Como devemos entender o sentimento de culpa

 A culpa nasce na pessoa como uma reação da consciência quando algum erro é cometido. O erro pode ser intencional ou não intencional. Reza o salmo 38: “Minhas faltas ultrapassam-me a cabeça, como fardo pesado elas pesam sobre mim” (Sl 38,5). A noção de culpa, como consciência ferida, a partir de uma transgressão a lei de Deus perpassa a Bíblia e toda tradição religiosa do Ocidente. Contudo, a partir da modernidade, devido a Freud e outros pesquisadores da psicologia o sentimento de culpa passou a ser julgado como não saudável.

O psicólogo italiano Amadeo Cencini classifica duas categorias de culpas: construtivas e destrutivas. Seu estudo ajuda-nos a entender melhor que a culpa pode ser um problema, como também poder ser normal no processo de amadurecimento da pessoa. Vejamos:

 

Culpa Construtiva – Favorece o crescimento da pessoa

Culpa Reflexiva: é o sentimento da autocrítica que nasce da consciência. Trata-se de um sentimento racional, que nasce de uma maturidade cognitiva e moral, que avalia os apelos feitos e as possibilidades de crescimento em jogo na vida. Essa culpa é positiva, pois leva o homem a refletir sobre a seriedade da vida e sobre as opções cotidianas, que movem o ser humano para realização dos seus ideais. A partir da reflexão diante das possibilidades, às vezes perdidas, o processo de maturidade avança.

Culpa Existencial: no seu crescimento o ser humano se depara com situações cruciais na sua vida, as quais exigem escolhas profundas. A vida exige muitas decisões, as quais se movem em dois pólos: de um lado o risco; do outro lado, o medo. Para o seu crescimento a pessoa se depara com o medo ao ariscar. Esses riscos em nome do crescimento geram tensões. Deste modo a culpa existencial surge toda vez que uma pessoa perde a oportunidade de avançar, permanecendo estacionada no seu lugar de conforto. Essa culpa favorece o crescimento, pois sugere, mesmo de modo negativo, que precisamos encarar a vida e fazer escolhas.

 

Culpa Destrutiva – Estaciona a pessoa paralisando seu crescimento

Culpa Psicológica: é aquela culpa que não nasce de uma reflexão sadia sobre uma situação negativa ou ideal não realizado. É um sentimento profundo de angústia e autopunição frente ao fracasso, um acontecimento indesejável ou alguma transgressão. Essa culpa não leva a pessoa a indagar sobre a situação desagradável ou o ideal perdido, mas sim a conduz a tristeza por não cumprir a expectativa dos outros ou por não ser reconhecida como uma pessoa boa. Tal situação pode levá-la a humilhação, ao desprezo de si, de modo que pode até imaginar-se como inútil, permanecendo, assim, estagnada no seu estado de humilhação, sem dar passos.

Culpa inconsciente: nasce de impulsos inconscientes reprimidos, por serem considerados ilegítimos, mas que voltam à consciência. Trata-se de uma luta contra aquilo que supostamente tenta apagar ou negar. O retorno de tais impulsos irrita a pessoa por não os aceitar. Com isso o indivíduo passa por um processo de censuras humilhantes: se submete a punições, torturas e privações, por situações que não merecem tais exageros injustificáveis. A situação de não aceitação pode levar a pessoa a desenvolver um sentimento de raiva de si mesma.

 

Para aprofundar leia:

Cencini, Amadeo. Viver Reconciliados: aspectos psicológicos. Tradução de Euclides Carneiro da Silva. 7ª ed., São Paulo: Paulinas