Caminhos de libertação

Sexta feira da quarta semana do tempo pascal. Dia 13 de maio. Uma data muito significativa, tanto para os cristãos, como para a História do Brasil em si. No lado religioso, este é do dia dedicado a Virgem de Fátima, ou Nossa Senhora do Rosário de Fátima; do lado histórico, este é também o dia da “Abolição da Escravatura”. Ambos os acontecimentos merecem uma reflexão mais aprofundada, como forma de conhecer mais de perto a realidade de um, e de outro contexto, no intuito de se ter um posicionamento mais condizente, seja no campo da fé seja também perante a história.

Nossa Senhora de Fátima ou, formalmente, Nossa Senhora do Rosário de Fátima, é uma das devoções atribuídas à Maria, originária das aparições recebidas por três pastorinhos na Cova da Iria, na cidade de Fátima, em Portugal. Dali em diante, desenvolveu-se todo um processo devocional à Nossa Senhora. Lembrando que naquele contexto histórico, 13 de maio de 1917, o mundo assistia incrédulo ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Da mesma forma que via surgir a Revolução Russa de 1917, que viria provocar uma transformação interna e também na geopolítica mundial a partir de então.

Já no que diz respeito à História do Brasil, oficialmente se diz que houve a “A abolição da escravatura em 13 de maio de 1988, por meio da Lei Áurea, assinada pela regente do Brasil, a princesa Isabel. Foi um dos acontecimentos mais marcantes da história do Brasil e determinou (ou não) o “fim da escravização dos negros no Brasil”. Ainda propalou a ideia de que a abolição da escravatura foi a conclusão de uma campanha popular que pressionou o Império para que a instituição da escravidão fosse abolida do país. Quando se sabe que tal abolição nunca, de fato, aconteceu e nem foi através da participação deste personagem histórico, uma vez que houve uma forte pressão por parte da Inglaterra, que vinha com a franca expansão de sua Revolução Industrial (1750), que necessitava de um mercado consumidor dos produtos oriundos desta revolução. Tanto que, cinquenta anos depois que a maioria dos países acabaram o sistema escravagista, o Brasil, a seu modo, deu fim ao escravagismo, com resquícios dele em pleno século XXI.

Bom que se diga que o sistema escravagista foi objeto de muitas lutas pelo seu fim até os dias atuais. Os negros, que foram traficados da “Mãe África”, foram os primeiros protagonistas desta luta de libertação. Estima-se que 21 milhões deles vieram forçadamente para no Continente Americano, como escravos de senhores brancos. Inclusive da Igreja Católica, que tinha também os seus escravos. Curiosamente, durante o período do Império do Brasil, enquanto a realeza usava os anéis ornados a ouro, os negros e também indígenas, usavam o “Anel de Tucum”, como símbolo de resistência na luta pela libertação. Desta forma, esse rústico anel, se tornou o símbolo de luta, aliança e parceria para as camadas sociais oprimidas. Posteriormente, os adeptos da Teologia da Libertação e os movimentos sociais, incorporaram este símbolo como um sinal de pertença na luta pelas causas populares.

Estes são os caminhos da história que muitos de nós os desconhecemos. A História Oficial está repleta de informações tergiversadas, que precisam ser reescritas a partir da ótica dos “vencidos”. Causa dor em nossa consciência ver professores ainda repetirem os chavões alienados da história oficial, que ainda estão presentes nos nossos livros didáticos, repassando aos nossos alunos nas escolas, como forma de conhecimento. Precisamos trilhar novos caminhos, seja no campo histórico, seja nas nossas experiências de fé. Construir caminhos que abram horizontes de novas perspectivas políticas, sociais e de direitos, sobretudo para as nossas juventudes. Uma fé devocional que abre mão da participação social é uma fé capenga, pra não dizer alienada.

A experiência de fé se faz no caminho. Nenhuma fé devocional pode dissociar do social. Caminhos como aqueles abertos por Jesus durante a sua peregrinação terrestre na Palestina. Por mais adversa que fosse a situação sócio-histórica da Palestina do primeiro século, Jesus aponta horizontes de perspectivas para o caminhar itinerante. Talvez, como Tomé, também nos perguntemos: “Como podemos conhecer o caminho? Jesus respondeu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”. (Jo 14, 5-6) O caminho que devemos buscar é o caminho que nos leva para a vida. Ele é o caminho. Basta que n’Ele nos espelhemos e façamos de nossa jornada de cada dia o seguimento de seus passos. O caminho pode até ser longo, mas não nos levará ao fracasso, pois Ele caminha de mãos dadas conosco. Como nos dizia Charles Chaplin (1889-1977): “A persistência é o caminho do êxito”. Sejamos, pois caminhantes pela vida na procura do Reino revolucionando a fé e a história.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.