Púlpito nas igrejas é aquele espaço mais elevado, onde os oradores e leitores proclamam a palavra de Deus. É uma palavra de origem latina “pulpitum”, que quer significar “plataforma” ou “palco”. É deste espaço também, que o padre, profere a sua homilia ou “pregação”. Particularmente não gosto desta palavra. Talvez porque tivesse dificuldade de entender, quando criança, que o padre estava “pregando”. Na minha cabecinha de criança, quem estava sendo pregado numa cruz, era Jesus, pelos seus algozes.
Conheço alguns padres que tem este espaço com sagrado. Mesmo sem a presença do Santíssimo ali. E por ser sagrado, não permitem que as pessoas subam no púlpito, para não maculá-lo. Desta forma, as pessoas que participam da celebração, e que vão fazer os comentários ou proclamar as leituras, ficam juntas com as demais pessoas na assembleia, ocupando os primeiros bandos. Só ocupam o espaço do púlpito, quando vão ler. A meu ver, uma bobagem! Entendo que alguns padres não socializam o espaço do púlpito, com medo que as pessoas percebam que de sagrado ali não tem nada.
Sempre tive uma concepção diferente acerca do papel do ministro ordenado, no que se refere às suas reflexões homiléticas. O principal, no meu entendimento, não é o anunciar simplesmente a Palavra de Deus. Este anúncio tem que ser precedido primeiro de uma vivência de fé. Ao proferir a sua reflexão, o padre vai falar da sua própria experiência de vivenciar a fé, através da sua prática cotidiana, junto à sua comunidade. Porque senão a sua fala vai ser apenas mais um discurso interpretativo do texto bíblico. E as pessoas percebem quando o padre fala, mas não vive aquilo que fala e acredita. Se este padre, é alguém que caminha junto ao seu povo, que faz visitas periódicas às famílias, conhece a realidade sofrida das pessoas, ele vai ser diferente daquele que fica apenas na casa paroquial. Sem esta presença na vida do povo, a sua fala também não terá vida e consistência.
A grande discussão que está permeando as redes sociais no momento é se o padre deve ou não falar de política, durante a homilia. Ainda afirmam que o padre não deve usar o púlpito da sua igreja para falar de política. Este é o pensamento de algumas pessoas, no que tange a este assunto. Há, inclusive, pessoas influentes dentro da própria Igreja, que também pensam assim. Esquecem esta pessoas, que esta afirmação de que “o padre não deve falar de política”, já é em si fala eminentemente política. “Política de uns e política de outros”, já nos dizia um dos bispos considerados um dos mais políticos deles, Pedro Casaldáliga. O mesmo bispo Pedro tem a concepção de que: “Tudo é político, mesmo que o político não seja tudo.”
Na maioria das vezes, temos uma concepção muito equivocada do que vem a ser a política. Mesmo algumas pessoas esclarecidas dentro da Igreja, que inclusive apelam à Doutrina Social da Igreja. Para nos ajudar, recorro ao grande filósofo Aristóteles, para clarear o nosso pensamento. ARISTÓTELES, que viveu na GRÉCIA ANTIGA no século IV a.C, considerado por muitos como um dos filósofos mais importantes, ao lado de PLATÃO, tinha uma visão muito clara a respeito de POLÍTICA. Segundo ele, a política, é uma ciência que tem por objetivo primeiro a FELICIDADE HUMANA. Também nos seus vários escritos, nos deixa entender que a política é a ARTE de BEM GOVERNAR e representar as pessoas, na CIDADE-ESTADO, ou na PÓLIS, sempre na perspectiva da COLETIVIDADE. Ou seja, no seu entendimento, a Política é tudo o que se relaciona à busca de ações para o bem estar tanto INDIVIDUAL como COLETIVO.
O Papa Francisco nos diz que “a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum.” Esta é a concepção que temos que ter da política. Como a busca incessante do bem comum, no exercício da cidadania. O padre quando fala de política está dando o seu testemunho e exercendo o seu profetismo, vinculado à pessoa de Jesus e de seu Evangelho. E este “profetismo e o testemunho do padre se inserem no projeto de Jesus Cristo, que é instaurar o Reino de seu Pai. Reino de vida, de justiça e liberdade, reino da verdade e da paz. A proposta de Jesus Cristo é a oferta de vida plena para todos.” (DAp 361, 386). (96)
Não nos esqueçamos de que o profetismo tem sua origem na fé da ação libertadora de Deus no êxodo (Ex 20,2; Dt 5,6). E profeta é aquele que surge para defender o povo das injustiças cometidas pelos seus próprios líderes sejam eles religiosos, ou políticos. Falam a verdade, doa a quem doer. Por fim, quando Jesus chama um dos Herodes de raposa, ele não precisou ir até os sumos sacerdotes do templo para perguntar se podia ou não dizer isto. Os profetas são necessários em todos os momentos, porque eles são as melhores testemunhas da presença de Deus no meio de seu povo para o defender dos bandidos transvestidos de políticos.