Quarta feira da Sétima Semana do Tempo Pascal. A semana vai se delineando nos levando à grande Festa. Pentecostes já desponta no nosso horizonte visual, apontando para o grande dia. Ter em nós a força do Espírito Santo de Deus é o grande achado de Deus para darmos continuidade às ações de Jesus. Não estamos sós e nem fomos abandoados. Ao partir para a casa do Pai, Jesus continua atuante e presente em nossas vidas. Como o Catecismo da Igreja Católica mesmo diz: “O termo ‘Espírito’ traduz o termo hebraico ‘Ruah’ que, na sua primeira acepção, significa sopro, ar, vento. Jesus utiliza precisamente a imagem sensível do vento, para sugerir a Nicodemos a novidade transcendente d’Aquele que é pessoalmente o Sopro de Deus, o Espírito divino.”
Estamos vivendo uma semana muito importante, não somente pelo aguardo de Pentecostes, mas porque estamos celebrando a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC). Dos dias 22 a 28, estaremos rezando por esta unidade, como deseja Jesus: “para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. E para que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo acredite que tu me enviaste”. (Jo 17,21) Na unidade e na amorosidade, somos o sacramento ou expressão da presença atuante de Jesus em nossas vidas.
O tema escolhido para este ano é uma citação do profeta Isaías: “Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça.” (Is 1,17) Fazer o bem dentro de uma proposta de unidade. Unidade na diversidade. Se no tempo do profeta, que teve a sua atuação entre os anos de 765 a.C. e 681 a.C., durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, este combatia veementemente a hipocrisia de uma sociedade que se contenta com exterioridades cultuais, sem consequência para a vida prática, o desafio posto para nós na unidade cristã é caminhar juntos, numa mesma direção. Unir para juntos caminhar. Unidade, comunhão e participação.
Somos filhos e filhas do mesmo e único Deus. O Deus que nos criou nos fez irmãos e irmãs, formando a grande família de Deus. A diversidade dos credos e concepções religiosas nos engrandece na medida em que caminhamos todos juntos, sabendo respeitar o outro com o seu jeito de ser e viver a sua fé. Nosso grande patrono da educação o pedagogo Paulo Freire transportou este pensamento para a educação quando afirma: “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. Assim, não há uma denominação religiosa que seja superior as demais, mas é o jeito diferente de se viver a mesma fé. Para que assim possamos ser, precisamos incorporar aquilo que foi dito por Santa Teresinha do Menino Jesus: “É preciso que o Espírito Santo seja a vida do teu coração”.
Um dos grandes males deste nosso Século XXI é a prática contumaz do racismo e da intolerância religiosa. Como o próprio nome já diz esta prática esta presente no ato de discriminar ou ofender religiões, cultos e liturgias ou também discriminar, ofender e agredir pessoas por conta das suas crenças e práticas religiosas. As religiões de Matrizes Africanas estão aí para nos dizer o quanto sofrem aqueles que vivem e cultuam seus ancestrais nos terreiros espalhados Brasil afora. Nosso Papa Francisco assertivamente nos disse: “A Liberdade de expressão não dá direito de insultar, desrespeitar a fé do próximo”.
No dia de hoje a liturgia nos convoca a fazer uma adesão firme e coerente ao projeto de Deus revelado por e em Jesus. Seguimos na leitura orante do “Discurso de Despedida de Jesus”. (Jo 17,11b-19) O ser orante do Mestre Galileu se dirigindo ao Pai, numa relação de sintonia, proximidade e intimidade. Num dado momento, Ele assim se manifesta: “Consagra-os na verdade; a tua palavra é verdade. Como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo. Eu me consagro por eles, a fim de que eles também sejam consagrados na verdade”. (Jo 17, 17-19) Jesus que nos consagra na verdade. E quer manter em sintonia de sua presença em nós.
A presença física de Jesus já não se faz presente entre nós, a não ser na pessoa daqueles que sofrem, são marginalizados e excluídos. (Mt 25,40) Todavia, sua presença está em nós pela ação do Espírito Santo. Somos assim, os continuadores da missão d’Ele. Como Ele, somos impelidos a romper com a mentalidade perversa do sistema que organiza a sociedade (mundo). Aqui não se trata de alienarmo-nos do mundo, sair do “mundo”, e sim permanecermos unidos, presentes no meio da sociedade, dando testemunho corajoso de Jesus. Para esta missão, Ele nos garante que o Pai nos protegerá de nos contaminarmos com o espírito do “mundo”, não cedendo às suas ameaças e seduções.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.