Mais uma semana teremos pela frente. O mês de agosto começa mostrando que a nossa pandemia segue na mesma toada. Mais de mil pessoas perdem suas vidas a cada dia. Estamos caminhando para as 100 mil vidas tiradas do meio de nós. São vidas de pobres, pois os ricos não morrem desta doença. Como no caso do governador de Mato Grosso, que saiu do estado, para se tratar em São Paulo. Primeiro porque pode pagar uma diária no Sírio Libanês. Segundo porque nem ele mesmo acredita na estrutura montada por seu governo, para atender os mais pobres. Tinha que ter ficado por aqui e entrado na fila das UTIs, sentindo na própria pele o que passa os pobres excluídos, marcados para morrer.
Começo a minha semana com o coração apertado e entristecido. Ter retornado à Terra Indígena Xavante de Marãiwatsédé me deixou assim. Confesso que nunca vi uma aldeia tão triste e assustada. Jovens e velhos, temerosos com a doença que ronda a aldeia. Todos com os seus olhares perdidos no horizonte, indefesos e sem perspectivas. As falas revelam a realidade de um vírus invisível que assusta a todos. Nem a notícia de que o Exercito brasileiro entraria na aldeia, realizando uma força tarefa, trouxe alento e novas perspectivas. Pelo contrário, estão com medo de que com eles, venha também mais vírus, como no caso dos Yanomami, Amazonas (afluentes da margem direita do rio Branco e esquerda do rio Negro).
Falando na própria língua, as lideranças Xavante foram taxativas de que não permitirão que os helicópteros desçam na aldeia. Ficou acertado que seria numa área fora e distante da aldeia. Também reafirmaram que, não aceitarão o tratamento com a medicação Cloroquina. Eles ficaram sabendo que o exército traria este tipo de medicamento, por este motivo fizeram questão de dizer. Coube a eu fazer a tradução das conversas. Situação pra lá de embaraçosa. O povo Xavante é muito altivo e o que tem de dizer, o faz sem mandar recado. Sempre os admirei por esta característica.
A semana recomeça nos moldes de como a mesma terminou. Vários sites na internet atacando virulentamente e difamando os bispos que assinaram a “Carta ao Povo de Deus”, numa total falta de respeito ao trabalho destes homens, que dão as suas vidas em suas dioceses. Palavras duras dirigidas aos bispos, chamando-os de comunistas trabalhando para Moscou. Segundo estes aloprados, os bispos estão desvirtuando a Palavra de Deus e a Doutrina Social da Igreja. É somente o que esta horda sabe falar. Nem eles mesmos sabem o que quer dizer a palavra comunista. Como seguem o tresloucado que desgoverna o país, isso não seria novidade e nem nos surpreende.
Vivemos tempos difíceis e escabrosos. Infelizmente, aqueles que apóiam a “economia que mata” (como dizem os bispos em sua carta) e o desmantelo da nação brasileira, não querem enxergar esta triste realidade, pela qual estamos passando. O que mais espanta é saber que aqueles que atacam os bispos estão do mesmo lado daqueles que fazem fotos com armas pesadas em suas mãos, inclusive alguns padres, numa apologia contrária a tudo o que diz o Evangelho e as falas do próprio Jesus.
São os católicos de carteirinha, ligados à elite brasileira. Se não são da mesma classe, fazem o discurso da mesma. São ferrenhos moralistas, sem compaixão com a causa dos pequenos. Os bispos, por seu turno, além de viverem a sua vida de entrega total à causa dos empobrecidos, denunciam o desgoverno ‘funeral’ daquele que foi alçado ao posto máximo e, em nenhum momento, sentou-se na cadeira presidencial para traçar um plano de governo, principalmente de enfrentamento desta grande pandemia. Dizer que o nosso bispo emérito Pedro, juntamente com Dom Adriano Ciocca Vasino são comunistas, para ficar apenas nestes dois homens de Deus, é no mínimo uma maldade irresponsável e sem limites.
Da mesma forma que, na manifestação realizada em frente ao prédio da CNBB em Brasília, no último sábado, fizeram críticas contundentes à Teologia da Libertação, numa manifestação clara de que, desconhecem por completo, esta forma de se fazer teologia. Se ao menos se dessem ao trabalho de ler para embasar a sua crítica funesta e agourenta. Evidentemente que a Teologia da Libertação faz uso sim das categorias de análises marxista, como forma de desvendar a realidade de opressão e desigualdade social a que estão submetidos os pobres no Continente Latino Americano. Foi o que fez também, tanto a Conferência de Medellín, em 1968 e a Conferência de Puebla, em 1979, trazendo-nos luz sobre esta realidade de exploração dos pobres, numa sociedade marcada pela alta concentração de renda nas mãos de uns poucos. Enquanto isso, o governo de morte segue o seu desmando. Neste sentido, somos obrigados a concordar com a escritora francesa Simone de Beauvoir: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.”