum. Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Neste dia, a Igreja pede para que rezemos pela “Santificação dos Sacerdotes”. Para alguns deles seria não somente pela sua santificação, mas, principalmente, pela sua conversão, pois, ao invés de anunciar a Jesus, alguns deles anunciam a si mesmos, num egocentrismo de fazer inveja aos fariseus do tempo de Jesus. Para uma proposta de “Igreja em Saída”, como pede o Papa Francisco, necessitamos de padres que estejam caminhando no meio do povo, sendo pobre como, para e com os pobres.
A Festa do Sagrado Coração de Jesus foi celebrada pela primeira vez no ano de 1672 (século XVII), pelo sacerdote francês, João Eudes. Todavia, alguns místicos da Idade Média (séculos V a XV), já cultivavam esta devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Contudo, coube a religiosa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), que viveu grande parte de sua vida no convento francês de Paray-le-Monial, a difusão do culto ao Sagrado Coração de Jesus. Como nos dizia São Bernardo: “O mistério do coração abre-se através das feridas do corpo; abre-se o grande mistério da piedade, abrem-se as entranhas de misericórdia do nosso Deus”.
Deus é amor! Deus é misericórdia plena! Deus é vida! Em Jesus amor divinal de Deus assumiu a nossa condição humana. No Verbo encarnado, a plenitude do amor de Deus veio até nós e fez morada em nossa história: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16) Deus manifesta todo o seu amor através de Jesus, para salvar e dar a vida a todos e todas. Um Deus pleno de compaixão para com todos os que criou. Não se trata de um Deus que “pune” e “castiga”, como nos ensinaram na catequese de nossa fé infantil.
“Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor”. (1 Jo 4,7-8) Esta é uma das preciosidades que a liturgia nos traz no dia de hoje, na Segunda Leitura, extraída dos escritos de São João. A Primeira Carta foi escrita pelo mesmo autor do Quarto Evangelho, ou por algum de seus discípulos. Texto este que foi escrito por volta do primeiro século da era cristã, dirigindo-se às primeiras comunidades cristãs da Ásia Menor, que passavam por séria crise, provocada por um grupo de dissidentes carismáticos, que seguiam as ideias de uma doutrina gnóstica que, entre outras coisas, negava que Jesus era o Messias.
O amor de Deus não tem limites! É para além fronteiras de nossa existência. Este mesmo amor está presente na essência do ser criado por Deus. Somos, portanto, amorosidade, e a ternura de Deus está presente em nós, através da pessoa de Jesus. Assim, o centro nevrálgico da vida cristã é a prática do amor. Esse amor que se torna testemunha concreta e visivelmente o conhecimento e a união que temos com Deus, com seu Filho e com o Espírito Santo. O Filho amado do Pai é conhecido pela entrega total de si mesmo, no amor, até o fim (Jo 13,1). Cabe ao Espírito Santo gerar a memória do Pai e do Filho em todos aqueles e aquelas que creem, isto é, a própria vida no amor.
Devido a festa que celebramos hoje, a liturgia não faz uso do texto do “Sermão da Montanha”, que vínhamos refletindo nos dias anteriores. O texto escolhido para o dia de hoje é uma das mais belas orações de Jesus, na sua intimidade profunda com o Pai: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. (Mt 11, 25) As coisas de Deus são mais facilmente absorvidas pelos pequenos, do que por aqueles que se colocam numa atitude de auto-suficiência, como se estes bastassem a si mesmos. São os humildes, os pobres e marginalizados que acolhem em suas vidas a proposta do Reino trazida por Jesus.
Deus, na sua infinita amorosidade é o autor da vida e Jesus é Aquele que veio para que esta vida fosse vivida na sua plenitude. Com sua palavra e ação, o Filho amado de Deus revela a vontade do Pai, que é instaurar no aqui e agora o Reino de Deus. Reino dos Céus na compreensão de Mateus. Contudo, os que se dizem sábios e inteligentes não são capazes de perceber a presença do Reino e sua justiça presentes na pessoa de Jesus. Ao contrário, os pobres descartados, são os que conseguem penetrar o sentido dessa atividade de Jesus e dar continuidade a ela. Lembrando também que Jesus veio tirar a carga pesada que os sábios e inteligentes colocaram sobre as costas do povo. Como Jesus é o Filho da misericórdia, Ele traz um novo modo de viver na justiça e na misericórdia. A partir daí, os pobres serão evangelizados e partirão para serem eles mesmos os evangelizadores de todos nós. Como bem disse o nosso Papa Francisco: “Os pobres evangelizam-nos, ajudando-nos a descobrir cada dia a beleza do Evangelho.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.