Apesar de forças contrárias e possíveis perdas, o sucesso da colheita será sagrado

Reflexão litúrgica: Quarta-feira, 20/07/2022
16ª Semana do Tempo Comum

 Na Liturgia desta quarta-feira da XVI Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (Jr 1,1.4-10), que, em tempos difíceis, Deus suscita Profetas. O Profeta é a consciência crítica do povo e alguém que se fortalece pela palavra de Deus para denunciar tudo o que causa sofrimento às pessoas. O Profeta é aquele que faz a leitura divina dos acontecimentos humanos. É o responsável, para Deus, diante das pessoas e das pessoas diante de Deus. Igual Jesus Cristo, o Profeta “é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem” (Exortação Apostólica Ecclesia in América, 67).

O Profeta é o homem da Aliança, mas também o homem da esperança, não é vidente e nem prevê catástrofes, anuncia as exigências do Evangelho, confronta-as com a realidade. É um crítico das pessoas e das sociedades. Por ter uma consciência mais profunda, ele questiona, denuncia, confronta, exige e, muitas vezes, com suas palavras, ‘choca’ os legitimadores dos sistemas vigentes, por isso nem sempre é ouvido, sofre a perseguição e a solidão. Como no tempo de Jesus, sua terra e seu meio não o compreendem. Então, só resta recorrer e até ‘reclamar’ com Deus:

“Seduzistes-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominastes-me e obtivestes o triunfo. Sou objeto de contínua zombaria… olho ao redor e vejo violência e devastação… Não mais o mencionarei e nem falarei em seu nome. Mas em meu seio havia um fogo devorador que se me encerrara nos ossos. Esgotei-me em refreá-lo, e não o consegui… Maldito o dia em que nasci! Nem abençoado seja o dia em que minha mãe me deu à luz. Maldito o homem que levou a notícia a meu pai e que o cumulou de felicidade ao dizer-lhe: Nasceu-te um menino! Por que não me matou, antes de eu sair do ventre materno?! Minha mãe teria sido meu túmulo e eu ficaria para sempre guardado em suas entranhas! Por que saí do seu seio? Para só contemplar tormentos e misérias, e na vergonha consumir meus dias?” (Jr 20, 7-18).

Mas, o Profeta, embora, algumas vezes, caia num grande sofrimento, não se deixa abater ou atingir, ele tem consciência que o chamado é de Deus: “Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor: Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações” (Jr 1, 4-5).

Ele não age por si, age em nome de Deus, é um porta-voz credenciado: “Comunica-lhes tudo o que eu te mandar dizer. Não tenha medo deles”.

Vive mergulhado em conflitos, mas não é enviado para a derrota: “Faço de ti uma fortaleza, uma coluna de ferro e muro de bronze, diante dos reis de Judá e seus chefes, diante de seus sacerdotes e de todo o povo da nação”. O profeta enfrenta o poder: político, econômico e religioso: “Eles farão guerra contra ti”. Mas ele tem Deus como seu aliado: “Não prevalecerão, porque estou contigo, para defender-te”. A vitória é do Deus da vida. “Se o Senhor é por nós, quem será contra nós. N’Ele nós somos mais que vencedores” (Rm 8, 31-39). A partir desta leitura, também nós não tenhamos medo de dizer sim a Deus, pois é Ele quem escolhe, ama, capacita e protege.

No Evangelho (Mt 13,1-9), vemos que Jesus entra na barca que é a Igreja e proclama uma mensagem de ânimo às multidões. Vejamos alguns aspectos que temos que levar em conta:

 1º) Jesus está falando Dele, de seu itinerário, da não aceitação de sua mensagem;

 2º) Jesus está falando aos discípulos que enfrentavam conflitos, estavam desanimados e vivendo em constantes crises;

 3º) Jesus está falando a cada um de nós, aos diferentes tipos de terrenos (nossa vida): alienação, perseguições, estruturas políticas e econômicas, seduções, superficialidade, insensibilidade, forças contrárias etc.

 A questão principal deste texto do semeador é: Por que muitos que acolheram e acolhem o Reino, depois, o abandonam? Diante dos desafios e de como é acolhida a semente (Palavra de Deus), vale a pena semear? A culpa não é do semeador, nem da semente, mas da terra que a recebe: disposição interior, tempo, vontade etc. Então, temos que olhar para dentro de nós, ali encontraremos a resposta.

 Diante dos vários tipos de terrenos, o lavrador é criativo, aproveita da melhor maneira a semente, pois sabe que a semente é de primeira. Temos que valorizar o esforço de cada um, sem exigir o mesmo de todos. Apesar de forças contrárias e possíveis perdas, o sucesso da colheita será garantido.

 Poderíamos nos questionar: Quanta semente recebemos! E somos assim… E se tivéssemos correspondido, como seria nossa vida e nossa realidade?

 Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.