Segundo os cervejeiros de plantão, sextou mais uma vez! Um novo final de semana se aproxima. No dia de hoje, os trabalhadores, que ainda possuem o seu vínculo empregatício, vão para ele mais “alegres”, pois sabem que se aproxima os dias em que terão um merecido descanso. Isto porque, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de Getúlio Vargas, assim o assegurou aos trabalhadores deste país. A CLT surgiu pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943. Antes dela, não havia descanso semanal, férias, 13º salário, dentre outros direitos trabalhistas. Os que tinham trabalho antes dela, ainda tinham que levar a sua esposa e filhos, para dar conta de cumprir a produção imposta na sua jornada de trabalho.
Rezei nesta manhã, movido por dois sentimentos distintos. O primeiro deles advém da angustia de saber que o pajé Iny (Karajá), Pedro Idjeturá, de 90 anos de idade, da aldeia Fontoura, aqui da nossa vizinha Ilha do Bananal (TO), encontra-se desaparecido há mais de uma semana. Saiu para coletar raízes medicinais, e não mais voltou. Em outros tempos, a FUNAI, como legítima “representante e defensora” dos povos indígenas, seria mais ágil, elaborando um esquema de busca, até encontrar esta biblioteca viva de saberes ancestrais, tão importante para o povo Iny. Triste!
O segundo motivo, também relacionado ao povo Iny é a situação do adolescente, de apenas 12 anos de idade, que convive com uma doença rara. Esta é a idade que os jovens chamados “Jyeré”, que significa ariranha, recebem dos mais velhos, ensinamentos e conselhos, como parte do ritual de preparação para adentrar à vida adulta. A cerimônia será concluída na festa do Hetoroky “Casa Grande”. Este pequeno Jyeré, traz em si um desejo simples: gostaria de possuir uma chuteira, meião, calção e camisa do Flamengo, para jogar futebol na aldeia. Aqueles que quiserem nos ajudar a realizar o seu desejo, ele calça 36 e a vestimenta é a de uma criança de 12 anos.
Sigo daqui, cumprindo o meu protocolo de recuperação, segundo a prescrição médica. A vontade que dá, é a de sair por aí, visitando cada uma das aldeias. Além do protocolo referente ao irmão AVC, tenho que cumprir o distanciamento necessário, apesar de já ter sido imunizado com a segunda dose da AstraZeneca. Entretanto, tenho muito que agradecer a Deus, pois não herdei nenhuma sequela do acidente vascular, apesar da sua gravidade, segundo o neurologista. Deus tem sido extremamente generoso para comigo, mesmo não sendo eu merecedor de tamanha graça. Experimento em mim, uma das citações da Carta de Paulo aos Romanos: “Onde foi grande o pecado, foi bem maior a graça.” (Rom 5,20))
Deus é Pai e também Mãe! “É mais Mãe do que Pai” (Papa João Paulo I). Sei que esta benevolência vinda de Deus, é proveniente dos muitos amigos e amigas que coleciono nas esquinas de meu coração. Nos dias de maior dificuldade que passei, senti mais de perto esta força, advinda destas pessoas, que rezaram, enviaram energias positivas, palavras de ânimo e conforto. Até contribuição financeira, que estão me ajudando a custear os exames, consultas e medicamentos. Aliás nunca tomei tantos medicamentos em minha vida. Para quem não é alopata, sinto-me também intoxicado.
A pandemia tem nos possibilitado alguns ensinamentos. Uns aprendem, outros não. Ao contrário do que propalam alguns, não estamos no mesmo barco. Quando muito, no memo mar. Uns apaniguados, estão em barcos mais sofisticados. A maioria de nós, em pequenas embarcações à deriva. O andar de cima, pouco se importa com os demais, do andar de baixo. Uma elite mesquinha e nefasta, que insiste em reproduzir nos seus modos de pensar e viver, a herança funesta da “Casa Grande”. É a forma como também está se comportando uma classe dos nossos expertos políticos, que em nada nos representam. Na calada da noite, alguns deles, trataram de aumentar o valor do Fundo Especial de Financiamento de Campanha. Fundo este, que vai custear as campanhas eleitorais de 2022, passando de R$ 2 bilhões para R$ 5,3 bilhões. Ou seja, três vezes mais que o quantitativo anterior. Para estes “nobres” deputados, não estamos atravessando uma pandemia.
Só Jesus na causa, dirão alguns de nós. Precisamos passar este nosso país a limpo. Não dá mais para conviver com tamanha contradição. Somente através de nossa atuação cidadã participativa, seremos capazes de reverter este caos, para termos de volta o Brasil que todos sonhamos. Como “a esperança é uma atitude de rebeldia” (Pedro Casaldáliga), nosso esperançar, precisa ser de forma coletiva. Sonhar o sonho possível de outro Brasil. Unidos num mesmo caminhar, precisamos fazer parte da família de Jesus, que são aqueles e aquelas, cujo compromisso de fé, nos fazem realizar na própria vida a vontade de Deus, que consiste em dar continuidade a missão de Jesus. Vida plena e abundante, sobretudo para os mais vulneráveis.