Dar testemunho

Estamos iniciando mais uma quarta-feira (25) do nosso calendário. Apesar da vacina das eleições, ter varrido a Covid-19 do mapa, os casos seguem acontecendo entre nós. Passado o período eleitoral, o Brasil passa a terrível marca das 170 mil vidas, alcançadas pelo vírus letal, atingindo a média móvel de 30 mil casos registrados por dia. Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, o país tem hoje 170.179 óbitos e 6.121.449 pessoas diagnosticadas pela Covid-19.

Muitas vidas que poderiam muito bem terem sido evitadas que nos deixassem, caso tivéssemos um outro tipo de enfrentamento da doença. Se antes, o inominável dizia que não morreriam nem 600 pessoas, por se tratar de uma “gripezinha”, agora está culpando o “isolamento social”, pela alta do custo dos alimentos, nas prateleiras dos supermercados. Numa clara demonstração, de que nada está sendo feito em termos econômicos, para conter a inflação que chegou de vez. Aliás, alguém precisa dizer ao iluminado, que assente na cadeira presidencial e trace estratégias de governo, se é que tal efeméride seja possível em si tratando deste ser.

Aqui, no Estado de Mato Grosso, segue o desmonte da educação pública, pelo atual governo, que é um aliado incondicional do governo central. Não satisfeito em retirar 14% dos vencimentos dos aposentados e pensionistas, em forma de alíquota de contribuição previdenciária, agora está atacando os Centros de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica – CEFAPRO. Numa atitude monocrática, sem consultar as bases, quer privatizar a formação continuada dos profissionais da educação, contratando empresas, que façam esta formação da educação. Isto sem falar nas dezenas de escolas que serão fechadas, em todo o estado.

Mas esta é a política adotada pelo neoliberalismo fascista. Conter gastos, sobretudo quando se trata das políticas públicas, promovendo um Estado Mínimo. Se a educação via mal, a tendência é que piore ainda mais, pois, não há interesse dos governantes, em promover uma educação de qualidade, para as camadas populares da população. Pobre não precisa ter educação de qualidade. A educação de qualidade tem que acontecer nas escolas que ofertam educação para a elite, que tem condições de pagar um alto custo por ela. Que falta faz nestas horas, os ideais de um Anísio Teixeira, de um Darcy Ribeiro e o nosso patrono da educação brasileira, Paulo Freire.

Nestas horas me vem a mente uma frase que resume muito bem o momento que ora estamos vivendo: “O nosso problema maior não são os políticos de direita, mas os pobres de direita que os elegem a cada eleição no país”. Pobres de direita votando nos ricos e nos seus projetos de governo. Pobres votando naqueles candidatos, que são contrários aos projetos que beneficiam os mais pobres e vulneráveis. Quantos professores, diretores de escolas, coordenadores pedagógicos por aí afora, não votaram nos candidatos da direita, por mais que tentássemos convencê-los do contrário? É o mesmo que colocar um cabrito para cuidar da sua horta, ou uma velha raposa para cuidar do seu galinheiro. Testemunha fiel ao lado da “Testemunha Fiel.”

Paulo Freire, com toda a sua visão de grande pedagogo que era, já nos dizia alto e bom tom: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.” Triste constatação, mas esta é a realidade da educação brasileira. Há professores e há professores. Há educadores e há educadores. Jamais consegui entender, como um educador, pode ter um pensamento de direita. Equívoco dos equívocos! Inadmissível que alguém, em sã consciência e que tanto lê, consiga se identificar com os projetos de direita. Será que estão fazendo a leitura correta? Pode ser que tais professores não estejam conseguindo fazer aquilo que Paulo Freire denominava “aprender a ler o mundo.”

Não basta ser coerente. É preciso ser e também parecer. Ser e parecer é adquirir a consciência de classe. Esta mesma Consciência de classe, que Marx e Engels, entendiam como a percepção do próprio papel do trabalhador no sistema produtivo, seja como produtor de riqueza, seja como proprietário dos meios de produção que geram a riqueza. Se bem que eles entendiam também que essa compreensão é construída ao longo do tempo histórico, por meio da já existente, luta de classes.

Trazendo este contexto para a realidade cristã, vamos perceber a grande lição que nos é dada por Jesus no evangelho de hoje. (Lc 21,12-19). Num dado momento da narrativa da comunidade Lucana, Jesus nos adverte que seremos desafiados a dar testemunho, através da nossa atuação, frente aos desafios conflitivos do mundo. Cristão algum está isento de ser este testemunho vivo da verdade. Principalmente sabendo que a relação entre Deus e as pessoas, continua através dos seus seguidores e seguidoras, que devem prosseguir a missão de Jesus por meio do testemunho vivo. Evidentemente que, assim como o próprio Jesus encontrou resistência, também nós seremos perseguidos, presos, torturados, julgados e até mesmo mortos por sermos continuadores da missão e ação de Jesus na nossa história hoje. O consolo é saber que não devemos ficar preocupados com a própria defesa. O mais importante é a perseverança e a coragem de permanecer firmes até o fim.