Diz o texto sagrado de hoje que o povo se comprimia em redor de Jesus para ouvir a Palavra de Deus, tal importância que lhe davam. Segundo os estudiosos, o evangelho de hoje é uma condensação de vários episódios.
Lucas quer mostrar que o lago de Genesaré é o “lugar teológico” onde Jesus desenvolve a sua atividade libertadora; ele não pretende descrever fatos brutos, e sim o que o mestre fez para criar o mundo novo. Ele está à beira do lago, apertado pela multidão que tem fome e sede da Palavra de Deus. Ele vê duas barcas paradas na margem do lago; os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. Mais adiante, Simão dirá que trabalharam a noite inteira, sem resultados. Esta é a situação do povo que Jesus encontra: um povo faminto da palavra libertadora; um povo que luta para sobreviver e nada mais tem a fazer senão lavar as redes, que estiveram vazias a noite inteira. O povo está precisando de palavra e ação novas, capazes de reverter a situação em que se encontra. Mais ainda: precisa de uma palavra que provoque a novidade portadora de vida para todos.
Jesus sobe à barca de Simão. Com esse gesto, assume a condição daqueles pescadores frustrados pelo insucesso da noite. Ele se afasta um pouco da margem não para se isolar das pessoas e das suas angústias, mas para vê-las de frente, para comunicar-lhes a palavra que irá trazer a novidade de vida.
Simão entendeu qual o sentido e o objetivo das palavras de Jesus. Longe de ser aquela pessoa impulsiva, como costuma ser descrito, ele põe fé na palavra daquele que dá ordens de avançar para águas profundas e lançar as redes de pesca. O resultado da confiança na palavra do Mestre reverte a situação (redes que se rasgam) e supera as expectativas: uma barca não é suficiente para conter os peixes apanhados pelas redes. A palavra do Mestre gera a abundância para todos.
É interessante salientar que, neste momento, Simão Pedro chama Jesus de “Senhor”, título atribuído ao Cristo Ressuscitado. A pesca é pois, um sinal precursor da grande vitória do Cristo sobre a morte. É dela que surge a abundância de vida para todos.
Será que Cristo se afasta da barca das pessoas, mesmo que elas tenham consciência de todas as suas limitações e pecados? Pelo contrário. A partir do momento que as pessoas acolheram a palavra libertadora, Jesus as associa ao seu ministério: “De hoje em diante você será pescador de homens” (v. 10). A adesão à palavra libertadora se traduz, agora, em seguimento e missão. O projeto de Jesus é libertar a todos, concedendo-lhes vida. E para realizar isso ele convoca todos os que deram atenção à sua palavra e o seguem deixando tudo.
Temos muita dificuldade para deixarmos “tudo” e nos colocarmos no seguimento a Jesus. Corremos muito e damos isso como desculpa de não termos cinco minutos para ler o Evangelho de cada dia e acolher no coração o que o Espírito nos sugere. Se realmente dermos a importância que aquele povo dava à Palavra de Deus, arranjaremos tempo sim. Depende de nós. Para aquilo que é for ou é prioridade para nós sempre encontraremos tempo. Inclusive para Deus!