Segunda feira da quarta semana do Advento. O Natal está bem ali à frente. Caminhamos firmes em direção ao encontro com o Menino-Deus. Vida nova sobre a face da terra. Deus se fazendo presente continuamente em nossa história, mostrando ser fiel às suas promessas. Deus é fiel sempre! Mesmo diante das nossas infidelidades, incredulidades, Ele está conosco, mostrando o horizonte de esperança que há na sua presença em nossas vidas. Isto não significa que não teremos problemas e desafios a serem superados, mas diante deles, temos a força transcendental de nosso Deus para vencê-los e continuar a nossa caminhada.
Os mistérios de Deus são insondáveis e fogem a nossa capacidade intelectiva humana de por eles trafegar. Fazemos assim uma aproximação diante da complexidade deste mistério. Caminhar por eles, abre-nos um horizonte maior de nossas perspectivas no imanente e transcendente que é Deus. Compreendendo o ser imanente de Deus aquilo que tem em si próprio o seu princípio e seu fim. Já na sua transcendência, adentramos ao campo onde há um fim externo e superior a si mesmo. Desta forma, a imanência está ligada à realidade material, abstraída pelos sentidos do corpo, e a transcendência intrinsecamente ligada à realidade imaterial, de uma natureza metafísica e puramente teórica, racional. O Deus que é imanência e transcendência se faz presença viva em nossas vidas cumprindo assim a promessa feita aos antepassados.
Iniciando a semana do Natal, temos a oportunidade de refletir sobre um dos trechos mais ricos da literatura Neotestamentária. Estamos diante da narrativa do evangelista São Lucas em que ele nos traz os primeiros passos da chegada do precursor com a realidade apresentada pelo casal Zacarias e Isabel: “Não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e os dois já eram de idade avançada”. (Lc 1, 7) Para o povo da Bíblia, a esterilidade era um problema feminino. Na concepção deles, a mulher era vista como uma espécie de “terra” na qual o homem depositava sua “semente”. Isabel, além de idosa, era também estéril, sendo que na cultura judaica da época, a esterilidade era causa de marginalização. Desta forma, Zacarias poderia ter se eximido de sua responsabilidade, pois a esterilidade era um dos motivos aceitos para o divórcio.
O impossível não faz parte dos planos de Deus. Aquilo que para a humanidade foge ao horizonte do possível, Deus entra e faz a história acontecer. Do ventre estéril e desgastado com o passar da idade, Deus faz brotar a semente da vida: João Batista o profeta do impossível. Isto porque para Deus nada é impossível. Lembrando que, segundo o padrão bíblico o que deve predominar é a fertilidade e multiplicidade. Por outro lado, quem é estéril é infecundo. A infertilidade da pessoa estéril faz dela um ser infecundo, impotente, desenraizado. Isabel e Zacarias foram abençoados por Deus, como reza o salmista: “Sua esposa será como vinha fecunda, na intimidade do seu lar. Seus filhos, rebentos de oliveira, ao redor de sua mesa. Essa é a bênção para o homem que teme ao Senhor”. (Sl 128,3-4)
Mais uma vez Deus mostra a sua força atuando na história. Sua fidelidade não ficou presa ao passado, quando demonstrou a sua presença viva na caminhada do povo de Israel. Diante da realidade nua e crua daquele casal que havia se transformado em objeto de humilhação pública, Deus os faz protagonistas de seu projeto de salvação para a humanidade, pois do ventre de Isabel sai àquele que vai anunciar o Rei-Messias desde há muito prometido. Deus faz daquele casal os dignos representantes da comunidade dos pobres e oprimidos, que dependem de seu Criador. Deus se volta para esses pobres: deles nascerá João, o último profeta da antiga Aliança. João abrirá o caminho para a chegada do Messias, que iniciará a história da libertação dos pobres.
Deus sendo fiel ontem, hoje e sempre. Ele é fiel e mantém a sua palavra como fora descrito nesta passagem trazida até nós pelo profeta Malaquias: “Lembrem-se da Lei do meu servo Moisés, que eu mesmo lhe dei no monte Horeb, estatutos e normas para todo o Israel. Vejam! Eu mandarei a vocês o profeta Elias, antes que venha o grandioso e terrível Dia do Senhor. Ele há de fazer que o coração dos pais voltem para os filhos e o coração dos filhos para os pais; e assim, quando eu vier, não condenarei o país à destruição total”. (Ml 3,22-24) Lucas aplica este texto a João Batista: João é o profeta Elias que prepara o dia da justiça de Javé, realizada em Jesus. Apesar da carga de sofrimento daquele casal de idosos, Deus os fortalece e os trazem para dentro de sua história de salvação, como protagonistas de um novo tempo. Sejamos fieis ao Deus que é fiel sempre!
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.