Civilização versos barbárie

Terça feira da décima quinta semana do tempo comum. O mês das férias escolares chegou. Quase não há feriados neste mês, mas é um dos mais aguardados, dado as tão esperadas férias estudantis. Neste dia 12 se comemora o Dia do Engenheiro Florestal, aquele profissional responsável em analisar os ecossistemas florestais, apontando planejamentos e estratégias para o uso equilibrado e de maneira sustentável dos recursos florestais. Em tempos de destruição e agressão violenta ao meio ambiente, este profissional é de fundamental importância, no intuito de nos ajudar a pensar a nossa “Casa Comum” como espaço do “Bem Viver” para todos.

Por falar em Engenheiro Florestal, o fogo voltou a predominar aqui pelas bandas do Portal da Amazônia. A “cultura do fogo” é algo que sempre me assustou por aqui. Fogo visto como sinônimo de limpeza. Queima-se tudo, inclusive a riqueza natural do húmus que a natureza sabiamente produz. A fumaça toma conta do ar, dificultando a nossa respiração. A cada ano, menos espaços verdes permanecem. As queimadas criminosas predominam tristemente por aqui. Dizer sim à vida é também dizer não as queimadas! Como nos diria o cientista e pensador Herbert Alexandre Galdino “A natureza é fonte inesgotável de saber e vida. Quem a destrói comete o genocídio dos pensamentos e ensinamentos que foram dados por ela.”

A palavra destruição é conjugada em todos os tempos verbais na linguagem dos insensatos. Vivemos num verdadeiro clima de barbárie. Civilização versos barbárie. Enquanto a civilização é caracterizada pela ordem social pré-estabelecida, regulada por leis, normas morais e éticas, possibilitando o convívio entre os indivíduos, a barbárie é o símbolo do caos e da desordem, tornando as pessoas cruéis, estúpidas e violentas. No clima de barbárie as pessoas são movidas pelo sentimento mais grotesco que o ser humano pode experimentar em si: bestialidade, grosseria, ignorância, estupidez, rudeza, crueldade, atrocidade e incivilidade. Tinha razão William Shakespeare quando dizia que: “O mal que os homens praticam sobrevive a eles; o bem quase sempre é sepultado com eles”.

Como filhos e filhas de Deus, somos da civilização do amor. Amor que fez o Pai pensar no Filho, vindo mostrar o caminho que nos conduz à plenitude. Amor que permeia todas as relações entre Pai, Filho e Espírito Santo. Amorosidade de um Deus que gratuitamente toma a iniciativa de nos amar assim como somos. Se tem algo intrínseco na mensagem de Jesus, é a revelação do rosto pleno de amorosidade e compaixão de Deus para com os seus: “Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16) Deus que manifesta todo o seu amor através de Jesus, para salvar e dar a vida a todos. O Deus da vida não é partidário da barbárie, mas do amor incondicional. Entre a civilização e a barbárie, o amor sempre vencerá.

Quem é do amor assume em si a necessidade premente de conversão permanentemente para assumir com Jesus na caminhada do amor. Conversão como mudança de vida, de atitude, como forma ser, agir e pensar o mundo. Conversão que não passa somente pela retórica das palavras, mas assume a essência do ser como um todo. A conversão aqui vista como principal característica, a possibilidade de transformação radical de vida da pessoa, refletida na mudança de atitude, comportamentos, sentimentos de harmonia com a vida e uma nova forma de ver o mundo. Conversão que talvez nos faça arder em chamas de amor como nestas palavras ditas por Santo Agostinho: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro e eu fora. Estavas comigo e não eu contigo. Exalaste perfume e respirei. Agora anelo por ti. Provei-te, e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi por tua paz.” Amor pleno de humanidade.

Conversão como necessidade urgente, provocada pelas palavras de Jesus, através do texto da liturgia de hoje: “Jesus começou a censurar as cidades onde fora realizada a maior parte de seus milagres, porque não se tinham convertido”. (Mt 11,20) Mesmo diante de tantos sinais realizados por Jesus, as pessoas ainda não haviam caído na real de verem n’Ele o Messias anunciado. O orgulho, a prepotência e a auto-suficiência falando mais alto na vida daquelas pessoas. São capazes de enaltecerem o “mito” dos falsos “messias”, mas não são capazes de enxergarem Deus agindo nas pessoas mais vulneráveis que sofrem. Neste sentido, Jesus antecipa o julgamento de Deus que será com severidade para com aqueles que se deixaram levar pela barbárie da perdição. Os que não acreditam n’Ele e não vivem o amor permanecem fechados em seus próprios interesses e egoísmo, gerando opressão e exploração, escondendo suas verdadeiras intenções e não se aproximam da luz. Como dizia o personagem Coringa do filme de Batman: “Quem tem luz própria, sempre incomoda quem vive na escuridão”. Sim a civilidade do amor! Não a barbárie!


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.