Dia D

E não é que “sextou” mais uma vez! Uma sexta-feira diferente das demais. Uma sexta-feira 13, prato cheio para os mais supersticiosos. Tem gente que delira com dias como estes. Deixam de fazer certas ações, para se preservarem, acreditam. Para um grande amigo meu, trata-se de uma sexta-feira qualquer, pois para ele, é o “dia da cerveja”. Claro que não deixará de saborear a sua cervejinha no dia de hoje. Ele sabe ser feliz assim, isto é o que importa. Não é o meu caso. Aprecio mais um bom vinho.

Estamos a caminho das eleições. Neste domingo próximo, teremos a oportunidade de exercer a nosso direito cidadão. Votar é um deles. Iremos eleger aqueles e aquelas que gestarão o poder municipal, pelos próximos quatro anos, nos 5.570 municípios, espalhados pelo Brasil afora. Oportunidade única de escolhermos pessoas responsáveis, que estejam representando e fazendo valer os reais interesses da população, sobretudo dos mais pobres. Esta difícil, neste atual contexto!

Por falar nos pobres, nos lembramos da “IV Jornada Mundial dos Pobres”, que este ano tem como lema um dos versículos do Livro do Eclesiástico: ““Estende a tua mão ao pobre”. (Eclo, 7, 32). Este dia D, que está na sua quarta edição, será celebrado no próximo domingo, dia 15 de novembro, e o Papa Francisco espera o envolvimento de toda a comunidade cristã, no sentido de estabelecer o compromisso de partilha e solidariedade para com os mais pobres. Estender a mãos aos pobres não uma atitude política apenas, mas um compromisso evangélico com a causa dos pequenos.

Ainda sobre este dia tão importante na vida do povo cristão, Francisco nos lembra que é muito difícil “manter o olhar voltado para o pobre”, mas assinala que isso é “tão necessário para imprimir a justa direção à nossa vida pessoal e social”. Trata-se de um compromisso social do cristão, o envolver-se concretamente com a vida dos mais pobres, entendendo que precisamos lutar por justiça, e contra as forças que produzem todas as formas de desigualdades e exclusão. Não basta apenas rezar, mas se comprometer por uma sociedade mais justa e fraterna.

O Papa faz um forte apelo a todos e todas, para que tenhamos uma atenção especial para com o pobre pedindo que estejamos com as “mãos estendidas”, não para beneficiarem “a riqueza de restritas oligarquias” que fazem “a miséria de multidões”, mas para lutarmos contra aquilo que ele chama de “globalização da indiferença”. “Mãos estendidas” que sejam ajuda e partilha com o pobre. Segundo Francisco, o ato de estender a mão ao pobre, faz ressaltar, por contraste, a atitude daqueles que conservam de braços cruzados e não se deixam comover pela pobreza, da qual frequentemente são cúmplices. Para estes que não se comovem com a vida dos mais pobres, mostram, por outro lado, a sua indiferença e o seu cinismo, apesar de se dizerem cristãos.

Sempre me coloquei do lado dos pobres. Até porque sou pobre também. Além do mais, sou discípulo de Pedro, que por sua vez foi um seguidor fiel do Ressuscitado. Não titubeou em momento algum. Ao contrário, através de sua radicalidade evangélica, se fez um com os pobres, contra a pobreza, durante toda a sua existência entre nós. Jamais teve dúvidas de que lado estaria, sem nenhum temor. E ainda nos alertava quanto as nossas possíveis indecisões: “Na dúvida, fique do lado dos pobres.” (Pedro Casaldáliga)

Estar do lado dos pobres é por se só uma atitude evangélica, profética. Não porque a pobreza seja uma virtude, mas porque ela é fruto de uma sociedade construída na base da desigualdade e da injustiça. Esta realidade de dor e sofrimento dos mais pobres clama aos céus. Não podemos ficar indiferentes de achar que esta situação não nos diz respeito. Nestas horas fala mais alto a realidade de dor e sofrimento de pais e mães de família que sequer tem o que comer. Neste contexto de morte planejada dos pequenos, somos desafiados a viver a nossa fé. Uma fé encarnada e embasada na Palavra de Deus que nos conclama a viver com intensidade aquilo que está escrito na Carta de João: “Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e de verdade”. (1 Jo 3, 18)