Divino Espírito Santo

Domingo do Dia do Senhor! Domingo da Solenidade de Pentecostes! O Ciclo da Páscoa está se fechando, com o Ressuscitado mais vivo do que nunca. Cinquenta dias se passaram e Ele não abandonou os seus. Pentecostes, festa do registro da vinda do Espírito Santo (consolador, paráclito, defensor, advogado) sobre os discípulos amedrontados, recolhidos e desesperançados. Jesus que se faz presente, coloca no meio e se dá com a paz necessária, comovente e revolucionária. Paz inquieta que provoca a ação. Paz acompanhada do Espírito. A terceira pessoa da Trindade Santa: o Espírito de Deus.

Quis o Calendário Litúrgico que este dia acontecesse neste mês especial, em que reverenciamos as nossas mães e a mãe de todos: a Mãe de Jesus. Último domingo do mês que já se prepara para entregar o bastão ao mês subsequente. Um mês de maio que termina em ebulição com as tragédias que ainda permanecem acontecendo em meio aos povos indígenas: desmatamentos, contaminações dos rios e do solo, destruição da flora e da fauna, morte de indígenas. Um cenário devastador, para quem vive diretamente em contato com está realidade, enquanto o Parlamento Brasileiro ainda continua vendo as questões ambientais como coisas de esquerdistas.

Poucos de nós estão dando conta, mas o mês de maio é um mês significativo para a nossa caminhada eclesial. Neste mês completamos oito anos de publicação e lançamento da encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco, publicada em maio de 2015. Justamente ela que trata do cuidado com o meio ambiente e com todas as pessoas, bem como de questões mais amplas de nossa relação com Deus, os seres humanos e a Terra. Não é sem razão que o subtítulo desta encíclica é “Sobre o Cuidado da Casa Comum”. É neste documento que o Papa nos traz o conceito de “Ecologia Integral”.

Uma encíclica de fácil leitura, que nos ajuda a entender a nossa relação com Deus e com o meio, de forma respeitosamente interligada. São apenas seis capítulos que, resumidamente estão assim distribuídos: 1. O que está acontecendo em nossa casa; 2. O Evangelho da Criação; 3. A Raiz Humana da Crise Ecológica; 4. Uma Ecologia Integral; 5. Algumas Linhas de Orientação e Ação; 6. Educação e Espiritualidade Ecológicas. Aos que não leram, convido a leitura para verem a preocupação de nosso Pontífice no que diz respeito à degradação ambiental e o futuro da humanidade.

Mas estamos em Pentecostes. Um dia para ser lembrando como o grande impulso para a caminhada eclesial dos seguidores e seguidoras de Jesus. Neste dia a liturgia sempre nos apresenta o mesmo Evangelho (Jo 20.19-23), seja nos anos A, B ou C do Período Litúrgico. Ao contrário do que poderíamos imaginar, segundo o relato Joanino, Jesus não esperou cinquenta dias para se manifestar aos seus. A cena ocorre no dia mesmo da Ressurreição: “Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles”. (Jo 20,19)

O clima é hostil. Incertezas, desânimo, medo, insegurança. Mas um fato importante e primordial e determinante aconteceu: eles não se dispersaram, mas estavam reunidos juntos num mesmo lugar. É certo que ainda muito incertos e com medo das autoridades dos judeus. E não era para menos, uma vez que a crueldade que fizeram com Jesus, fizeram também com todos aqueles e aquelas que com Ele se identificavam. Percebendo o clima reinante, Jesus se coloca no meio deles e se faz um com eles, não trazendo a paz, mas sendo Ele mesmo esta paz: a Paz que Sou, Eu lhes dou! Jesus faz questão de mostrar que as características do Crucificado estão presentes no Ressuscitado. O que quer dizer que só se chega ao Ressuscitado se passarmos pelos crucificados, mas tendo presente em nós a força do Espírito Santo.

Nosso bispo Pedro gostava de nos dizer que “o Espírito Santo tem duas asas. De um lado, o Espírito nos leva à oração, à interioridade, à paz. De outro, ele nos leva à ação, ao compromisso, à luta. O mesmo Espírito, dos dois lados! Nunca nos leva às nuvens, à indiferença, à omissão. Sempre é ‘o Espírito da Verdade’, ‘o Pai dos Pobres’, ‘o Espírito da Vida’, ‘Ventania e Fogo’. O medo impede a ação. O medo impede o anúncio e o testemunho. Foi por isso que Jesus soprou sobre os seus e sobre nós o sopro do Divino Espírito de Deus. Todos trazemos em nós esse Divino Espírito, que se manifesta na variedade de dons que recebemos de Deus. A aceitação ou recusa deste amor de Deus, trazido por Jesus, é o critério fundamental de discernimento que nos leva a tomar consciência da nossa fé comprometida com o Reino. Como diria São João da Cruz: “O Verbo Filho de Deus, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, está essencialmente e realmente escondido no íntimo de cada ser”.


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.