Brasil, um país de poucos

E não é que “sextou” de novo! Para a alegria dos cervejeiros de plantão, que vêem neste dia, a oportunidade de tomar a sua tradicional cerveja, como é o caso do meu amigo Josias Fidelix Campos, dos bons tempos idos da PJ. Todavia, não nos esqueçamos, de que estamos em pleno Advento. Momento oportuno para nos esperançarmos e sonhar, mesmo que a realidade seja cruel e sem perspectivas. Crer, confiar e acreditar, faz parte da experiência de fé, de que o amanhã virá e nos trará novas luzes, preenchendo o nosso vazio de utopia e novos horizontes possíveis. Oh vem Senhor, não tardes mais! https://www.youtube.com/watch?v=W6ZD8_OrOgQ

Já não temos mais a pandemia por aqui. Pelo menos foi o que nos assegurou o ser mais iluminado do Planeta Terra, que ontem, decretou o fim da pandemia no Brasil. Resumindo: não temos pandemia; não temos Ministro da Saúde; não temos governo; não temos vacina. Talvez porque que, grande parte dos outros seres, que acompanham o ser iluminado, contentam-se com a vacina contra a “Febre Aftosa”, com a qual já tenham sido gentilmente imunizados.

Mais uma semana chegando ao seu fim! Uma semana importante, com algumas datas significativas que marcaram a nossa história. Uma destas datas tem um significado especial para aqueles que se preocupam com os direitos das pessoas. No dia 10 de dezembro de 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu em Paris, França a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. Este é considerado o documento mais importante, pois ele serve como base para os direitos humanos em todo o mundo, como o ideal comum a ser atingido por todos. Direitos humanos para humanos direitos!

Apesar desta Declaração tão importante para a história da humanidade, principalmente depois do contexto de uma guerra cruel e sanguinária – II Guerra Mundial (1939-1945), os direitos humanos seguem sendo violados diuturnamente em todo mundo. No Brasil, então, nem se fala. Por aqui, os “Direitos Humanos” são considerados como “coisa de esquerdista comunista”. Defender a vida e tudo que ela enseja, é uma atitude não pensada pela elite brasileira atrasada, de uma sociedade estruturada, com bases nos valores instituídos a partir da “Casa Grande”. Elite do atraso, como fazia questão de dizer Darcy Ribeiro.

Somos um país de dimensões continentais. São ao todo, oito milhões e meio de quilômetros quadrados de extensão territorial. Um país de muitos, mas pensado e estruturado para poucos. Poucos que concentram sobre e para si, as riquezas e a porcentagem maior de terras. Tudo porque, há exatos 170 anos, o Brasil tomou uma decisão, que determinaria o seu futuro, marcada sua histórica concentração fundiária. Em 18 de setembro de 1850, o imperador dom Pedro II, assinou a Lei de Terras, por meio da qual o país oficialmente optou por ter a sua zona rural dividida em enormes latifúndios, e não em pequenas propriedades.

Segundo dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), apenas 0,7% das propriedades têm área superior a 2.000 hectares (20 km²), mas elas, somadas, ocupam quase 50% da zona rural brasileira. Por outro lado, 60% das propriedades não chegam a 25 hectares (0,25 km²) e, mesmo tão numerosas, só cobrem 5% do território rural. Lutar contra esta realidade é assinar o próprio atestado de morte. Quantas vidas não foram tiradas do meio de nós de pessoas que se levantaram contra tamanha injustiça?

Os Direitos Humanos fazem parte da nossa vida de cristãs e cristãos comprometidos. Seguidores do Projeto de Jesus de Nazaré. Segundo a Doutrina Social da Igreja, a terra é dom de Deus e sobre ela pesa a função social. É um direito fundamental das pessoas, terem o seu pedaço de chão, sobre o qual possam construir a sua história de vida com os seus. Precisamos superar a ideia capitalista do desenvolvimentismo, que vêem a terra apenas como bem de capital. Até porque, os alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, não advém do “agro-veneno”, mas dos pequenos produtores da agricultura familiar.

“onde o pecado abundou, superabundou a graça”, nos diz Paulo (Rom 5, 20). Que a esperança renasça em cada um de nós e nos faça plenos de luz! Que não desanimemos diante dos obstáculos que se nos interpõe. Somos discípulos e discípulas do Ressuscitado. ELE é conosco! Por fim, rezemos com Pedro e sua teimosia rebelde, em forma de profecia: “Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar! Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos, para ampararem cercas e bois e fazerem da terra escrava e escravos os homens!” (Pedro Casaldáliga)