Reflexão: Liturgia do IV Domingo do Advento,
ano C – 19/12/2021
Na Liturgia deste Domingo, IV do Advento, veremos, na 1a Leitura (Mq 5, 1-4a), que o profeta Miquéias fala do ambiente humilde onde irá nascer o Messias, fala da pequenina cidade de Belém, cidade natal do Rei Davi, cidade que representa o lugar teológico, isto é, o lugar social onde Deus se emana. “Ele será a Paz” (Shallon). Será um mundo novo, será um reino de paz e de amor, não construído com a força das armas, mas construído e acolhido nos corações dos humildes.
Vemos em todo o Antigo Testamento que Deus fez opção pelos pobres: viúvas, órfãos, estrangeiros, isto é, os mais fragilizados da sociedade. Ao longo de toda a revelação, é-nos mostrado um Deus que se inclina sobre os pobres, os aflitos, os abandonados e aqueles que não são nada aos olhos do mundo. Tudo isso contém uma lição atualíssima. Nossa tentação, com efeito, é a de fazer exatamente o contrário do que Deus fez: querer olhar quem está acima, não a quem está abaixo; quem está bem, não quem es encontra em necessidade.
Penso que esta palavra de Deus nos pede, hoje, que sejamos humildes, ao menos de coração. A Basílica da Natividade, em Belém, só tem uma porta de entrada, e é tão baixa que não se pode passar por ela senão inclinando-se profundamente. Há quem diz que foi construída assim para impedir que os beduínos entrassem montados em seus camelos. Mas a explicação que sempre se deu é outra. Essa porta devia recordar aos peregrinos que para penetrar no significado profundo do Natal, é preciso abaixar-se e tornar-se pequenos. Que olhando para cada um de nós e de nossas atitudes, Jesus possa novamente exultar de alegria e dizer: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos”.
Na 2ª Leitura (Hb 10, 5-10), o Apóstolo Paulo nos diz que somos chamados a fazer, em tudo, a vontade de Deus, nos assemelhando cada vez mais com Jesus, a ponto de poder exclamar: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2, 20). Mas, para que isso aconteça, temos que realizar está vontade com satisfação e não com murmurações: “Eis que venho (e com prazer), para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb 10, 7).
No Evangelho (Lc 1, 39-45) vemos que Maria é proclamada feliz e bendita porque soube ouvir a voz de Deus e cumprir sua vontade. Maria enxerga o que o ‘outro’ precisa, é solidária, faz de sua visita um dom de proximidade e ternura. “Foi às pressas” para se colocar à serviço e “permaneceu” o tempo necessário para edificação do Projeto de Deus.
Enfim, Maria é a habitação viva de Deus no meio dos seres humanos, é a portadora da presença divina que salva. Maria levou Jesus em seu seio, nós devemos levá-lo em nosso coração. Com Maria, chegaremos até Belém.
Peçamos a graça de Deus e a presença do Espírito Santo em nossa vida:
“Ó Senhor, ternura e paz, por meio de Jesus, viestes encontrar o mais profundo de nossa humanidade. Dai-nos a graça de aceitar a parte pobre de nós mesmos e de acolher os irmãos com suas contradições e fragilidades, para que possamos viver em nós mesmos e na relação com as pessoas a expectativa de um novo parto de salvação e testemunhar ao mundo que Ele já está bem perto. Por Cristo, nosso Senhor. Amém”.
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, atualmente é professor do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá.