Chave de leitura – Lc 12

O capítulo 12 do Evangelho de Lucas está dentro da seção sobre os ditos e feitos de Jesus a caminho de Jerusalém. Jesus está prestes a consumar sua missão, entregando sua vida na cruz. Por isso, os textos dessa seção adquirem um tom escatológico, isto é, tratam de realidades futuras como o fim dos tempos.

Novamente, adotamos a divisão da Bíblia de Jerusalém, organizando o texto em pequenas perícopes.

a) Falar abertamente e sem temor (Lc 12, 1-12)Jesus adverte seus discípulos sobre a hipocrisia. A hipocrisia é o ato de fingir ser o que não é ou de exigir do outro aquilo que não se faz. O mestre revela que nada ficará oculto para sempre. Por isso, não vale a pena viver uma vida de aparências. O temor a Deus deve estar sobre todas as coisas. Jesus ainda garante sua fidelidade e testemunho àqueles que permanecerem com Ele até o fim e exorta seus discípulos a perseverarem na fé sem deixarem se abalar pelo medo ou se acomodarem na mediocridade.

b) Não entesourar (Lc 12, 13-21) – Jesus repreende as ambições humanas e ensina seus discípulos a cultivarem um coração desapegado. As preocupação demasiada com as coisas deste mundo podem nos distanciar de Deus e usurpar o lugar Daquele que é a verdadeira razão da nossa existência. Os bens deste mundo são passageiros e a segurança que eles oferecem é ilusória. No fim da vida, seremos julgados pelo que fomos, não pelo que tivemos. É um erro querer acumular bens nesta vida.

c) Abandonar-se à Providência (Lc 2, 22-32) – O Reino de Deus exige uma decisão radical. Ele deve ser prioridade na vida do cristão. A luta pela sobrevivência e as preocupações materiais não devem se sobrepor ao Projeto de Jesus. Não se trata duma confiança cega, passiva e alienante na providência divina, muito menos no desprezo dos bens materiais. O verdadeiro discípulo de Jesus deve se preocupar apenas com o necessário. Ocupar-se com o essencial é fundamental para não perder de vista a novidade do Reino e suas exigências.

 d) Vender os bens e distribuir aos pobres (Lc 12, 33-34)O texto completa o discurso de Jesus sobre o comportamento dos Seus discípulos diante dos bens materiais. Na cultura hebraica, o coração é o lugar das decisões. Portanto, saber onde está o coração é ter consciência do sentido que elegemos para a nossa vida. O cristão deve ter um coração totalmente decidido por Deus. A partilha e o dom de si é a verdadeira garantia de salvação.

e) Prontidão para o retorno do Mestre (Lc 12, 35-48) Jesus alerta seus discípulos sobre a vigilância. Os rins cingidos e indica a disposição de caminhar bem como o domínio de si. Já as lâmpadas acessas indicam atenção, preparo e esperança. Assim temos uma bela síntese do itinerário salvífico cristão: caminhar com esperança. É preciso ir ao encontro do Senhor atento e vigilante, pois Ele nos aguarda na felicidade sem fim. Jesus deixa claro que Suas palavras são dirigidas primeiramente aos seus discípulos. Portanto, quem encontrou Jesus, conheceu Sua Palavra e experimentou-O com mais intensidade tem responsabilidade maior sobre suas atitudes.

f) Jesus diante da sua paixão (Lc 12, 49-50)Embora a imagem do fogo frequentemente remeta ao juízo divino, nessa passagem da Sagrada Escritura ela pode ser interpretada de duas formas. De um lado, temos o fogo da Paixão, acendido por Jesus ao derramar o Seu sangue pela salvação do mundo. De outro lado, temos o fogo do Espírito, oferecido por Jesus como um Dom aos Seus discípulos.

g) Jesus, causa de divisões (Lc 12, 51-53)A Paixão de Cristo e o Dom do Espírito são causa de divisões. A opção por Jesus gera uma vida conflituosa. A vida cristã coloca os discípulos numa constante tensão: ele será rejeitado por todos aqueles que não aceitam a Boa Nova de Jesus e deverá combater tudo aquilo que atentar contra o Reino de Deus.

h) Discernir os sinais dos tempos (Lc 12, 54-59)Jesus indaga às multidões sobre os sinais dos tempos. O que são os sinais dos tempos? Os sinais dos tempos são os sinais de salvação, são todas as realidades que apontam para Deus e as situações concretas onde Ele revela Seu agir amoroso. É preciso discernir os caminhos que convergem para o Reino e interpretar os acontecimentos do mundo à luz do plano divino.

Queridos peregrinos, o capítulo 12 do Evangelho de Lucas nos coloca diante de um imperativo tão importante quanto desconcertante: não se brinca de ser cristão. Ser cristão é uma decisão séria com fortes implicações na nossa vida concreta. Não é possível ser cristão pela metade. O projeto salvífico de Jesus exige de nós uma decisão radical. A Palavra do Senhor é um estilo de vida que modifica a nossa história, dá sentido à nossa existência e orienta o nosso agir.