Deus: amor e misericórdia

Domingo da Décima Semana do Tempo Comum. O Dia do Senhor sendo celebrado como se deve, cumprindo aquilo que fora dito por Jesus: Amar a Deus é amar também o próximo como a si mesmo. (Mt 22,37-39) O domingo é sempre um dia especial, pois nele temos a oportunidade de conviver mais de perto com a comunidade nas suas celebrações e também com a família, que é a base de sustentação de toda a nossa vida. Como diria São Justino: “Reunimo-nos todos no dia do sol, porque é o primeiro dia após o sábado dos judeus, mas também o primeiro dia em que Deus, extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, neste mesmo dia, Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos” (Apologia 1,67).

Dia do “irmão Sol”, como diria São Francisco de Assis. Nesta manhã resolvi encontrar-me com ele, saldando o novo dia. Ver o amanhecer as margens deste belo rio é qualquer coisa de fascinante. Do meio da Ilha do Bananal, ele renasce para mais um dia, tingindo de dourado as águas e as praias do Araguaia. Como o céu está límpido e sem a fumaça desta época, seus raios despontam cristalinos. De saber que os indígenas foram julgados como idólatras pelos colonizadores por adorarem o Sol. Justamente o sol que tem a humildade suficiente ao nos emprestar a sua luz para que possamos brilhar ao longo de cada dia.

Caminhar em direção a Deus é caminhar em direção à luz. O reflexo sol que não tem luz própria, mas reflete a luz de Deus, nos faz criaturas cheias de luz. Cada dia é um único dia que temos a chance de trilhar a estrada da nossa vida, rumo ao existir em Deus, construindo a nossa história. A oração nos aproxima desta realidade com Deus quando, movidos por um coração sincero, nos entregamos em seus braços e deixamos que Ele nos conduza, segundo à sua vontade. Falar e escutar o que Deus tem a nos dizer, em forma de dialogo orante, estabelece uma sintonia com o Criador segurando a mão de sua criatura. Rezar é muito mais do que repetir fórmulas que decoramos na mente e as repetimos mecanicamente.

Jesus rezava sempre com o coração ardendo em brasa. Ele é o nosso modelo de Ser Orante. Encontrava sempre momentos para estar a sós com Deus, muito embora isto não fosse necessário, uma vez que a sintonia entre Pai e Filho é permanente: “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30) Nós precisamos também encontrar momentos na nossa correria diária para estarmos sós com Deus em oração. Abrir o coração para acolher a Palavra e também escutar a voz de Deus falando nos acontecimentos da vida. Quem tem uma prática rotineira de oração se faz mais sensível para escutar a voz de Deus falando através de sua voz interior.

Estamos vivendo neste ano o ciclo da Liturgia do Ano A. Como é praxe acontecer, refletimos o evangelho de Mateus. Ficamos vários dias sem o acesso a este evangelista, porque passamos pelo ciclo da Páscoa. Neste domingo retomamos a leitura deste evangelho, onde Mateus nos traz a convocação (chamado) dos primeiros seguidores de Jesus: o chamado de Mateus. Ele que também é chamado de Levi, filho de Alfeu, conforme os Evangelhos de (Mc 2,14) (Lc 5, 27). Antes de ser chamado para seguir Jesus, Mateus era um coletor de impostos do povo hebreu, durante a dominação romana. Era um publicano, cobrador de impostos para os Romanos e, por este motivo não era bem visto, não somente porque trabalhava para os romanos, mas também porque, ao exercer tal função, roubava para si parte desta cobrança.

Jesus chama e Mateus responde com atitude decidida: “Ele se levantou e seguiu a Jesus”. (Mt 9,9) Chamado para seguir o Mestre. Seguir não é a mesma coisa que andar atrás de Jesus. É assumir na própria vida as mesmas atitudes de Jesus, que não veio para ser servido, mas para servir (Mc 10,45) Ao chamar Mateus, Jesus dá mostras de que Ele não exige “atestado de bons antecedentes” ou de “boa conduta” dos que são chamados. Pelo contrário, Ele não somente chama, mas se coloca junto deles e com eles, se misturando com pecadores, prostitutas, pagãos, cobradores de impostos. Sentando-se à mesa e comendo com eles, para desespero dos fariseus que ficaram preocupados e vão perguntar aos discípulos: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?” (Mt 9,11) Recorrendo a uma citação do Profeta Oséias, Jesus responde: “Quero misericórdia e não sacrifício”. (Mt 9,13) Jesus revelando o rosto materno de Deus que é amorosidade e misericórdia para com o pequenos. A missão de Jesus é reunir e salvar aqueles que a sociedade farisaica e hipócrita rejeita como maus.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.