Deus salve as mulheres!

Estamos iniciando mais uma semana. Uma segunda feira (08) que precisamos revestir-nos de muita esperança para enfrentar de cabeça erguida todos os desafios que a pandemia nos impõe. Cuidado, serenidade e precaução são as palavras mágicas que precisamos conjuntar em todos os tempos verbais, para não sermos abraçados pelo vírus, que insiste em fazer vítimas entre nós. No momento que ora escrevo, chega-me a notícia de que em todo o Estado de Mato Grosso, 59 pessoas estão à espera de um leito hospitalar. O sistema público e privado colapsou.

Apesar da pandemia, hoje é um dia especial. 08 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres. Na verdade, a mulher não tem somente um dia pra chamar de seu. Dia da mulher é todo dia! Mas hoje é o dia em que elas e nós homens, temos para combater toda forma de violência e agressividade cometidas contra as mulheres: física, moral, psicológica, sexual, crime de ódio, feminicídio. Basta de tanta violência que a nossa sociedade machista pratica contra as mulheres!

O útero de uma mulher é o único meio/caminho que temos para que possamos chegar a este mundo. É ela que nos gera para vida. Mesmo assim, não são reconhecidas nesta sua nobre missão de serem portadoras de vida. Bem faz o Povo A’uwé (Xavante), que designa à mulher a tarefa de colher os frutos que plantam. Os homens preparam a terra e fazem o plantio, mas são as mulheres que colhem, pois segundo a sua concepção, pelo fato da serem geradoras de vida, o fruto que colhem são mais saborosos, apetitosos e de melhor qualidade.

“Sem a mulher não há harmonia no mundo”, afirmou o Papa Francisco numa de suas falas. Sem a presença feminina este mundo seria muito triste e enfadonho. Não somente pela beleza que elas nos trazem, mas também pelo seu jeito maternal de ser, cuja sensibilidade, mostra-nos o coração generoso que trazem dentro do peito. Pena que elas não estão em maior número nos altos escalões que nos governam. Se lá elas estivessem, com certeza não teríamos tantas mortes neste atual momento de nossas vidas. Ah se elas estivessem presentes nos espaços jurídicos e não se fizessem masculinizadas em suas atitudes, a justiça seria outra, com certeza!

Desde muito cedo convivi e aprendi respeitar e valorizar o feminino em minha vida. Minha mãe era uma grande e valiosa mulher. Pariu uma prole de 13 filhos, sendo 10 mulheres. Nossa família era uma mulherada só. A minha personalidade foi sendo construída, sob a influência delas. Sou o que sou e quem sou porque elas me fizeram ser quem sou. Como éramos uma família católica, a primeira imagem que tive da Mãe de Jesus me veio através da minha mãe. Eu projetava em minha mãe o jeito da mãe de Jesus ser. Na minha infância, ela era a nossa guardiã para todas as horas. No seu jeito simples de ser, minha mãe encarnava em si, quem era Maria para mim. Foi ali que ouvi pela primeira vez a frase dita pela boca dela: “A mãe de Jesus é a mãe de todos nós”. Sentia-me uma criança muito feliz, pois, além de ter a minha mãe ali junto de mim, ainda tinha outra mãe, que era a mãe de Jesus.

Neste tempo que estamos passando, as mulheres estão sofrendo muito mais. Quantas delas não estão vendo os seus filhos morrerem? Quantas delas não perderam a vida, longe daqueles que mais amava? Me vem a mente aquela mãe que, sentindo que iria morrer, pediu ajuda à enfermeira e gravou um vídeo dizendo aos seus filhos que ela muito os amava e, chorando, pediu à enfermeira que fizesse chegar até eles.

“Até quando vão ficar chorando? Chega de mimimi”, diz o anjo nefasto da morte, insensível a dor alheia. Nesta hora, bem que dá vontade de sair do sério e cometer uma loucura. Mimimi, na verdade, é quando a dor do outro não dói em mim. Quando esta dor não me atinge de maneira alguma. Um dos nossos chargistas (Edu) foi deveras muito feliz ao retratar tal situação numa de suas charges. Diante de algumas cruzes fincadas ao chão a criança pergunta: “A mamãe foi para o céu papai?” Ao que o pai lhe responde: “Foi, querido”. A criança novamente: “E se eu ficar triste é mimimi?” Confesso que chorei quando vi esta charge pela primeira vez.

“Não se nasce mulher, torna-se mulher” dir-nos-ia a escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) Ser mulher é um grande desafio numa sociedade constituída de machistas inveterados, cujo patriarcado e os ditames da Casa Grande estão muito latentes. O tornar-se mulher se faz na luta cotidiana, para fazer valer os seus direitos e afirmar-se feminista empoderada, que lugar de mulher é onde ela queira estar, sendo quem quer ser. Empoderamento que teve também a “Comadre de Nazaré”. Nela, Deus se faz presente na nossa história. Na história da humanidade. Um Deus que se faz Deus conosco. Maria foi aquela que acreditou e tornou-se mulher, mesmo numa sociedade que os homens ditavam as regras. Mesmo sem compreender inicialmente o que iria acontecer na sua vida. Que saibamos também, fazer da nossa vida um sim dado a cada dia, para que o Reino possa se fazer presente através das nossas ações afirmativas de valorização destas guerreiras que temos entre nós. Deus salve estas mulheres maravilhosas geradoras de vida em todos os sentidos!