Direito a ter direitos

Segundo Domingo do Advento. O nosso caminho vai sendo desenhado com muita expectativa naquele que vem vindo. Esperar sem ficar parado, preparando o espírito, o coração e a mente para receber a novidade. O Deus que é vida e pela vida se faz vida nova em nós.

Devido aos transtornos da viagem, hoje me fiz oração neste final de dia aqui na beira deste outro Araguaia. Nada parecido com o nosso lá de baixo. O barulho ensurdecedor das músicas, o calor infernal e as águas barrentas, foi a moldura do meu diálogo com Deus em forma de oração.

Enquanto as pessoas degustavam alegremente as suas cervejas, eu não podia terminar o meu dia, sem antes deixar-me embriagar na minha pretensa arte de rabiscar. Rezar e rabiscar me fazendo sintonia com este tempo litúrgico forte, em que tudo na liturgia trama como caminho de preparação para Ele vem vindo.

Um domingo especial na história de vida de tantas pessoas, que souberam sair de si, e abraçar as causas dos direitos humanos. No dia 10 de dezembro comemoramos o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Já são 75 anos de Luta pela garantia dos Direitos Humanos a Todos, todas, todes! Como diria Hannah Arendt: “A essência dos direitos humanos é o direito a ter direitos”.

O Brasil está entre os países do mundo, que não somente nega o direito a ter direitos, como assassina a sangue frio, aqueles e aquelas que lutam pelos direitos humanos. A lista é enorme e a cada dia somos ameaçados diuturnamente pelo fato de defendermos o direito a ter direitos. Quem caminha lado a lado com os povos indígenas sabem do que estou falando. Perdi a conta das listas por onde passei.

“Minhas causas valem mais do que a minha vida”. Esta é uma das frases de nosso bispo Pedro, que nos inspira a continuar na luta, ao lado da “Testemunha Fiel”, Jesus de Nazaré, de direito em direito, de esperança em esperança. Ele é fiel sempre e caminha conosco nas quebradas da história.

Ele que no dia de hoje está sendo anunciado por um profeta radical vindo do deserto e sobre ele, Marcos assim o disse: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!” João vindo à frente do Salvador, mostrando que a partir dali, os tempos seriam outros. Não se colocou no lugar de, mas de seu lugar de fala teve a humildade suficiente para reconhecer que não era digno de desamarrar as sandálias d’Ele. (Jo 1,27)

João Batista falava e era coerente com aquilo que anunciava. Sua fala é uma grande advertência a todos nós. Ele anuncia a vinda do Messias, que vai provocar uma radical transformação. É preciso estarmos preparados, mudando o nosso jeito de ser, pensar, agir e viver. Ou então não entraremos na lógica do Reino. Enquanto vamos nos preparando, abramos o nosso coração para acolher a novidade que Deus tem para nós.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.