Dai-lhes vós mesmos de comer

Mt 14, 13-21

Caríssimos

Depois da morte de João Batista, Jesus deve ter ficado triste, tanto que quis afastar-se, certamente para rezar e dizer suas mágoas ao Pai. Mas uma grande multidão alcançou Jesus o outro lado do lago, fazendo uma boa caminhada a pé.

É ai que aconteceu o famoso milagre dos pães e dos peixes.

É admirável a fé do povo, que para escutar o Mestre, esqueceu a dureza do caminho e nem pensa como providenciar o alimento indispensável.

Realizou-se então aquilo que o próprio Jesus afirma: Procurai o reino de Deus e a sua justiça e tudo ais vos será dado.

Mas, para que isso aconteça, precisa que alguém colabore.

“Dai-lhes vós mesmo de comer”. E os apóstolos: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. “Trazei-os aqui” diz Jesus.

Alguém se prontificou a repartir o seu lanche.  Jesus fez o resto. Foram milhares os que puderam ajudar a lanchar.

Quando se segue Jesus Cristo de verdade, a gente aprende a ser generoso e a repartir. Aí se descobre que Deus forneceu à terra a capacidade de produzir para todos.

Há países em que a fome está dizimando crianças e adultos.

Há desnutrição também no nosso Brasil, tão grande e tão fértil.

Diversos tipos de fome estão presentes em milhões de brasileiros, insuficiência de alimento. Falta de meios para cuidar da saúde. Precariedade de moradias. Dificuldade de comunicação, pela impraticabilidade das estradas. Vejo tudo isso na nossa diocese. Na periferia das cidades e em muitas comunidades do interior rural.

O que falta para reverter esta situação? Sem dúvida falta a autentica fé em Jesus Cristo e no seguimento do seu ensinamento. “Dai-lhes vós mesmos de comer” Jesus nos repete.

Hoje não encontramos somente um reduzido lanche de cinco pães e dois peixes. Encontramos safras recordes de grãos, fartura de rebanhos a fornecer leite e carne. Falta quem saiba distribuir tudo isso. Falta quem pratique o que Jesus ensinou.

O milagre que Jesus quer fazer hoje é o de que os cristãos, que se inserem na ação política, tenham a consciência de administrar os bens de modo que haja justa distribuição das riquezas. Um país só poderá dizer cristão, quando todos tiverem oportunidade de viver, de ter saúde, de ter escola, de ter moradia e formar sua família.

Deus quer que sejamos uma família, em que não falte o pão de cada dia.

No mês vocacional, dia do Padre, saibamos ler a profunda mensagem: “Ama teu próximo como a ti mesmo”.

Cartas Pastorais 
† Dom Giovanni Zerbini
Bispo Emérito da Diocese de Guarapuava