Creio na justiça e na esperança

Iniciamos mais uma quinta-feira (17) do ano da Graça do Senhor. Estamos cientes de que fomos resgatados e assumidos pelo Senhor. Aceitamos seguir a Jesus como nosso Messias e reconhecemos a necessidade de um Salvador. Pela ação de graças, nos tornamos um com ELE e d’ELE fazemos parte, como propriedade exclusiva de Deus, porque ELE primeiro nos escolheu. “Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo para que sejamos santos e sem defeito diante dele, no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, conforme a benevolência de sua vontade”. (Ef 1, 4-5).

Retomei hoje a leitura de um dos livros de Pedro. “Creio na Justiça e na Esperança”. Cuja publicação de sua 2ª edição fora feita pela Editora Civilização Brasileira, no ano de 1979. Adquiri este livro quando ainda cursava a Teologia. Livro que abriu muitas perspectivas em minha vida. Talvez uma das obras mais atuais para o contexto que ora estamos vivendo. Nunca desejamos tanto a justiça entremeada pela esperança como hoje. Não a justiça rota dos tribunais vis e desprovidos de vida. A justiça comprada a peso de ouro, cuja vida dos obres não passam por ela. Estamos falando da Nova Justiça do Reino de Deus, da qual nos anunciou Jesus.

Num dos dados momentos desta sua publicação, Pedro assim se expressa: “O tempo, quando não é uma capacidade concreta de fazer, é uma capacidade perigosa de lembrar, temer e desejar. Usar o tempo dignamente, às vezes, é uma difícil virtude. Os valentes são aqueles que superam o medo; os crentes são aqueles que superaram, na Esperança, a dúvida, o terror, a amargura que os invade aqui nesta terra de peregrinação. O antídoto da angústia é a escolha, dizem os manuais. Mas a escolha nunca tem fim: vai-se fazendo hora a hora, minuto a minuto. É a fidelidade, o que nossos velhos chamavam de perfeição, o “sim, Pai”, de Jesus. A oração é o respiro da Esperança”.

Justiça, esperança e fidelidade, fazem parte do tripé da vida cristã. O cristão, a cristã que não anseia e luta pela justiça é uma mera personagem desfigurada e descompromissada com as causas de Jesus e com a vida do irmão que consigo vive. Somos diuturnamente desafiados a fazer da nossa vida um projeto, cujo tripé esteja presente nas nossas ações cotidianas. Isto porque, vivemos numa sociedade em que a vida dos mais pobres está permanentemente ameaçada. E o que mais nos deixa indignados é de saber que boa parte das injustiças cometidas contra os pequenos, vem de pessoas que se dizem cristãs.

Justiça! Gritamos todos nós, que não suportamos mais! Como a notícia veiculada pela Folha de São Pulo desta última segunda-feira (14), dando-nos conta de que, nos últimos 3 anos, policiais mataram ao menos 2.215 crianças e adolescentes. Deste total, 69% delas eram negras. Temos uma polícia que mata em nome da “lei”. Pessoas que são pagas por nós, através dos nossos impostos, para garantir a nossa segurança e que se voltam contra os pobres e os matam na calada da noite. Que justiça é esta que tira a vida dos pobres, sem que os tribunais nada façam para os impedir?

A cada dia que passa somos surpreendidos pela falta de justiça entre nós. E quem acaba pagando esta conta, são os mais pobres. Como no caso daquele garoto de 12 anos, que furtou um pacote de bolacha numa rede de supermercados. Surpreendido ao passar pelo caixa, fora levado a uma sala reservada e ali apanhou dos seguranças. Na saída, perguntado por que havia feito o tal “delito”, disse que estava com fome e não comia há três dias. Diante deste contexto, impossível não pensar em Dom Hélder que nos dizia: “A fome dos outros condena a civilização dos que não têm fome” Ainda bem que uma pessoa mais sensata entre os presentes que condenavam aquela criança, adquiriu uma cesta básica e a deu para levar para sua casa.

“O Brasil tem fome de ética e passa fome em consequência da falta de ética na política”. Esta foi uma das frases ditas por Herbert José de Sousa (1935-1997), mais conhecido como Betinho. Um dos grandes sociólogos e ativista dos direitos humanos brasileiro. Crer na justiça e na esperança é, antes de tudo, estar pronto e preparado para enfrentar situações como estas. O contrário disso é omitir-se. Lembrando que o pecado da omissão é como se fosse uma fuga ou cegueira hipócrita que se configura como um dos piores caminhos a ser trilhado. No trabalho, em casa ou em qualquer lugar que esteja a pessoa não deve omitir-se quando é testemunha de algo que fere a honra, dignidade ou direitos de seus semelhantes.