Coração de Jesus

Sexta feira da décima semana do tempo comum. Celebração do Sagrado Coração de Jesus. Devoção que está presente na igreja, quando temos a oportunidade de olhar para o coração misericordioso de Jesus e fazer o nosso coração semelhante ao seu. O coração d’Ele que pulsa no compasso dos pobres. Contemplar este seu coração, é auscultá-lo batendo no peito dos pobres de Javé. Meu coração que bate apressado nesta ante sala do cardiologista, a espera de ser atendido, enquanto vou rabiscando aqui esta minha escrita.

Algo certamente muito difícil para os nossos dias de hoje, para os seguidores e seguidoras de Jesus, neste clima de morte insana genocida que estamos vivenciando. Desafio que nos é colocado, como forma de levar adiante o Projeto de Deus revelado por Jesus, tendo a vida como foco principal. Não de qualquer vida, mas de uma vida que se dá na integralidade e plenitude (Jô 10,10).

Uma sexta feira que também coloca o coração dos povos Indígenas suspirando de palpitação. É que no dia de hoje (11), o Supremo Tribunal Federal (STF) dará início ao julgamento que definirá o futuro das demarcações das terras indígenas no Brasil. A propalada tese do “marco temporal”, que servirá de balizamento para os demais territórios dos povos originários, já assegurados pela Constituição Federal de 1988. Retrocesso a vista, uma vez que os ruralistas do agroveneno, estão de olhos escancarados sobre estes territórios.

Os grandes e poderosos grupos econômicos, mais interessados no que há embaixo destas destas terras e não com as populações inteiras de etnias que habitam estes territórios sagrados há centenas de milhares de anos. A força do agronegócio genocida, etnocida e ecocida. Tudo em nome da ganância, dos lucros fartos, em detrimento da destruição ambiental. Tem razão o Papa Francisco quando nos traz em sua Exortação Apostólica Querida Amazônia o codinome “Pecado Ecológico.

O STF, sem dúvida, terá uma missão para lá importante nesta decisão a ser tomada. Quiçá, os nobres senhores e senhoras que compõem aquela Suprema Corte, tenham ao menos a dignidade de fazer valer a escrita de nossa Carta Magna, com todas as letras. Nossa Constituição Cidadã, como nos assegurava o saudoso Ulisses Guimarães.

De nossa parte, de corações sensíveis como o coração de Jesus, não embarquemos na canoa furada do senso comum, que propaga a informação inverídica, de que “índio tem muita terra”. Se somarmos todas as terras demarcadas e homologadas, não se chega a 13% de toda a extensão do território nacional. Para quem já foi dono de tudo. Mas isto não conta para os partidários do agroveneno e sua força mortal destruidora.

Coração de Jesus cheio de misericórdia e compromisso inadiável com os sofredores da história. Coração que ainda bate forte em um de seus filhos, o teólogo peruano, o dominicano Gustavo Gutierrez, que, nestes dias, completou 93 anos de vida ativa, na procura do Reino. Considerado o pai da Teologia da Libertação, que move os nossos corações em luta por todas as formas de libertação, neste castigado continente. Teologia esta que reflete a caminhada de um povo em marcha rumo à libertação.

Pedro e Gutierrez eram amigos/irmãos de longa data. Se falavam sempre. Tiveram várias produções escritas em conjunto. Pedro nutria pelo amigo uma admiração especial. A contribuição de ambos para a reflexão teológica por estes rincões, moveram as nossas ações, nossas lutas na caminhada de uma igreja pé no chão, em caminhada, profética e martirial, cuja mística fez renascer a esperança nos corações abrasados de muitos seguidores da testemunha fiel, como gostava de dizer nosso bispo. Coração de Jesus que bate acelerado na Teologia da Libertação. “Ou é Teologia da Libertação ou então não é teologia de Jesus de Nazaré”. (Pedro Casaldáliga)