Comunhão e participação

Quarta feira da Quinta Semana da Quaresma. O tempo é quaresmal e estamos batendo às portas de mais uma Semana Santa. “Eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação!” Assim cantamos na liturgia específica deste tempo litúrgico. Converter é fazer escolhas fundamentadas nos valores que nos vem da Palavra de Deus. Como toda escolha pressupõe consequências, nos colocamos entre o viver na plenitude e a vida pela metade. Como já nos alertara o Livro do Deuteronômio: “Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente”. (Dt 30,19)

Quem faz a opção pela adesão à Jesus sabe que não ficará isento de desafios e dificuldades, mas diante destes, terá a força necessária para seguir adiante confiante. Engana a si e aos outros, quem acha que estando trilhando as mesmas pegadas de Jesus, terá uma vida fácil. Como Ele mesmo nos advertiu: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” (Mt 16,24) A cruz de cada dia simboliza os desafios que a missão de estar com Ele nos compete. É estar disposto a tornar-nos marginalizados por um tipo de sociedade fundada na injustiça e na desigualdade daqueles que não aceitam viver na verdade.

Converter para lutar contra a sociedade da contradição e da desigualdade. Estamos numa semana muito triste para aqueles que lidam com a educação em nosso país. Ontem (28), foi sepultada em São Paulo a professora Elisabete Tenreiro de 71 anos. Ela que morreu ao ser esfaqueada por um de seus alunos, dentro da sala de aula. Apesar de já ser aposentada, lecionava segunda a filha, como “propósito de vida”, porque acreditava na educação. No “mês das mulheres”, uma delas perde a vida numa condição deprimente: mulher, educadora, idosa. Alguma coisa está errada. Educação se aprende na família. A escola é apenas um espaço de produção do pensamento, de escolarização e aperfeiçoamento daquilo que se aprende em casa.

Aprender com Jesus é a missão de todos aqueles e aquelas que desejam com Ele caminhar. Nesta quarta feira mais uma vez o vemos no confronto com os judeus, apegados a sua tradição devocionista fundamentalista. A grande temática em volta do texto é a de permanecer ou não com Ele. Bem que Jesus ainda tenta convencê-los a fazer a adesão livremente: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos”. (Jo 8, 31) Porém, o apego à tradição judaica os tornou cegos acerca do messianismo de Jesus e não se abriram à perspectiva da libertação que Jesus veio trazer como mensageiro direto do Pai. A intenção dos judaizantes é matar Jesus a todo custo.

“Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, espalha”. (Mt 12,30) Foi assim no tempo de Jesus e está sendo assim entre nós, passados mais de dois mil anos. Que o diga o nosso Papa Francisco, sendo massacrado, principalmente por aqueles que dizem “comungar da mesma fé”. Ao propor uma Igreja em Saída dentro de um contexto de sinodalidade, o Papa deseja que a Igreja “escute” o que o Espírito Santo aponta através das pessoas e aprenda a “caminhar junto” (sinodalidade) com a humanidade, atenta às alegrias e aos sofrimentos do tempo presente e marcando presença amorosa nestas realidades. Assim como lá, os “judeus” de cá querem também crucificar o Pontífice, dizendo que “o Papa do fim do mundo” depõe contra o Evangelho que Jesus veio ensinar.

Ser Igreja é ser comunhão e participação. Comunhão com Jesus e com o Papa Francisco. Ou fazemos isto ou passamos para o outro lado e nos aliamos ao “diabo”, na verdadeira acepção originária desta palavra. Lembrando tal palavra nos chegou pelo latim “diabolus”, e também do grego clássico “diábolos”, expressando “separação”, “divisão”. Literalmente, a palavra “diabo” quer dizer “aquele que desune”, que inspira “ódio” ou “inveja”. Assim, fazer a adesão a Jesus é fazer adesão a verdade que Ele representa. A verdade que liberta é aceitar a vida nova trazida por Ele, que relativiza tudo aquilo que antes parecia absoluto: riqueza, poder, ideias, estruturas. Desta forma, só é possível viver a liberdade quando se rompe com toda ordem injusta, que impede a experiência mais profunda do amor de Deus através do amor as pessoas. Ser do “diabo” ou ser com Jesus, a escolha é de cada um.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.