Quarta feira da Décima Quinta Semana do Tempo Comum. Uma manhã bastante fria na capital dos paulistanos, fazendo tremer até a alma. Para quem é morador do Araguaia como eu, não ver a cor do sol, é como se o dia não amanhecesse. É como se o frio enrijecesse os corações desumanizados das pessoas que não conseguem enxergar a friagem que passa pelos corpos desnudos das pessoas que vivem pelas ruas.
O frio do outro não me diz respeito, este é o suprassumo da indiferença. O coração dos que assim pensam e agem, já morreram e não deram conta do estágio de cadáveres insepultos em que vivem. Andando pelas ruas desta cidade, nestes dias que aqui estou, percebi os olhares indiferentes de muitos, que não enxergam a realidade daqueles que passam frio, mas que têm o coração mais aquecidos do que estes.
Enquanto meu olhar capta esta realidade indiferente da cidade grande, distante daqui, um povo alegre e feliz, celebra e festeja um novo jeito de ser Igreja. O 15º Intereclesial das CEBs abre o segundo dia de convivência fraterna. O tema desta vez: CEBs: IGREJA EM SAÍDA, NA BUSCA DA VIDA PLENA PARA TODOS E TODAS e o lema: “Vejam! Eu vou criar um novo céu e uma nova terra” (Is. 65, 17…) Meu coração pula do peito e perambula nas asas da imaginação, se fazendo um com todos aqueles e aquelas que se fazem presentes em Rondonópolis.
Celebrar mais um encontro das CEBs, num contexto de reconstrução da esperança de um país que precisa ser para todos e todas. Sonhando o sonho acordado com o Papa Francisco, num contexto eclesial sob a inspiração das primeiras comunidades cristãs, com os olhos do discipulado de Jesus, na perspectiva da Igreja em saída, como profetas e profetizas do Reino no aqui e agora da história.
Sonhar com Jesus, que na liturgia de hoje se volta inteiramente para a realidade dos empobrecidos, com o olhar da perspectiva de Deus: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. 26Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. (Mt 11, 25-26)
Uma das poucas vezes em que vemos no relato dos evangelhos, Jesus em oração, sem se retirar para a montanha ou algum lugar distante do burburinho. A sintonia fina entre Filho e Pai, se fazendo em forma de oração de um coração aberto e sincero. Ou seja, com sua palavra e ação, Jesus revela-nos de que lado Deus está. Uma predileção de amor de um Deus que é partidário dos pequenos, dando-lhes a conhecer os mistérios do Reino.
A vontade de Deus Pai é instaurar o Reino. Entretanto, os “poderosos”, sábios e inteligentes não são capazes de perceber a presença do Reino e sua justiça através da presença e ação de Jesus. Ao contrário, os desfavorecidos e os pobres é que conseguem penetrar o sentido pleno dessa atividade de Jesus e dar continuidade à ela. Neste texto da liturgia de hoje tomamos conhecimento de que Jesus veio tirar a carga pesada que os sábios e inteligentes colocaram sobre o povo. No lugar desta sobrecarga, Ele traz um novo modo de viver na justiça, na amorosidade e na misericórdia. Assim, nesta sua perspectiva, os pobres, ao serem evangelizados, partirão para serem os nossos evangelizadores.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.