Desde a Vigília Pascal inicia-se o tempo pascal que se estende até o domingo de Pentecostes. É um tempo de festa e de alegria. “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl118/117,24). Somos orientados a celebrar “os cinqüenta dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes como se fossem um só dia de festa ou um grande domingo”.
Neste ano de 2020, o ciclo litúrgico da Páscoa terá um “colorido” diferenciado em nossas comunidades, pois estamos todos “retirados” do convívio social para evitarmos a propagação da Pandemia da COVID-19. Mas nem por isso, deixemos de viver a fraternidade e a alegria da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Rezando o retiro quaresmal, percebemos que não se contempla a ressurreição do Senhor pensando em si mesmo ou em seu proveito próprio. Alegramo-nos por causa da alegria do Cristo ressuscitado. É por causa da alegria d’Ele que somos felizes! Sua alegria é a nossa (retiro quaresmal 2020, p.118). E esta alegria se concretiza quando abrimos o nosso coração para ver, sentir compaixão e cuidar dos irmãos e irmãs, sobretudo os que mais sofrem.
É pela fé que celebramos a Ressurreição como um acontecimento do presente, de hoje, como uma vida nova, em comunhão com a humanidade inteira, com toda a criação restaurada pelo Espírito do Ressuscitado. O centro de nossa oração é Jesus Ressuscitado, que se manifesta através de diversos sinais: o túmulo vazio, e os lençóis e sudário abandonados; sua voz e figura de sempre, com as chagas, marcas da paixão. O Senhor ressuscitado se revela também no Companheiro de caminho que escuta o desabafo dos discípulos desolados, explica-lhes as Escrituras abrasando seus corações e se deixa reconhecer no partir do pão e na volta à comunidade (Itinerário de Emaús).
A fé pascal, iniciada para os discípulos no encontro com o Ressuscitado, é a fé que cada cristão deve continuamente amadurecer na vida. Ela exige, antes de mais nada, todo o reconhecimento de que Aquele que é o Vivente continua a ser para sempre o crucificado e que a sua história de sofrimento não foi anulada com a ressurreição, mas que foi completada e torna definitiva por ela. Esse reconhecimento ajuda-nos a lançar um olhar completamente novo sobre a realidade e opera em nós uma profunda conversão do coração.A oração pessoal diária, neste tempo pascal, por meio da Palavra de Deus, nos leva a aprofundar a fé no Ressuscitado, presente em nossa vida cotidiana e nos enche o coração de paz e alegria pela vitória de Cristo sobre a morte e todo o mal, impelindo-nos a promover a paz e a solidariedade.
Diante de todas as dificuldades do tempo presente, somos convidados a responder aos dons de Deus através das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade (=amor). Em primeiro lugar está colocada a esperança, fundamentada na Ressurreição de Jesus (“renascidos para uma esperança viva” – 1Pd 1,3); a fé, de outra maneira, faz aderir firmemente a Deus, porquanto a Sua mão poderosa guarda quem lhe pertence e faz superar também as provações, em vista da salvação eterna; o amor, finalmente, torna-nos capazes de olhar para além das aparências para mantermos o coração ancorado àquele Jesus que os olhos não veem. Com esta proposta, já nos preparamos para a meditação da liturgia do segundo domingo da Páscoa, o chamado domingo da Divina Misericórdia.
Outro dia uma pessoa dizia que neste tempo de pandemia, deveríamos fazer um verdadeiro retiro espiritual em nossas casas, juntamente com nossas famílias. Também quero convidar-lhes para fazer esta experiência.Como o nome diz, “retiro” quer dizer retirar-se, deixar um pouco as atividades de cada dia para ter um encontro pessoal com Deus na oração. O convite é “retirar-se” como Jesus, que muitas vezes, subiu ao monte, para estar a sós com o Pai. Uma vez tomada a decisão, você se compromete:
1) a reservar diariamente um tempo de pelos menos 20 ou 30 minutos para sua oração pessoal e,
2) a dar alguns minutos para uma parada de “atenção amorosa” sobre o dia que passou;
3) e partilhar, se possível, semanalmente, a oração com os membros de sua família e os amigos de suas redes sociais.
Tenhamos segurança e confiança de que com a humanidade ressuscitada de Jesus, entramos nas profundezas do Mistério de Deus.