Seguimos com a nossa vidinha de quarentena. Fui questionado e acabei cedendo à razão. Não devemos falar em ISOLAMENTO SOCIAL, mas DISTANCIAMENTO SOCIAL. Qual a diferença? Há uma diferença fundamental, pois estamos vivendo um momento de distanciamento social, que não podemos nos isolar das pessoas. Mesmo tendo esta necessidade de distanciamento, jamais podemos nos isolar das pessoas, sobretudo daquelas que estão em situação mais difíceis que a nossa. Portanto o termo correto, para nós, que acreditamos num DEUS QUE É VIDA, correto é DISTANCIAMENTO.
Distanciamento que não nos impede de olhar para a realidade que nos cerca e às vezes, fazer como a avestruz, que enfia a sua cabeça na terra, para não se envolver com o que o que está a sua volta. Ainda mais no dia de hoje, que celebramos uma das festas importantes do calendário da Igreja Católica, a Festa de CORPUS CHRISTI.
Corpus Christi é uma expressão que se originou do latim e, numa tradução livre significa “Corpo de Cristo”. Alguns do passado chamavam de “Corpo de Deus”. Trata-se de uma celebração litúrgica, que ocorre na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade que, por sua vez, acontece no domingo seguinte ao domingo de Pentecostes. Assim, o nome escolhido para essa celebração, supõe uma referência direta à eucaristia. Esse sacramento que é realizado para relembrar a todos a memória da PAIXÃO, MORTE e RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO. Na celebração deste sacramento FUNDANTE, o PÃO e o VINHO se transformam em CORPO e SANGUE de CRISTO, que diz: “Fazei isto em memória de mim.” (Lc 22, 19)
A celebração a qual nos referimos CORPUS CHRISTI ocorre, exatamente 60 dias após a PÁSCOA DO RESSUSCITADO. Tem todo um significado especial, pois é a oportunidade de se fazer a memória da ÚLTIMA CEIA DE JESUS com os seus discípulos. Celebrar a EUCARISTIA hoje é fazer este COMPROMISSO com a memória DELE, que deu a sua vida por nós. Portanto é um SACRAMENTO que nos remete diretamente a PESSOA DE JESUS que se dá como ALIMENTO, e pede que façamos também nós, da nossa vida, uma DÁDIVA ao OUTRO, que caminha comigo ao meu lado. Nós cantávamos efusivamente num dos refrões desta canção nas CEBs e ela traduz muito bem este compromisso com Jesus na Eucaristia: “RECEBER A COMUNHÃO COM ESSE POVO SOFRIDO, É FAZER A ALIANÇA COM A CAUSA DO OPRIMIDO.”
Não podemos perder este horizonte ao qual a eucaristia nos remete. Não se trata de uma celebração qualquer, mas a celebração. A memória de Jesus que quer estar ali, na caminhada daqueles que se dispõem caminhar com os irmãos de fé e de luta. Comprometer-se com o PÃO/JESUS que é servido, é comprometer-se com o PÃO que tem que ser PARA TODOS. O vinho servido é o SANGUE DELE, que continua jorrando em tantos corpos de irmãos nossos, sendo MALTRATADOS, MUTILADOS, EXPLORADOS, pela ganância de alguns poucos, que talvez até, se junta à mesa para comungar a sua própria condenação: “Por esse motivo, quem comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor.”
(1 Cor 11, 27) Como celebrar a eucaristia, que é alimento, num país em que as pessoas passam fome? Que compromisso eu tenho com esta realidade?
Se tivermos consciência clara, do verdadeiro significado de celebrar esta memória que é proposta na eucaristia, alguns até pensariam duas vezes para aproximar deste compromisso tão sério. Alguns até fazem dela um acontecimento folclórico, festivo de alegria exagerada, como se estivessem nas nuvens, sem ir ao âmago do significado real de se celebrar hoje a memória do RESSUSCITADO. É um compromisso que nos coloca com os pés fincados no chão, frente a frente com a realidade, de quem está do meu lado e comunga comigo na mesma MESA DA PARTILHA. A mesma canção que me referi acima dizia em uma de suas estrofes: “Celebrar a Eucaristia é também ser torturado é ser perseguido e preso, é ser marginalizado. Ser entregue aos tribunais numa cruz pra ser pregado.” Estamos realmente dispostos a este martírio? Pensemos!
Espiritualidade e Cultura