Terça feira da Vigésima Quarta Semana do Tempo Comum. Setembro vai ditando as coordenadas do tempo, nos encaminhando para a estação do encantamento, do renascer da natureza. “Pra que a vida nos dê flor e fruto”, como canta nosso Milton Nascimento, com o seu Coração de Estudante. A metamorfose, que é a sequência das grandes mudanças que acontecem na natureza, durante o seu desenvolvimento, é algo que nos fascina. Quem viu o pé de cajazinho, no meu quintal, agora revestido da plumagem das novas folhas, não sabe o grande período que passou, despido de todas as suas folhas, mostrando a intimidade desnuda de seus galhos.
Setembro vai avançando nos dias. A primavera já apontou na esquina dos nossos desejos de flores. Tempo ainda de lembrar que estamos no mês dedicado à Bíblia e que a “Carta aos Efésios” está na ordem do dia para ser lida, refletida e encarnada em nossas vidas de caminhantes na fé. Para os que não tiveram a oportunidade de estudar este livro/carta, trata-se de uma meditação teológica sobre o Projeto de Deus para a salvação da humanidade, sob o olhar vigilante do apóstolo Paulo. Apesar de centrar em Jesus Cristo no céu, Paulo nos mostra que Jesus não está longe e distante da realidade das pessoas no mundo. Boa leitura e bom estudo!
A humanidade de Jesus preenchida com a divindade de Deus. Jesus Cristo é a expressão máxima do diálogo entre o divino e o humano. N’Ele, Deus fez sua morada, estendendo-a à toda a humanidade. Em Jesus de Nazaré, o diálogo entre Deus e a humanidade, alcançou seu ponto mais alto e sublime. O Verbo de Deus se fez diálogo! Ou seja, em Jesus é o verbo que se fez diálogo não somente porque n’Ele Deus se comunicou com a humanidade, vivendo no meio dela, salvando, libertando, curando, mas sobretudo, porque em Jesus Cristo, o Verbo divino se une hipostaticamente à humanidade, assumindo em si a natureza humana.
Rezei nesta manhã no silencio monacal de meu quintal. A brisa suave que soprava no sorriso alegre desta manhã, se transformou num convite dileto à oração de contemplação. Contemplar a presença de Deus em cada ser, emoldurando o universo cósmico, trazendo-me não somente a presença amorosa de Deus, mas também o Filho de Deus cristificando o universo, bem na linha do pensamento teológico do padre jesuíta, teólogo e filósofo, Teilhard de Chardin (1881-1955). A humanidade presenteada com a divindade de Deus. O divino se fazendo humano em nossas mazelas, possibilitando-nos adentrar o divino em Jesus, o Verbo Encarnado. “O homem não é apenas um ser que sabe, mas é também um ser que sabe que sabe”. (Teilhard de Chardin)
Jesus humano divinizado, encontrando com uma pobre viúva, como nos relata o evangelista São Lucas no texto proposto para o hoje de nossas vidas. A humanidade de Jesus prenhe de amor, perdão acolhida, misericórdia, se encontrando com uma viúva que estava a caminho de sepultar o seu filho único. Sem marido, sem filho e sem esperança de que a vida iria lhe sorrir. O sofrimento, a dor e a angústia de uma mãe, diante daquele que veio “para que todos tenham vida abundantemente”. (Jo 10,10) Como o Filho de Deus não é apenas um intermediário entre Deus e o homem, mas é Deus e homem, divino e humano, por isso Ele toma a decisão pela vida plena daquele jovem rapaz, ressuscitando-o para os braços da mãe. O coração materno que sofre, batendo aceleradamente com o coração do filho que está mais vivo do que nunca. Mãe e filho se juntam na mesma amorosidade do divino humano que devolveu a vida.
“Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo”. (Lc 7,16) Jesus sendo visto como um profeta ao estilo dos profetas anteriores, do Antigo Testamento, e não como o Messias, o Filho do Deus Vivo. Nos fazendo lembrar da pergunta feita por Jesus no evangelho de Mateus: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? (Mt 16,13) O que importa realmente, é que Jesus, com a sua atividade libertadora, é a grande visita de Deus, que vem salvar o seu povo. Essa visita é a manifestação do amor compassivo e misericordioso, que atende aos mais pobres e necessitados, como aquela pobre mulher, órfã do marido e do filho, fazendo-a reviver na esperança. Como já dizia o filósofo Estagirita Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A esperança é o sonho do homem acordado”.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.