Quinta feira da Vigésima Quarta Semana do Tempo Comum. Já avistamos a primavera no nosso horizonte. Ela já se faz presente entre nós, não somente com a sua nova vestimenta, mas também porque hoje (21), comemoramos o Dia da Árvore. Uma data significativa e que nos faz refletir sobre a importância desta riqueza natural e sua relevância no contexto de uma vida mais saudável para o planeta. As árvores antecipam para nós a chegada desta estação. Primavera que, no Brasil, tem o seu início entre os dias 22 e 23 de setembro e segue até o dia 21 ou 22 de dezembro. Primavera que o nosso cantor mineiro Beto Guedes assim cantou-a: “Quando entrar setembro. E a boa nova andar nos campos. Quero ver brotar o perdão. Onde a gente plantou juntos outra vez”. (Sol de Primavera)
“Quero ver brotar o perdão!” Foi com este sentimento que rezei nesta manhã, ainda bem cedo, em meio às enormes árvores do “Campo Santo”, onde estão depositados os restos mortais do “peregrino do Araguaia”. O frondoso pequizeiro, com sua nova roupagem, se fazendo de testemunha, deste encontro místico. O sol despontando, anunciando o alvorecer de um novo dia, acordando nossos sonhos para a vida real, dos pés descalços, pisando a terra vermelha. Mais um dia em que o esperançar de Pedro nos desafia como legado a ser vivido, acreditando nas suas palavras: “eles podem tirar tudo de nós, exceto a esperança fiel”. Pedro vive!
Pedro, chamado a servir! Assim como Mateus, chamado por Jesus, e tendo a oportunidade de conviver pessoalmente com o Mestre Galileu. Mateus que não era um homem qualquer, mas um “terrivelmente” pecador, publicano, cobrador de impostos. Sua missão, como servidor do poder romano, era a de encher os cofres daqueles governantes e, de quebra, colocar alguns deles no próprio bolso. É, exatamente, este “povinho” a quem Jesus se dirige, e o chama para fazer parte de seu grupo, sem fazer uso dos critérios morais e/ou religiosos. Chama porque quer: “Segue-me!”
Mateus, que os outros evangelistas o chamam de Levi, trabalhava na Coletoria de Impostos. Os cobradores de impostos eram desprezados e marginalizados porque estavam a serviço da dominação romana, cobrando impostos e, em geral, aproveitando para roubar. Apesar de ser quem era, Mateus carregava um nome abençoado, já que este nome significa “dádiva de Deus”, “presente de Deus” ou ainda “aquele que é enviado por Deus”. Tem a sua origem hebraica, a partir de “Mattiyyah”, que chegou até à nossa língua portuguesa, através do latim “Mataeus”. De Levi, Mateus assume o novo nome, dada a sua resposta imediata a Jesus: “Ele se levantou e seguiu a Jesus”. (Mt 9,9) De cobrador de impostos, passa a ser um grande servidor das mesmas causas de Jesus, contribuindo ainda com os escritos da experiência que teve ao lado de seu Mestre.
De todos os evangelistas, Mateus é aquele que apresenta uma didática mais clara acerca do messianismo de Jesus. Para ele, Jesus é o Messias que veio realizar todas as promessas feitas no Antigo Testamento, ultrapassando assim todas as expectativas terrenas e materiais dos seus contemporâneos. Na concepção de Mateus, Jesus é aquele que veio realizar toda a justiça, como ele mesmo assim descreve: “devemos cumprir toda a justiça” (Mt 3,15). A ação libertadora de Jesus acontecendo através de sua palavra e ação, orientando e educando os seus seguidores, para a prática dessa justiça, isto é, vai ensinando (querigma) como se deve realizar concretamente a vontade de Deus.
Jesus que chama os pecadores como Mateus e chama também a cada um de nós para fazermos parte de seu discipulado. Todo chamado (segue-me!) pressupõe a escuta atenta e também a resposta decidida e imediata. Resposta imediata, pois não dá para esperar: “Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai”. (Lc 9,59). O chamado é agora e a resposta também. Os primeiros passos para os que seguem Jesus em seu caminho são: disponibilidade contínua, capacidade de renunciar a seguranças e, sobretudo, iniciado o caminho, não voltar atrás, por motivo algum. De conversão em conversão, dando os passos com as nossas limitações.
Jesus chama e quer contar com os pecadores. Senta-se à mesa e come com eles, para escândalo da época (onde já se viu?). Os que faziam isto eram considerados impuros e pecadores. Na lista dos chamados de Jesus não figuram aqueles que se acham perfeitos e impecáveis. São os pagãos, cobradores de impostos (Levi), prostitutas, empobrecidos, doentes e marginalizados em geral. Jesus quer contar comigo e com você, por causa do que nós realmente somos: pecadores, frágeis, limitados. Ao assim proceder, Jesus faz alusão àquilo que fora escrito pelo profeta Oséias: “Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos”. (Os 6,6) É no chão das imperfeiçoes da vida que vamos dando os nossos passos na construção do Reino de Deus. Cada um fazendo a sua parte neste todo. Confiança e entrega, acreditando como Jeremias: “Conheço meus projetos sobre vocês: são projetos de felicidade e não de sofrimento, para dar-lhes um futuro e uma esperança”. (Jer 29,11) E aí, vamos juntos nessa?
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.