Autoridade: profetismo e messianismo

Sábado da Oitava Semana do Tempo Comum. Seguimos embalados pela força do Espírito Santo de Deus. Jesus que havia prometido enviar o Espírito Santo sobre os seus seguidores para acompanhá-los nas suas ações, aconteceu em Pentecostes. Este dia se repete no cotidiano da nossa história, pois também nós podemos ser iluminados pela força deste mesmo Espírito. Deixar que Deus aja em nós pela força do Espírito. Esta é a melhor maneira de seguir os passos de Jesus, dando continuidade às suas ações na procura do Reino. Revestidos com este Espírito, possamos rezar e agir na perspectiva de Santo Tomás de Aquino que dizia: “Espírito Santo, Deus de amor, concede-me: a inteligência que Te conheça; a angústia que Te procure; a sabedoria que Te encontre; a vida que Te agrade; a perseverança que enfim Te possua. Amém.”

O Reino de Deus já está no meio de nós. Já, e ainda não! O Reino se vai construindo na medida em que fazemos a nossa adesão ao projeto de Jesus e vamos dando continuidade às suas ações. Cada vez que promovemos um ato de justiça, de solidariedade, de fraternidade, movidos pelas coordenadas do amor, vamos fazendo o Reino acontecer no aqui e agora. Cada ação nossa feita neste sentido nos faz partícipes da construção deste Reino. O evangelista Lucas resume o Reino com uma das falas de Jesus: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Está aqui ou está ali , porque o Reino de Deus está no meio de vocês”. (Lc 17,20-21)

Chegamos ao primeiro final de semana do mês das festas juninas (13 – Santo Antonio; 24 – São João; 28 – São Pedro e São Paulo). Mas nem tudo é festa na “República das Bananas”. Os povos indígenas, que acompanho aqui na região, estão apavorados com a aprovação pela Câmara dos Deputados do Marco Temporal. Todas as lideranças indígenas sabem que se trata de farsa jurídica que fere frontalmente a Constituição Federal de 1988 nos seus artigos 231 e 232. Tal situação tem tirado o sossego dos indígenas, pois o trator do agronegócio, as patas dos bois, a motosserra do grileiro e o mercúrio do garimpeiro, estão apostos, mirando os territórios sagrados dos povos originários. Não é sem razão que estão todos pintados pra guerra. Triste cenário.

Triste cenário também o de Jesus que nos é apresentado pelo texto do Evangelho que a liturgia de hoje nos oferece como base de reflexão (Mc 11,27-33). Jesus volta mais uma vez ao Templo e se coloca no meio das serpentes, as autoridades religiosas. Depois de chamar aquele espaço de “toca de ladrões”, Jesus, seguido pelo povo, está às voltas com mais uma contenda com aquelas autoridades. Na realidade, os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os anciãos, não aceitam a origem messiânica de Jesus e o querem colocá-lo a prova, tudo porque Ele fazia o bem aos pobres e marginalizados pelas estruturas e dinâmica do Templo.

Tais autoridades se sentem incomodas com a presença de Jesus ali naquele espaço do Templo, seguido por uma grande multidão. Procuram de todo modo encontrar um jeito de dar um fim no projeto representado por Jesus, eliminando a sua pessoa, mas temiam a repercussão popular. Desta maneira, os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os anciãos ficam maquinando uma maneira de fazer uma armadilha para desmoralizar a autoridade de Jesus diante do povo. Percebendo tal situação, Jesus usa das mesmas artimanhas daquelas autoridades, devolvendo a elas a pergunta feita anteriormente.

“Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso? (Mc 11, 28) Jesus utiliza de uma pedagogia inteligente e coloca tais autoridades em cheque, devolvendo-lhes a pergunta: “o batismo de João vinha do céu ou dos homens? (Mc 11, 30) A depender da resposta daquelas autoridades, estas entrariam em contradição e seriam desmoralizadas. Jesus não necessita de provar nada para ninguém, muito menos para aqueles que manipulavam a religião em benefício próprio de seus interesses e de sua classe política.

A autoridade de Jesus vem de Deus. Sua autoridade está vinculada ao seu profetismo messiânico. A verdade estava à frente de seu discurso e sua prática estava voltada a fazer acontecer o projeto de libertação dos pobres, excluídos e marginalizados. O messianismo profético de Jesus incomodava muito as autoridades judaicas. O que falta hoje a nossa Igreja, lideranças religiosas que estejam afinadas com a mesma prédica e prática de Jesus em favor dos pequenos. Jesus vestia as vestes dos empobrecidos, lutando pelas suas causas. Neste sentido, tem razão o nosso Papa Francisco quando diz: “queremos pastores com o cheiro das ovelhas e sacerdotes que saiam mais de si mesmos”. Profetismo e messianismo, duas realidades intrínsecas do ser cristão consciente e ativo no mundo. Autoridade não para dominar, mas para ser e fazer como Jesus.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.