Quinta feira da Trigésima Quarta Semana do Tempo Comum. Enfim, chegamos ao final do penúltimo mês do ano. Novembro vai embora e nos apresenta dezembro, mês das festividades e da manipulação do Deus-Menino, transformado em adereço do consumismo capitalista. É desta forma que a sociedade do capital encara o Natal, vendo em cada um de nós, um ser de consumo. Muitos até se deixam seduzir pelo espírito do consumismo, proposto e incentivado pelos donos do capital. Criamos necessidades onde elas não existem, satisfazendo os nossos prazeres. “Consumismo e competitividade levam ao emagrecimento moral e intelectual da pessoa”. (Milton Santos)
Levantei nesta manhã e dei de cara com uma avalanche de papagaios e periquitos sorridentes em meu quintal. Como a minha mangueira está em franca produção, eles se fizeram convidados para desfrutar deste saboroso fruto. A árvore ficou tomada deles que, sem cerimônia acionavam os seus bicos afiados tagarelantes. Consegui até destacar uma espécie que, segundo os estudiosos, está em extinção. Menos mal, a natureza se renovando, apesar da nossa agressão sistemática a ela. Renovando a si e também a todos nós. Não é sem razão que o escritor e poeta italiano Dante Alighieri dizia: “A natureza é a arte de Deus”.
Como de arte eu entendo pouco, me entreguei em oração, agradecido a Deus pelo dom da vida, minha e de Dom Waldyr Calheiros (1923-2013). Nordestino da cidade de Murici, nas Alagoas, foi bispo emérito da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda, assumindo-a em 1966. Foi ordenado bispo em 1º de maio de 1964, nos inícios da Ditadura Militar aqui no Brasil. Com ação destemida e eficaz, desempenhou importante papel na redemocratização do Brasil durante os “anos de chumbo”. Dom Waldyr Calheiros se torna um marco importante de resistência, de apego aos valores democráticos e de defesa dos direitos humanos, tornando-se um aliado na defesa dos direitos da classe trabalhadora de Volta Redonda.
Dez anos se passaram da páscoa deste grande homem de Deus. Bispo dos bons, comprometido com as causas de Jesus, na defesa dos direitos humanos e da classe trabalhadora. Conheci Dom Waldyr, no meu terceiro ano do curso de teologia em São Paulo (1987), quando, a convite de Dom Paulo Evaristo Arns, veio falar para nós sobre a caminhada da Igreja da América Latina à luz de Puebla. Eu que já era seu admirador, fiquei fascinado diante daquele apóstolo de Jesus. Naquele dia, ele concluiu a sua fala conosco, nos chamando a atenção com a frase: “O capitalismo foi incapaz de criar uma proposta para uma sociedade mais justa, humana e fraterna”. Ser cristão e capitalista não combina.
Muitos e muitas seguidoras de Jesus foram até as últimas consequência na sua caminhada fiel às causas do Reino. Dom Waldyr foi um destes, como foram os primeiros chamados por Jesus, que no dia de hoje a liturgia nos apresenta. Jesus está chamando os seus discípulos e os transformando em apóstolos. O primeiro deles foi André, cuja festa celebramos hoje. Na tradição ortodoxa, era como “Protocletos”, ou seja, o primeiro a ser chamado. André foi chamado e em seguida Pedro, Tiago e João, quando estavam pescando ou limpando suas redes. André, cujo significado é “homem” ou “varão”, “viril” e “corajoso” é natural de Betsaida. Inicialmente foi discípulo de João Batista, até que este o mostrou Jesus, passando assim a ser seu seguidor.
“Jesus disse a eles: Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens. Eles imediatamente deixaram as redes e o seguiram”. (Mt 4, 19-20) Nesta pericope de hoje se destacam um adverbio de tempo e um verbo: imediatamente; seguir. O chamado de Jesus calou fundo neles, tanto que a reação foi imediata. Era comum os mestres e filósofos antigos terem os seus discípulos, mas Jesus prepara os seus, para serem apóstolos, como aquela pessoa que foi enviada e revestida de poder para realizar a missão. Assim, os chamados são enviados a darem continuidade à mesma missão d’Ele.
Propositalmente, Jesus inicia sua atividade messiânica pública na Galileia. Esta região estava bastante distante do centro econômico, político e religioso do seu país. Da periferia de Nazaré para as periferias existenciais e geográficas do submundo dos pobres, pagãos, doentes, estrangeiros, prostitutas, mulheres. O esperançar do sonho de Deus se inicia exatamente numa região da qual nada podia se esperar. O Projeto de Deus não passa pelos palácios suntuosos, pela religião do Templo, pelas coisas grandiosas. Todos somos chamados! Fazer parte deste grupo de Jesus é preciso uma mudança radical de vida (metanoia), para termos a mesma coragem e atitude de André: imediatamente seguir o Mestre. É pegar ou largar! “Não tenha medo! De hoje em diante você será pescador de homens”. (Lc 5,10) E aí, você se sente parte integrante deste grupo de Jesus?
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.