Chave de leitura – Marcos 12

No Capítulo 12 do Evangelho de Marcos, continuamos acompanhando o ministério de Jesus em Jerusalém. A perspectiva é a mesma: o seguimento do Mestre. Agora, no entanto, deparamo-nos com uma resistência incisiva ao projeto de Jesus.

a) A Parábola dos Vinhateiros Homicidas (Mc 12, 1-12)

A Parábola dos vinhateiros homicidas acusa a rejeição de alguns grupos à pessoa e ao projeto de Jesus. Por que algumas pessoas são tão resistentes ao Mestre? Porque elas se apropriaram indevidamente do Reino de Deus. Ao longo do tempo, as autoridades foram aprisionando o projeto de Deus em suas convicções e impedindo a ação criativa de Deus. A vinha é Israel, o dono é Deus, os servos são os profetas e o filho do dono é Jesus. Desta forma, temos uma síntese de toda a história e dinâmica da rejeição à verdade de Deus.

b) O imposto a César (Mc 12, 13-17)

Novamente, os fariseus e os herodianos querem pegar Jesus. A questão é política. Os zelotas se recusavam a pagar impostos sob a alegação de que Deus era o único soberano dos judeus. No entanto, o Mestre vira o jogo. Jesus coloca as coisas nos seus devidos lugares. Dar a Deus o que é de Deus é reconhecer o senhorio de Deus sem tomar partido. O que César tem senão uma moeda cunhada com sua face? O mundo e tudo o que nele existe vem de Deus e pertence a Ele. Até a maior das autoridades humanas deve se subjugar ao senhorio de Deus.

c) A ressurreição dos mortos (Mc 12, 18-27)

Agora, a provocação está por conta dos saduceus. Esse grupo social e religioso não acreditava na ressurreição. Sua principal preocupação era com a manutenção da ordem e dos bens materiais dentro dos seus próprios esquemas. Novamente, Jesus põe em xeque a lógica materialista dos saduceus e anuncia a plenitude do Reino numa forma de vida onde todas as carências e necessidades são superadas. O Deus de Israel é o Deus dos vivos. Não existe morte para quem vive em comunhão com Deus.

d) O Primeiro Mandamento (Mc 12, 28-34)

Depois dos fariseus, dos herodianos e dos saduceus, é a vez de um doutor da Lei confrontar Jesus. No entanto, o escriba parece menos desarmado. O texto revela certa docilidade do homem à resposta de Jesus. A questão gira em torno de uma realidade fundamental para o povo de Israel: a Lei. Mais uma vez, o Mestre surpreende a todos com Sua resposta. Ele faz uma das mais belas sínteses da Lei do Senhor: amor a Deus e ao próximo. Todo o conjunto dos Dez Mandamentos podem ser enquadrados nesses dois imperativos.

e) Cristo Filho e Senhor de Davi (Mc 12, 35-37)

Depois de calar todos os seus opositores, Jesus toma a palavra para Si. Ele levanta uma grande problemática a partir do salmo 109. Embora Jesus seja humanamente da descendência de Davi, Seu senhorio está muito acima do grande rei de Israel. Desta forma, o Mestre revela mais uma vez Sua identidade. Apesar de ter assumido a nossa humanidade e encarnado-Se no chão da nossa história, Jesus Cristo, em Sua divindade, transcende toda a realidade concreta.

f) Os escribas julgados por Jesus (Mc 12, 38-40)

Jesus denuncia a hipocrisia dos fariseus. O que é a hipocrisia? A hipocrisia é o ato de fingir ser o que não é ou de cobrar do outro aquilo que não se é capaz de fazer. No Reino de Deus, não há espaço para joguinhos nem se pode ficar em cima do muro, muito menos tirar vantagens. Não há meias verdades. Para participar do Reino é preciso ser inteiro e sincero de coração.

g) O óbolo da viúva (Mc 12, 41-44)

O capítulo doze do Evangelho de Marcos termina com um belíssimo testemunho de fé. O texto está intimamente ligado ao anterior. Trata-se duma resposta de Jesus à hipocrisia dos doutores da Lei. A viúva do templo é o oposto de tudo aquilo que Jesus denunciou e condenou nos versículos anteriores. Os escribas viam na sua condição de doutores da Lei um grande status social. Eles viviam de aparência. Sua piedade não era de coração. Buscavam tirar vantagens e compensações em tudo que faziam. Apesar da sua pobreza, aquela viúva dá tudo o que possui. Ela reconhece sua pequenez e gratidão diante de Deus. É a generosidade do dom de si. A viúva do templo é exemplo a ser seguido por todo aquele que acolhe o dom do Reino de Deus.

Queridos peregrinos, o Capítulo 12 do Evangelho de Marcos nos oferece alguns elementos interessantes para refletirmos sobre a qualidade do nosso discipulado. Como estamos acolhendo a Boa Nova de Jesus? O projeto de Jesus é sempre uma novidade. Ele nos desafia em todo tempo e lugar. As exigências são as mesmas. É preciso abandonarmos as velhas certezas, superarmos os nossos interesses e depositarmos a nossa vida, o nosso agir e o nosso ser e nas mãos de Deus para que Ele nos conduza às verdades de salvação.