Pais e filhos: O percurso educativo em vista da liberdade

Amoris Laetitia 273

Quando se propõe os valores, é preciso fazê-lo pouco a pouco, avançar de maneira diferente segundo a idade e as possibilidades concretas das pessoas, sem pretender aplicar metodologias rígidas e imutáveis. A psicologia e as ciências da educação, com suas valiosas contribuições, mostram que é necessário um processo gradual para se conseguir mudanças de comportamento e também que a liberdade precisa de ser orientada e estimulada, porque, abandonando-a a si mesma, não se garante a sua maturação. A liberdade efetiva, real, é limitada e condicionada. Não é uma pura capacidade de escolher o bem, com total espontaneidade. Nem sempre se faz uma distinção adequada entre ato «voluntário» e ato «livre». Uma pessoa pode querer algo de mal com uma grande força de vontade, mas por causa duma paixão irresistível ou duma educação deficiente. Neste caso, a sua decisão é fortemente voluntária, não contradiz a inclinação da sua vontade, mas não é livre, porque lhe resulta quase impossível não escolher aquele mal. É o que acontece com um dependente compulsivo da droga: quando a quer, fá-lo com todas as suas forças, mas está tão condicionado que, na hora, não é capaz de tomar outra decisão. Portanto, a sua decisão é voluntária, mas não livre. Não tem sentido «deixá-lo escolher livremente», porque, de fato, não pode escolher, e expô-lo à droga só aumenta a dependência. Precisa da ajuda dos outros e de um percurso educativo.

 


Padre Jean Patrik Soares, Cura da Catedral, Reitor do Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Belém e apresentador do Programa Tempo Novo da Rádio Cultura FM.