Terça feira da décima semana do tempo comum. Passados os períodos pascais, pentecostes e Santíssima Trindade, voltamos ao tempo comum. Agora, pés no chão da estrada.
Mesmo estando na fria capital dos goianos, transplantei-me até o Araguaia, mais precisamente na companhia de meu eterno bispo Pedro, em sua humilde sepultura, para rezar em sua companhia.
Compadre Pedro, a coisa aqui esteve feia. Depois de uma dor de cabeça chata, vim à Goiânia para retorno ao cardiologista e neurologista, como exames próprios de rotina. Mal sabia eu que, após uma ressonância magnética, havia sofrido um AVC hemorrágico e que os médicos não entendiam porque eu ainda estava caminhando diante deste quadro.
Rapidamente, dei entrada no Sistema SUS e daí para frente, Deus foi colocando as pessoas certas em meu caminho. Pessoas certas, na hora certa e no lugar certo. Foi uma sequência de ações bem sucedidas, até este momento que estou aqui ainda em Goiânia, a espera da retirada dos pontos e retorno para avaliação do pós cirúrgico. Anjos de Deus, a serviço deste pobre mortal do Araguaia.
Aparentemente, não ficou nenhuma sequela. Aos poucos, vou recobrando de todo o calvário por onde passei, sobretudo neste cenário de pandemia.
Senti muito a falta de cada um de vocês que me acompanhavam por aqui. Alguns até manifestaram pela minha ausência aqui com as humildes reflexões. De minha parte, também devo confessar que senti por demais esta interação com cada um de vocês. Nos acostumamos a nos “vermos” por aqui.
Deus é extremamente bondoso e misericordioso. Ele nunca falta. Quando menos se espera, lá Ele, nos carregando em seu colo maternal de bom Pai que é. Trago muito presente em mim uma frase significativa: “Nada é em vão, se não é bênção, é lição”. Eu diria que tudo isso me serviu de bênção e lição. Hora de desacelerar o processo de uma vida doada às causas do Reino.
Neste sentido, chama-nos a atenção a fala de Jesus no evangelho de hoje: “Vós dois o sal da terra”. (MT 5, 13). Sal este numa medida certa. Sem mais, nem menos. Se é demais, vem em forma de ódio, preconceito, indiferença, intolerância, fanatismo, cegueira. Se for de menos, se torna insosso. Jesus com a sua pedagogia nos mostrando a forma de ser seus seguidores, tendo as suas mesmas atitudes diante das pessoas, principalmente para com os mais pobres e vulneráveis.
Ainda fragilizado, aos poucos, vou retornando a ativa. Não estou ainda em meu Araguaia, onde sempre fui muito feliz. Mas não me esqueço jamais que, se estou vivo hoje, devo isso ao meu Deus fiel, as orações dos muitos amigos, amigas e também de seus gestos solidários, ajudando-me inclusive financeiramente, cada um a sua maneira. Com os quais possuo uma dívida de gratidão. Certamente, Deus entende que a minha missão por aqui ainda não terminou e logo logo estarei labutando com os meus povos Indígenas, razão maior de meu existir. (Amicus in veritate et ex corde – unidos no mesmo caminhar) Amo cada um e cada uma de vocês.